No post abaixo já manifestei a minha alegria pelo justo Prémio Camões que foi atribuído a Hélia Correia. Uma mulher completa, feita de palavras e de amor à liberdade e à língua portuguesa.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
Vejo os blogs de homens debruçados sobre o que interessa ou não numa mulher, se é a beleza exterior ou a interior, se o nirvana está aqui ou acolá e se o que interessa mais é que ela saiba estar ou esforçar-se por ser o que já foi ou sobre amores, desamores, pequenos nadas que tanto importam, e outros apontamentos soltos do mesmo género.
Pensam que são eles que escolhem as mulheres, os pobres homens. Não são. Pensam que serão melhor sucedidos se souberem muita teoria sobre mulheres, os pobres homens. Não serão. O papel deles pouco mais é do que mostrarem-se para que as mulheres possam fazer a sua escolha.
O que importa é que agradem às mulheres -- e eu vou explicar quais os pârametros que ajudam a compor esse agrado.
O que importa é que agradem às mulheres -- e eu vou explicar quais os pârametros que ajudam a compor esse agrado.
* Nota: A bem do rigor, o que aqui vai ser dito não resulta de um estudo científico. Vou falar apenas por mim e por umas e outras que conheço pelo que não garanto que a amostra seja representativa. Mas é cá um feeling que tenho que, mais coisa, menos coisa, é isto que as mulheres querem.
Tantas vezes que já aqui dissertei e exemplifiquei com alguns casos práticos em que, só de olhar para eles, já a gente vê o que vem lá dentro -- mas, com vossa licença, vou repetir-me.
Tantas vezes que eu já aqui escrevi sobre qual a minha receita de homem mas é de gosto que volto a dizer quais os requisitos mínimos. Qualquer dia junto tudo e publico um livro -- tudo descritinho: deve ser assim, assado, frito e assado, inteligente e bom carácter, claro, consistente e equilibrado, meiguinho mas não lamechas, muito menos melga, moreno**, bem moreno, mãos grandes, passada franca, de preferência alto, claro que o tamanho não é tudo mas, para mim, prefiro os altos, e deve saber dar um bom abraço, um abraço nem forte demais que nos deixe escaqueiradas, nem a medo, que até parece um enjoadinho, deve saber olhar nos olhos mas não abusadamente ou, se o for, que seja para valer, e deve ter sentido de humor, sentido de humor é do mais fundamental que há, achar graça ao que a gente diz, e fazer-nos rir, e ser irreverente mas não armado em parvo, surpreendente mas não feito esperto, e bem vestido mas nada de fatinho de riscas, botãozinho de punho também é melhor que não, que não há paciência para um arturzinho assim, e deve ser descontraído mas não desleixado e deve ter aprumo mas não muitas nove horas na cabeça, e deve ser educado mas não uma alicinha, e deve ser sensível mas não uma maria amélia, e deve ler que se farte mas deve poupar-nos a cinquenta mil citações por hora e deve ser pragmático, terra a terra, prosaico e gostar de futebol mas sem ser tarado pelo dito mas, ao mesmo tempo, deve ser capaz de nos surpreender dizendo um poema (ou, vá lá, um bocado de poema) e deve estar ao corrente com o que se passa no mundo e na política nacional e deixar-nos de boca aberta por mostrar que aprecia a natureza ou até as flores dos jacarandás mas deve ser contido na apreciação, nada de exclamaçõezinhas próprias de mariazinhas, porque a todo o momento deve mostrar que é muito homem, mas nada de se dar ares de marialva ou machista, isso nunca, embora uma ou outra piada só para fazer género e fazer convergir sobre si uma raivinha inocente não faça mal nenhum, e era bom que soubesse dançar mas, enfim, se não der para tanto, então que goste de nos ver dançar, que mal há em sermos uma private dancer, e que gastronomicamente esteja sintonizado connosco que isto de um gostar de sushi e o outro abominar, e um gostar de ir a tascas alambazar-se com feijoada e o outro gostar de saladinhas gourmet é coisa condenada ao desastre, e que, oh please, não seja um fundamentalista em coisa alguma e que, por exemplo, experimente provar gin com pepino que sabe tão bem, e encare como natural colaborar de igual para igual nas tarefas domésticas e que se enterneça com os risos das crianças e que fale a mesma linguagem -- que isto de um dizer tomato e outro perceber potato é outro desastre pela certa -- e que saiba perceber a ternura e amor que há nos cães, que são gente como nós, e que goste de ouvir uma boa música e puxe por nós para que possamos encostar-nos no seu peito enquanto ouvimos uma bela ária, uma boa pianada de jazz, ou violino, ou mesmo a Melody Gardot ou o Leonard Cohen, tanto faz, boa música é boa música, que durma longe de nós na cama quando está muito calor mas que se ponha em posição de conchinha quando nos apetece um calorzinho humano, e que aceite uma crítica com bonomia e tolerância e que também nos critique se for caso disso mas não como retaliação e que, se o pedirmos, nos dê a sua opinião sincera sobre a roupa que vestimos ou a maquilhagem que usamos e que, tirando isso, demonstre que aprecia o que vê, e demonstre que percebe o felizardo que é por poder chegar tão perto de nós e que saiba, mas saiba mesmo, que para as mulheres ele não é um dado adquirido, a todo o momento o podemos dispensar e que, portanto, é bom que se esforce, nos conquiste, nos conquiste a sério, em cada pequeno gesto, em cada palavra, em cada sorriso, em cada olhar.
Antes de me atirar de novo aos ensinamentos, começo por mostrar alguns exemplares que me parecem muito bem.
António Fagundes, um clássico: quanto mais velho, mais interessante (como acontece com quase todos os homens) |
Clive Owen - Belo, bad guy, bela voz. Irresistível. Daqui por uns anos estará, certamente, ainda melhor |
Tantas vezes que eu já aqui escrevi sobre qual a minha receita de homem mas é de gosto que volto a dizer quais os requisitos mínimos. Qualquer dia junto tudo e publico um livro -- tudo descritinho: deve ser assim, assado, frito e assado, inteligente e bom carácter, claro, consistente e equilibrado, meiguinho mas não lamechas, muito menos melga, moreno**, bem moreno, mãos grandes, passada franca, de preferência alto, claro que o tamanho não é tudo mas, para mim, prefiro os altos, e deve saber dar um bom abraço, um abraço nem forte demais que nos deixe escaqueiradas, nem a medo, que até parece um enjoadinho, deve saber olhar nos olhos mas não abusadamente ou, se o for, que seja para valer, e deve ter sentido de humor, sentido de humor é do mais fundamental que há, achar graça ao que a gente diz, e fazer-nos rir, e ser irreverente mas não armado em parvo, surpreendente mas não feito esperto, e bem vestido mas nada de fatinho de riscas, botãozinho de punho também é melhor que não, que não há paciência para um arturzinho assim, e deve ser descontraído mas não desleixado e deve ter aprumo mas não muitas nove horas na cabeça, e deve ser educado mas não uma alicinha, e deve ser sensível mas não uma maria amélia, e deve ler que se farte mas deve poupar-nos a cinquenta mil citações por hora e deve ser pragmático, terra a terra, prosaico e gostar de futebol mas sem ser tarado pelo dito mas, ao mesmo tempo, deve ser capaz de nos surpreender dizendo um poema (ou, vá lá, um bocado de poema) e deve estar ao corrente com o que se passa no mundo e na política nacional e deixar-nos de boca aberta por mostrar que aprecia a natureza ou até as flores dos jacarandás mas deve ser contido na apreciação, nada de exclamaçõezinhas próprias de mariazinhas, porque a todo o momento deve mostrar que é muito homem, mas nada de se dar ares de marialva ou machista, isso nunca, embora uma ou outra piada só para fazer género e fazer convergir sobre si uma raivinha inocente não faça mal nenhum, e era bom que soubesse dançar mas, enfim, se não der para tanto, então que goste de nos ver dançar, que mal há em sermos uma private dancer, e que gastronomicamente esteja sintonizado connosco que isto de um gostar de sushi e o outro abominar, e um gostar de ir a tascas alambazar-se com feijoada e o outro gostar de saladinhas gourmet é coisa condenada ao desastre, e que, oh please, não seja um fundamentalista em coisa alguma e que, por exemplo, experimente provar gin com pepino que sabe tão bem, e encare como natural colaborar de igual para igual nas tarefas domésticas e que se enterneça com os risos das crianças e que fale a mesma linguagem -- que isto de um dizer tomato e outro perceber potato é outro desastre pela certa -- e que saiba perceber a ternura e amor que há nos cães, que são gente como nós, e que goste de ouvir uma boa música e puxe por nós para que possamos encostar-nos no seu peito enquanto ouvimos uma bela ária, uma boa pianada de jazz, ou violino, ou mesmo a Melody Gardot ou o Leonard Cohen, tanto faz, boa música é boa música, que durma longe de nós na cama quando está muito calor mas que se ponha em posição de conchinha quando nos apetece um calorzinho humano, e que aceite uma crítica com bonomia e tolerância e que também nos critique se for caso disso mas não como retaliação e que, se o pedirmos, nos dê a sua opinião sincera sobre a roupa que vestimos ou a maquilhagem que usamos e que, tirando isso, demonstre que aprecia o que vê, e demonstre que percebe o felizardo que é por poder chegar tão perto de nós e que saiba, mas saiba mesmo, que para as mulheres ele não é um dado adquirido, a todo o momento o podemos dispensar e que, portanto, é bom que se esforce, nos conquiste, nos conquiste a sério, em cada pequeno gesto, em cada palavra, em cada sorriso, em cada olhar.
E isto é só para começar.
** - Gostos não se discutem: eu gosto de morenos mas, cá para mim, o texto aplica-se muito bem também a louros.
Permitam que, de novo, o refira: no post abaixo dou os parabéns a uma pessoa de quem gosto muito e que acho que muita justamente recebeu um grande prémio: o Prémio Camões para Hélia Correia.
** - Gostos não se discutem: eu gosto de morenos mas, cá para mim, o texto aplica-se muito bem também a louros.
___
Permitam que, de novo, o refira: no post abaixo dou os parabéns a uma pessoa de quem gosto muito e que acho que muita justamente recebeu um grande prémio: o Prémio Camões para Hélia Correia.
____
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.
E, para homens e mulheres, os meus votos de bué de felicidades.
...
5 comentários:
Receita para o desastre comigo: ela servir-me sushi, acompanhado de Gin com pepino e, cereja em cima do bolo, ligar-me a TV para um canal onde passa um jogo de futebol.
Que texto divertido…embora, como homem, a ler com a tenção.
Deixo-lhe aqui um pequeno texto.
Resto de bom dia:
“Na ampla esplanada daquele elegante hotel, ao fim da tarde, uma tarde cálida de início do Verão, os convidados daquele evento conversavam uns com os outros, em tom animado. Isabel, num elegante vestido vermelho, de alças, que deixavam a descoberto os braços bem desenhados, olhava distraidamente o mar, ao fundo, onde se viam alguns veleiros, numa marcha vagarosa, mal escutando o que à sua volta os outros diziam. E, de repente, voltou-se, quando lhe perguntaram a sua opinião sobre uma qualquer trivialidade. David, que a vira ao longe, tinha-se aproximado do grupo onde se encontrava. Não a conhecia, mas a beleza suave dela, com aqueles cabelos claros sobre os ombros e o vestido vermelho, chamaram-lhe à atenção. Tentaria conhecê-la. Foi quando, ao voltar-se, sem se ter apercebido da presença dele ali perto, chocou com ele e, ao fazê-lo entornou o copo de vinho, tinto, que ele tinha nas mãos, sobre o seu elegante vestido. Ficou sem palavras. Tinha sido culpa dela. Ainda lhe pediu desculpa. David, elegantemente, insistiu que a responsabilidade era dele e, vendo-a desesperada, com o seu belo vestido manchado, disse-lhe: “venha comigo, vamos dar solução a essa situação.” Levou-a a uma boutique do hotel e propôs-lhe que escolhesse um novo vestido e uma vez escolhido que iriam colocar o vermelho na lavandaria do hotel, com pedido de urgência, a fim de o poder levantar no dia seguinte. Isabel acabou por aceitar, com uma condição: “este vestido é alugado, digamos. Devolvo-o amanhã, quando vier buscar o outro à lavandaria”. E escolheu um de cor verde-esmeralda. “Fica-lhe igualmente muitíssimo bem!”, comentara ele. Durante a festa veio a conhecer melhor David. O que foi facilitado por terem calhado ficar na mesma mesa. Ao fim do jantar, dançaram juntos. No dia seguinte, conforme combinara, Isabel foi buscar o vestido vermelho. E de seguida, foi entregar o outro. Para sua surpresa, a senhora da boutique explicou-lhe que o vestido já estava pago e que era uma oferta do cavalheiro, “que aliás deixou aqui para si um ramo de flores e um envelope”. Isabel, ainda mal recomposta, abriu o envelope e leu o cartão: “Se vieres ter comigo, dar-te-ei mil beijos, depois cem e depois outros mil! David.”
P.Rufino
Ora bem. Boas escolhas!!!
Vivamos, Lésbia minha, e amemos.
A má-língua dos velhos mais sisudos
para nós não valha mais do que um tostão.
Podem os dias morrer e nascer:
quando a breve luz de vez morrer
noite perpétua devemos juntos dormir.
Dá-me beijos mil, e depois cem,
e depois mil outros, e depois mais cem,
e depois ainda mais mil, e depois cem.
Depois, quando muitos dermos,
baralhá-los-emos para não sabermos quantos,
ou não possa homem mau invejar-nos
ao saber que quantos beijos demos.
Beijos Mil - Catulo
Como ontem cheguei tarde a casa, depois de um jantar com amigos, acrescento agora este outro comentário. Quando mencionei essa frase, “dá-me mil beijos, depois cem e depois outros mil”, estava a pensar exactamente em Cátulo, que aqui Rosa Pinto nos recorda, neste seu belo poema. Em boa verdade, a frase que mencionei está de algum modo reduzida, pois é mais extensa, como refere o poema que aqui nos é lembrado. A Lésbia do poema era Clódia, o seu verdadeiro nome, por quem Cátulo se apaixonou de forma obsessiva (aparentemente, Clódia tê-lo-ia rejeitado, mais tarde). Natural do que é hoje Verona, Cátulo foi um dos grandes líricos Romanos, vivendo já próximo do final da República, deixando uma obra que fez com que seja considerado, ainda hoje, um dos maiores líricos do Amor, de sempre. Foi líder de um movimento de Poesia, “Novos Poetas” (“Neoterici”). Gostei bastante deste momento de poesia, único, que aqui Rosa Pinto, sempre sensível em matéria de poesia, nos trouxe. Bem-haja!
Já que se fala de amor, recordaria uma outra frase, ou frases, no caso, dito por uma mulher, Juliette Drouet, que foi amante de Victor Hugo (que lhe foi infiel várias vezes, mas ela perdoava-lhe), deixando o teatro para se juntar a ele, por quem se apaixonou perdidamente e amou até á morte. Disse ela um dia, numa das inúmeras cartas que lhe escreveu e que ficaram para a posteridade, “Querido Victor, quero que me beijes até morrer, é o tudo o que quero!” No seu túmulo, pode ler-se o que ela quis deixar escrito e que exprime bem os seus sentimentos para com o grande Homem de Letras francês: “O Mundo fica com o teu pensamento, eu fico (ou levo comigo) o teu amor!”
P.Rufino
Juliette Drouet manteve acesa a chama da paixão e do amor, apesar de..
Levou, sem dúvida, o seu amor por Victor Hugo.
Enviar um comentário