terça-feira, maio 19, 2015

O senhor subcomissário bateu no adepto benfiquista à frente dos filhos? Pois não vou falar disso. Sou contra a violência. Sou a favor do amor. Diz André J. Gomes, um verdadeiro pipoco nestas coisas do amor: O amor é para os atrevidos, deixe de coisa e vá buscar o seu. Ninguém sofre de amor, a gente sofre é quando ele falta. Quanto mais amor a gente tem, mais medo a gente sente.


Os media andam doidos, cheira-lhes a confusão com futebol à mistura, coisa do melhor que há.

À falta de tremores de terra, naufrágios ou atentados bombistas, descarrilamentos ou atropelamentos, roubo de esticão, provocações passistas, sms para maria-amélias,
(e andando a ministra-loura de bico calado, o c-rato tão disfarçado de bom menino e todos os outros tão caladinhos, tudo na moita a ver se a gente se esquece deles; 
e sendo já um déjà-vu que o Super-Judge Alex esteja em todas tal como que o Prof. Marcelo comente sobre tudo e apresente livros em todo o lado, ambos a comprovarem que a ubiquidade é um dom com que foram abençoados, mais omnipresentes que Deus nosso Senhor) 
atiram-se como cães a bofe à confusão armada no fim do jogo do Benfica. Os polícias bateram nos adeptos, os adeptos bateram nos polícias e o frenesim que isso gera nas redacções é uma festa. Mas não é só nas televisões, é também nos jornais online. Já nem é tanto aquilo do Benfica ter ganho o campeonato que interessa, é mesmo o furdunço que houve a seguir.

O momento mais épico aconteceu quando a polícia bateu num senhor à frente dos filhos e do pai. O BE já pediu explicações, o senhor sub-comissário diz que o pai das crianças ameaçou cuspir-lhe, a criança já não quer jogar futebol, toda a gente esqueceu o menino que apanhou estalos ou o outro das orelhas grandes, agora toda a gente se concentra na tareia que o senhor levou. 


Note-se que não estou a sub-valorizar o episódio -- que acho a todos os títulos lamentável -- mas sim a desviar-me da forma histérica como a comunicação social repete até ao enjoo imagens de violência, quase a banalizando, quase banalizando a forma como toda a gente é levada a manifestações de repúdio instantâneas que apenas duram até à próxima.

E agora, enquanto escrevo, já estão os comentadores todos num excitex, animadésimos, uns contra uns, outros contra outros, advogados, ex-ministros, tudo opina minha gente, tudo disserta sobre leis, sobre moral e sobre costumes - e já ninguém quer saber das crianças que assistiram à violência sobre o pai ou do pai que assistiu à violência sobre o filho.

Ora quem sou eu para me pôr a competir com tão ilustres opinadores...? Ninguém.

Viro para a RTP1, Prós e Contras, a Fátima Campos Ferreira tão dramática, invasiva e grandiloquente como sempre. Falam da desregulação do trabalho. Até poderia ser interessante mas a esta hora estou sensível, ouvidos sensíveis, alma sensível, toda eu a precisar de paz e sossego, vozes em pianíssimo. Por isso mudo-me.


A seguir é o FMI que quer mais austeridade, parece. Não se sabe se é a Lagarde -- o Blanchard não é de certeza -- talvez seja o Subir, quiçá até o careca. Mas não vou comentar, que aqueles lá gostam é de jogar aos jogos de soma nula, um diz uma coisa, outro diz logo a seguir o contrário. Uns brincalhotos.


E aí vou, eu, portanto, tentando em vão descobrir alguma coisa que se aproveite. Mas qual quê? Só disto.

Por isso, com vossa licença, vamos mas é dar uma voltinha ao jardim dos amores.


Pipoco e uma namorada no metro - a arte antiga nos tempos modernos


Descobri, na Revista Bula, um cronista mesmo à maneira: sabe do amor à brava e partilha o que sabe, nada destes nossos experts, mais doces ou mais salgados, que gostam de se armar em bons, apregoando conhecimentos, conquistas aos molhos, e, com ar displicente falam de decotes assim, decotes assado, e, como se desdenhassem, vão deixando cair umas dicas de quem supostamente é grande connaisseur na matéria, minhas senhoras para aqui, minhas senhoras para acolá - mas de onde nunca sai ensinamento útil ou dissertação que possa fazer escola.

Pois este André J. Gomes parece saber do que fala e escreve com aquele torrãozinho de açúcar nas palavras que faz a prosa rolar gostosa, não se limitando ao título ou a duas ou três frases soltas que chamam clientela mas que insinuam mais do que fundamentam. Não, aqui o André percorre com sabedoria todos os caminhos do amor: a insegurança, o medo, a persistência. Tudo. No que abaixo transcrevo limito-me a extractos de três crónicas mas tem lá para um tratado das paixões da alma.

E não estou a brincar, concordo com tudo aquilo que ele diz. Capaz de toda a gente concordar que, quando a prosa é solta, a gente gosta mesmo que seja só por gostar e, enfim, nisto também já não há muito a inventar.







O AMOR É PARA OS ATREVIDOS. DEIXE DE COISA E VÁ BUSCAR O SEU



Então fica assim. Para o bem de todos os amantes, para a saúde de todo ser amado, quem quiser um amor verdadeiro vai ter de ir buscar. Esse negócio de esperar no sofá, a TV ligada, o olhar perdido, a vida em estado de suspensão por longos fios de baba enquanto a pessoa perfeita não vem, tudo isso fica revogado até segunda ordem. Desista que do céu não vai cair.

Quer amor? Levante e vá buscar. Não tem delivery, compra por catálogo, encomenda, disque-pizza. Não se pode pedir pela Internet. Faça por merecer!

Aos distraídos de boca aberta, os encalhados na correnteza, os pesos mortos e os zumbis sentimentaloides só chegam moscas, mariposas, lesmas, vermes e outros pequenos bichos. O amor é para quem sabe o que quer e, sobretudo, para quem sabe o que oferecer.

É para quem se atreve, se arrisca e se lança. Para os que ousam devolver o prato mal feito e o que mais não serve, para os insubordinados e os insatisfeitos, aqueles que procuram sem fim. Procuram até achar. E se acaso encontram e perdem de novo, retomam a busca sem frescura.




NINGUÉM SOFRE POR AMOR. A GENTE SOFRE É QUANDO ELE FALTA



Quem já andou de amores por aí sabe bem do que se trata. Entende como funciona. Sentir amor é a maior sorte que a vida nos dá. Do sentimento amoroso brota um mundo inteiro de possibilidades novas, vontades honestas, intenções felizes, projetos abençoados. Do amor vem todo o resto.

O amor nos empurra para a frente, nos leva adiante. Faz nascer em nós razões irresistíveis e toda sorte de desejos, ímpetos e motivos para romper amarras mesquinhas, vencer torcidas contrárias, superar encalhes derrotistas, evoluir, melhorar. E merecer mais amor.

Aos sortudos escolhidos na roda dos acasos, o amor chega trazendo fortuna. Melhora a pele, desopila o fígado, clareia a vista. Amor jamais segura, não atravanca e nem atrasa. Amar faz bem e ponto.

Sentir amor faz de nós bombas atômicas ambulantes, reagindo em cadeia aqui e ali com outros seres amorosos, varrendo a terra de ternuras. Quem sente amor o espalha pela vida, transborda o mundo de festa. É o que nos salva da sanha dos patifes, invejosos, cretinos, estúpidos e patetas tão dedicados a distribuir descaso e apatia e desamor.

Amar o ser amado, um ofício, uma ideia, um sonho, não importa o quê. Amar faz bem e só. Sempre! Quando faz “mal”, como acontece a quem ama e não se sente correspondido, já não é amor. O que machuca quando o amor não é recíproco é a frustração, a carência e esses sentimentos decorrentes da indiferença do outro. Não o amor.

Isso também acontece com o amor não declarado, não vivido: o que castiga é a ansiedade, a aflição, a espera do que nunca vem. Não o amor. 

(...)

Ninguém sofre de amor, não. A gente sofre é da falta dele. Amar nos dá sorte. Enche os olhos de sonhos e os dias de esperança. Quem ama não faz jogos. Ama simplesmente. Jogos são para apostadores. Amor é para os amantes.

(...)



QUANTO MAIS AMOR A GENTE TEM, MAIS MEDO A GENTE SENTE



Quem tem amor tem medo. Eu tenho. Todo mundo tem. É assim mesmo, sempre foi. Uns têm mais. Outros, menos. Outros tantos, quase nada. Tem ainda os que morrem de pavor mas vivem negando. De qualquer jeito, toda criatura que sente amor, toda alma que já amou alguém na vida também já sentiu medo.

(...)

É medo de ver o amor acabar como acabam a água, o leite, a comida da despensa. Medo de não ter para onde ir buscar mais. Medo da sombra que paira no olhar da pessoa amada depois do riso, medo de não ser aceito, medo das conversas pontuadas de silêncios tensos.

Também tem o medo da insegurança que vira e mexe nos acomete e, por ironia suprema, nos afasta de quem amamos pelo simples pavor de perder.

Há quem sinta medo de deixar o medo travar-lhe as pernas e endurecer-lhe o coração. Medo de se permitir paralisar. E tem aqueles que sentem medo de não perceber o óbvio: aos que amam, o medo é um aviso sublime. É o alerta divino para cuidar do amor. É a consciência de que o ser amado pode partir, de que o amor periga fraquejar ninguém sabe quando. Então é melhor amá-lo agora e amanhã e depois e depois e depois. Só assim o medo esmorece. E se esconde no escuro solitário do porão.

Amor é sentimento irmão do medo. Quem tem um, tem o outro. Pode ser pouco, pode ser muito. Mas há sempre um medo repousando no coração dos amantes. Ou para que serviria a tal coragem de quem ama se não há medo nenhum a enfrentar?

Então, que o amor nos venha cheio de medos inevitáveis. Que venha! É melhor viver com amor e sentir medo que morrer de medo e viver sem amor.

(...)


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O eterno ele-ela


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  • A música lá em cima é Fadinho de António Chainho com Marta Dias
  • A primeira imagem é photoshop puro, uma pintura de antanho transposta para uma estação de metro, da autoria do ucraniano Alexey Kondakov.
  • As restantes ilustrações são aguarelas de Elena Romanova
  • As crónicas completas, estas e outras, de André J. Gomes podem ser vistas na Bula.
  • O bailado está a cargo de The Nederlands Dans Theater, numa coreografia de Jiří Kylián
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia muito feliz.

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6 comentários:

Anónimo disse...

Ola ujm, hoje surpreendeu-me pela negativa. Para falar no episodio de guimaraes da forma como fez, olhe, ficava melhor nao ter falado. A leveza com q falou no assunto foi estranha.
Não a tinha por tão insensível a injustiças, mas a ujm é q sabe... até ía sugerir q visse o filme com alguma atençao, mas não, não se incomode, afinal qual é o problema daquelas crianças?... nenhum, ora. Manuela ( q habitualmente gosta muito de a ler)

Um Jeito Manso disse...

Bom dia Manuela,

Começo por agradecer o seu comentário e para lhe dizer que, incomodada que estava com o aproveitamento mediático do episódio, foquei-me naquela histeria noticiosa e cometi o mesmo erro, nem referi a violência do episódio em si, especialmente por os miúdos terem presenciado tudo. Já inseri a ressalva no texto.

Mas o que me incomoda nisto tudo é que a exploração mediática é tão intensiva, tão exagerada, que leva à banalização e leva a que as pessoas só se interessem pelos acontecimentos até que surja o próximo pois surge sempre de tal forma avassalador que anula os acontecimentos anteriores.

E, nesta sucessão de ondas esmagadoras, as pessoas vão de indignação em indignação sem se deterem verdadeiramente no que está por detrás de tanta violência quotidiana.

Vai-se da canal em canal e as mesmas imagens são exibidas até ao cansaço. E, hoje, amanhã ou depois, farão o mesmo com outra coisa qualquer e mais ninguém se vai lembrar de nada disto, como já não se fala do miúdo que foi gozado num programa de televisão ou do que foi esbofeteado e filmado por colegas.

Às tantas acho que se deve fazer uma pausa, parar de falar, parar para pensar. Não nos deixarmos ir na onda.

Só isso.

Mas, de qualquer forma, volto a dizer: agradeço o seu comentário. Nem sempre é fácil encontrar as palavras certas para nos demarcarmos do que nos parece errado.

Desejo-lhe um bom dia, Manuela.

FIRME disse...

Em qualquer desporto,a superioridade de um atleta ou equipa,deve ser vista aplaudida e
apreciada,dentro do recinto apropriado...Quando essa superioridade ,tenta ser demostrada na rua,dá nisto! Um qualquer distraído,ao ver "AQUILO",poderia perguntar se estavam a comemorar uma VITÓRIA,ou a descarregar a frustração de uma DERROTA !Foi feio DEMAIS!Quanto á PSP,não perde a oportunidade para "TREINOS REAIS" ...PARA OS PRÓXIMOS TEMPOS ...Veremos !

Anónimo disse...

Vamos lá a ver. Esta história do tal agente da PSP tem tido a dimensão que teve porque se trata do Benfica. Se fosse outro Clube, o FCP, Sporting, para já nem falar do Penafiel, Rio Ave, Moreirense, etc, o impacto teria sido totalmente diferente. A porcaria da imprensa que temos, como sabe que existem muitos adeptos do Benfica resolveu dar uma projecção à coisa que até mete nojo! Durante dias não se falará de outra coisa. Só neste patético país, em que a porcaria do futebol tem uma dimensão cultural que aflige! O que a malta gosta é da bola, da Teresa Guilherme, das novelas, dos concursos televisivos, etc. E do Benfica. Daí a exploração miserável do incidente. Num país normal, o assunto era mencionado com a menor referência e publicidade possível ao clube (no caso o Benfica), o agente era alvo de um inquérito e se fosse o caso, como tudo indica, punido e se calhar expulso da corporação policial. E pronto, não se falava mais disto. Mas não, é o Benfica! Porra para o Benfica e para o futebol! Quanto ao FMI, o que propõe é abjecto, o que não espanta vindo daquela organização “para-criminosa”, pois tem como objectivo o empobrecimento de populações inteiras, de reduzir à miséria países inteiros, ou quase, pois as minorias ricas, não fazem parte do alvo do FMI. Ou seja, aquela vil organização, vem propôr salários mais baixos, a revogação do actual limite do salário mínimo, cortes substanciais no Estado, nas pensões, reformas, na Educação (como é que um país se levanta sem ter uma Educação de qualidade?), nos funcionários públicos, seus salários e carreiras (e aqui pergunto, como estimular essa gente? Que se espera quando se corta nos seus salários, na progressão das suas carreiras e ainda os obriga a trabalhar mais horas? Entretanto, esses malfeitores do FMI ganham fortunas em salários e ainda no final de alguns anos (nenhum trabalha ali 40 ou mais anos) apenas levam para casa reformas chorudas. E vivem magnificamente. Tudo isto à custa dos contribuintes dos países que integram o dito Fundo. Alguns deles a viver miseravelmente. Ou sob austeridades insanas, ditadas pelo tal FMI. Isto é obsceno. Enfim, é o capitalismo dos nossos dias. Uma monstruosidade! Que, todavia, merece o apoio deste degradante governo e Presidente. Quanto ao amor, de que aqui fala e para não me alongar mais, deixo uma frase romântica do poeta Romano Cátulo (pintado pelo polaco Stepan Bakalovich), que cantou o Amor: “…dá-me mil beijos, depois cem, depois outros mil!”
P.Rufino


Anónimo disse...

Não deixar ir na onda tem muito que se lhe diga. Se fosse eu que tivesse levado os meus netos, se um deles se estivesse a sentir mal, eu o trouxesse ca para fora e viesse um grunho de um polícia incomodar-se connosco até me espancar e marcar para sempre as crianças, Ai menina UJM, acabava-se o meu sossego, acredite.Sabe que mais? abençoada televisão e abençoadas redes sociais. Quantas cenas destas já não aconteceram sem que se soubesse? Sabe que há uns 30 anos, saía eu do trabalho, completamente estafado e sem que conseguisse evitar, tive de passar perto de uma manifestação que não estava a correr nada bem. Eu era jovem e não queria confusão, vi os casos mal parados, tinha de apanhar o comboio, tentei correr mal saí da porta da empresa. Azar o meu, pois levei com um bastão de um policia que me partiu uma mão e me deu cabo de um pulso. Ainda hoje não consigo segurar nada com a mão esquerda. Ficou assim, ninguém viu, não foi ninguém. Se fosse nos dias de hoje não teria ficado assim. Havia mais hipóteses de se ter filmado, por exemplo. Que as televisões impolam as coisas, pois impolam, mas este caso´é demasiado mau para se 'deixar andar', como é mau a pilhagem do armazém pelos adeptos, como é mau a chacota do jovem e como é ainda mais mau o assassinato do outro. Há muito a fazer para evitar a violência? pois há, mas a que existe não pode ficar escondida, no segredo dos deuses, como se não fosse nada connosco.
Obrigada por me ter deixado desabafar, por me ter deixado escrever aqui.
Zé Augusto

Anónimo disse...

pensei que este pais já tinha aprendido algo, mas não.
será que se fosse um adepto de outro clube, alguem ligava à suposta agressão.claro que não.....
agora só falta dizer que se calhar foi tudo encomendado pelo Sr Pinto da Costa ah! ah! ah!