Manhã de passeio pela beira do rio. No elevador da Boca do Vento mais um valente (ou maluco...?) preparava-se para se atirar. Volta e meia é isto.
Bungee jumping na Boca do Vento sobre o Ginjal |
No outro dia, já nem sei se era a propósito disto, a minha filha dizia que uma coisa qualquer haveria de ser boa para mim, já que eu gostava tanto de voar.
E gostava mesmo. E sonho. E tenho tal e qual a sensação de voar, deixo-me ao sabor do vento, a planar, mudo de direcção, sinto o vento. Mas uma coisa é voar e outra é cair a pique, uma pessoa despenhar-se, que é o que acontece com isto do bungee jumping
Geralmente, quando se atiram, os corajosos gritam como uns capados, gritos lancinantes de quem sente o terror e não tem como fugir dele. Mas este não. Atirou-se com suavidade, discreto, o rio tão azul quase a seus pés, e ele a balouçar-se em silêncio. Deve ter sido bom, deve ter aproveitado melhor do que os que gritam desesperadamente.
Fiquei a vê-lo e a fotografá-lo até que o cabo se imobilizou e ele foi descido até a terra firme.
Muito corajoso e muito sóbrio. Nunca tinha visto uma coisa assim, parecia um anjo negro silencioso.
Lá em baixo um gato escondia-se do sol, negro, olhos cheios de luz, e igualmente silencioso.
Este é um lugar abençoado, onde se podem esconder os que procuram a sombra e o silêncio, onde podem voar os que querem sentir o que sentem os anjos que voam sobre o mar, onde eu posso andar, transparente, invisível, aspirando a maresia e sentindo os outros seres invisíveis, feitos de palavras, que andam junto a mim, dentro de mim.
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Lá em cima, de Erik Satie a Gnossienne No.4
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Lá em cima, de Erik Satie a Gnossienne No.4
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