Vi o debate na TVI 24 e foi um debate de arrebimba: dois lutadores, dois seres inteligentes, aguerridos até ao fim.
A Catarina Martins pode falar, falar, e, na prática, não concretizar nada. Por obra e graça acha que consegue o perdão da dívida (e era bom que se conseguisse e que todos os grandes devedores europeus, em vez de andarem cada um à sua, se unissem e pugnassem por isso pois a solução, mais tarde e mais cedo, se calhar encapotadamente, acabará por passar por aí - mas só quando e se os credores o quiserem) e é com esse ovo no cu da galinha que o BE, basicamente, faz a festa. Vende sonhos e ninguém lhos cobra.
António Costa sabe que não pode jogar no campeonato da fantasia, pelo que é sólido, caminha sobre números, a sensatez e o pragmatismo enquadram a sua conversa e, claro, perante uma Catarina Martins, padeira de aljubarrota de narizinho empinado, quase parece um conservador. Mas não é um conservador qualquer porque tem sangue na guelra, desmonta argumentos, esgrime-os de gosto - e, vê-se, fá-lo com uma certa delicadeza, gosta de a ver lutar mas não a quer atirar ao tapete. Um cavalheiro.
Ela ouve-o de gosto, vê-se que a inteligência argumentativa e segura dele lhe dá pica, dá-lhe vontade de o desmontar. Dar uma coça no Passos Coelho é uma brincadeira de crianças, qualquer gato pingado o faz. Mas aguentar uma luta com o Costa não é para qualquer um e o sentir-se em campo, de pé, dá-lhe uma pedalada que a faz crescer.
Ele olha para ela e acha-a inteligente, uma guerreira, e acha-a bonita e sente-se todo cheio de élan para a provocar nem que seja para a ver a dar-lhe luta. O confronto verbal com uma mulher inteligente, bonita e com um sorriso sedutor é estimulante para qualquer homem (ao que consta...).
O que eu digo, depois de assistir ao debate, é que, num Governo PS, daria jeito uma mulher de armas como ela - disso eu não tenho dúvidas.
Acho que há ali uma química e no PS (e o Costa, em concreto), se forem espertos, no pós-eleições, deitarão a mão à irreverência e ao espírito de lutadora desta surpreendente Catarina Martins, uma verdadeira tomba-leões. Daria uma bela e competente ministra - e tem o carisma que torna vibrantes os governos. Além do mais, agora que já não usa aquela franjinha radical pelo meio da testa e que anda toda fashion, toda arranjadinha, está mesmo gira.
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* Os trapinhos políticos, bem entendido!
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2 comentários:
É sempre um prazer. Ler.
Também vi o debate, embora tenha retirado conclusões diferentes. Uma dessas conclusões é a de que o debate permitiu, graças à Coordenadora do BE, expor algumas das fragilidades de António Costa e deste PS (e do seu programa). Quer se goste ou não, Catarina Martins tem-se revelado uma das mais eficazes, melhor preparadas e articuladas líderes partidárias do nosso universo político. É inteligente, acutilande e não teme ou se intimida com nenhum adversário. Por muito que António Costa tenha tentado colocar Catarina Martins num patamar “radical”, que, em minha opinião, não corresponde à realidade – se há alguém radical, esse alguém é o governo anti-social PSD/CDS – ou mesmo desmontar as teses do BE, por serem irrealistas, ou contrárias às práticas da UE (eu diria “ditames” do Eurogrupo), não teve sucesso. Ficou-me até a impressão de que estava a ouvir alguém do governo, em versão soft. As questões suscitadas por Catarina, como por exemplo da TSU, propondo um corte, ou do regime consiliatório (que mais não é mais do que uma negociação que visa o despedimento do trabalhador), ou do congelamento das pensões (que acaba por ser um corte pois durante esse período o governo PS não irá travar vários outros aumentos, como o da electricidade, água, transportes, medicamentos, produtos alimentares, etc) são pertinentes e Costa não foi capaz de a rebater, justificando-as com explicações que não convencem. Outro tipo de questões, como o Tratado Orçamental, que é um ultraje e haverá que concordar com o que diz sobre essa questão Viriato Soromenho-Marques no seu livro “Portugal na queda da Europa, ficaram por esclarecer por António Costa, que, perante tão grave atentado à soberania de qualquer Estado da EU, rabiou, em vez de o pôr em causa, de forma categórica, como fez Catarina. Quanto às tais nacionalizações da EDP, REFER, etc, ali invocadas por Costa, atacando Catarina, trata-se de recuperar que é nosso. Catarina foi igualmente feliz na resposta a Costa sobre como pagar uma eventual nacionalização da banca, se a memória não me falha, ao propôr pagá-las com o “pêlo do cão” (já Champalimaud o tinha feito, ao recuperar o seu Banco de forma idêntica, embora mais malévolal, ao pedir emprestado dinheiro e no fim de semana seguinte comprar o banco com esse empréstimo). Em resumo, Catarina Martins, com aquela assertividade que a caracteriza, acabou por expôr um Costa como uma alternância, em vez de alternativa, ou seja, um modelo político que não irá mudar o estrago de 4 anos do governo PSD/CDS, mas tão só reparar esses estragos (em vez de um automóvel novo depois de um acidente, fica-se com o mesmo vindo do bate-chapas). Costa não disse se tem coragem para aumentar o IRC da Banca, se acabará de vez com o apoio do Estado ao ensino privado (como fez este governo), em vez de canalizar esses milhões para melhorar a qualidade do ensino público, o mesmo quanto aos apoios estatatais ao sector privado da saúde, com prejuízo da saúde pública (como fez este governo), se vai aumentar o período de recepção do subsídio de desemprego, do que fazer com os desempregados acima dos 45/50 anos (em vez de centrar apenas nos jovens). Costa é uma aposta política melhor do que a Coligação? Sem dúvida! Mas, não chega. Costa no dia em que se vir aflito politicamente irá recorrer a alianças como o PSD/CDS. Não fará acordos à sua esquerda.Isto porque os separa menos do que aquilo que os distancia do resto da esquerda. Foi isso que sobressaiu no debate. E foi por isso que Costa o perdeu. Catarina venceu-o porque obrigou Costa a revelar-se. Acredito que Costa seja isento, mas é um político que não fará mudanças, como as que se exigem. Faltou-lhe brilho, o que Catarina tem, em abundância. Costa é um político do Centrão. Não gosta de abanões políticos. Ao contrário de Catarina que tem outro programa que legitimamente aspira a ser poder se lhe derem os votos necessários.
P.Rufino
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