Depois da loucura alegre, pintada de absurdo e despida a preceito no post abaixo, para equilibrar (porque há quem se encandeie quando vê o destempero estampado no rosto dos outros), eis que entra agora a felicidade em azul-triste dos que um dia pensaram amar-se. Podia vir temperada por saudades, esta felicidade azul, temperada por doces nostalgias, por promessas rasgadas como perfumadas cartas românticas, por lágrimas escondidas, recordações de vozes de veludo, olhares atraentes como doces abismos. Mas não, não vem temperada. Vem nua. Límpida. Livre. Voando sobre o dorso das aves, dançando alegremente sobre os rios, esmagando espelhos, correndo como cavalos azuis nas calçadas luzidias da noite, espalhando sóis e soltando asas feitas de palavras loucas.
Se a tua vida se estender
Mais do que a minha
Lembra-te, meu ódio-amor,
Das cores que vivíamos
Quando o tempo do amor nos envolvia.
Do ouro. Do vermelho das carícias.
Das tintas de um ciúme antigo
Derramado
Sobre o meu corpo suspeito de conquistas.
Do castanho de luz do teu olhar
Sobre o dorso das aves. Daquelas árvores:
Estrias de um verde-cinza que tocávamos.
E folhas da cor de tempestades
Contornando o espaço
De dor e afastamento.
Tempo turquesa e prata
Meu ódio-amor, senhor da minha vida.
Lembra-te de nós. Em azul. Na luz da caridade.
Canção das mãos
que ficaram na minha cabeça.
Eram tuas e pareciam asas.
(...)
O que foi feito
da ternura dos que amaram...
Ficou na minha cabeça,
mas tuas mãos que pareciam asas.
Que pareciam asas.
Canção das mãos
que ficaram na minha cabeça.
Eram tuas e pareciam asas.
(...)
O que foi feito
da ternura dos que amaram...
Ficou na minha cabeça,
mas tuas mãos que pareciam asas.
Que pareciam asas.
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[Pausa para que termine a límpida música de Abdullah Ibrahim]
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E agora, em azul: No es por ti
Abdullah Ibrahim: The Song is My Story (e mil vezes obrigada ao Leitor que me tem dado a conhecer música tão maravilhosa)
O tango em azul é dançado pelo Grupo Corpo - "No es por ti" de Ernesto Lecuona, numa interpretação de Zoraida Marrero e com coreografia de Rodrigo Pederneiras.
O primeiro poema e um excerto de outro são de Hilda Hilst (1930 – 2004)
A primeira imagem é Yellow-Red-Blue de Wassily Kandinsky (1866 – 1944)
A segunda é Entre guerre et paix de Marc Chagall (1887 – 1985)
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Post scriptum
Pois bem, explico.
Post scriptum
E sobre a politicazinha pequenina e rafeirolas desta coligaçãozeca laporiana e portista que nos desgoverna à grande e à francesa, já não se diz nada aqui pelo Um Jeito Manso?
- perguntar-me-ão os Leitores que não são dados a frescuras.
Pois bem, explico.
É verdade, confesso: tenho andado sem vontade de comentar a actuação deste governo miserável. Para mim é já quase como se fosse carta fora do baralho, é uma gente que não tem maneiras, que não sabe quando é chegada a hora de se levantar da mesa, gente que se arrasta mesmo quando a festa já acabou, que aí estão querendo ainda privatizar coisas às três pancadas, gente desqualificada da pior espécie. Aumentaram a dívida, os níveis de desemprego, arrasaram com o investimento, expulsaram do país uma parte importante da população, atentaram contra a esperança e o sossego mental dos que ficaram. Mas, pior que isso, tem sido o manto de lama pantanosa, de miséria moral, de falta de vergonha na cara, de ignorância impudica. Têm trazido a política para o chão mais conspurcado, onde a palavra de nada vale, onde a honra é o que as agências de comunicação quiserem que seja, onde os números significam uma coisa e o contrário. Envergonha-me ser governada por gente desta laia. Por isso, dizer mais o quê? Que já não os posso ver à minha frente? Mas isso já vocês estão carecas de saber, certo? (sem ofensa para os carecas, claro está).
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Relembro que no post já aqui abaixo há do bom e do bonito.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta-feira em grande, feliz e boa, boa, boa.
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1 comentário:
Tal qual me sinto...
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