sábado, março 21, 2015

A solidão de Ricardo Salgado


No post abaixo já deixei, em vários fascículos, a minha receita de homem e já mostrei um vídeo com uma selecção premier do tipo de homem considerado mais bonito em cada um de vários países onde o casting decorreu.

Mas isso é a seguir e, se calhar, deveria ficar-me por aqui, que isto é fim de semana, não é tempo para uma pessoa se desgastar com assuntos sérios. Mas, enfim, tenho vontade de dizer o que se segue.




Várias vezes aqui falei de Ricardo Salgado, do BES, do GES e de Carlos Costa (tão elogiado pelos papagaios das televisões e jornais quando eu já aqui tão abertamente o criticava).

O meu texto que até hoje teve mais visitas (mais de 23.000) versava justamente as relações do Grupo Espírito Santo com a envolvente, nomeadamente com os media. Um outro, em que falei das castas e dos empregados dos senhores da terra mereceu igualmente um número significativo de visitas.

Sobre a gestão em empresas como as dos Espíritos, a PT e outras, que adoptam todo o tipo de modas, que estão permanentemente assessoradas por consultores de todas as cores e paladares e que recebem toda a gama de prémios de excelência também já aqui falei muitas vezes. É minha opinião que, com alguma frequência, quanto maior o aparato, menor a substância e menores as verdadeiras competências de gestão.
E que pessoas do calibre de João Duque se enganem tanto tantas vezes, também só diz da presciente inteligência, passe a quase redundância, do João Duque e das pessoas que ele gaba e a quem, uma vez caídas em desgraça, insulta.

Voltando a Ricardo Salgado (e que não diferirá muito do que acontecia com Henrique Granadeiro, Zeinal Bava e tantos outros). Pessoas habituadas a um abastado nível de vida, que se repartem entre reuniões, visitas, recepções, têm, forçosamente, que tomar grande parte das decisões apenas pela rama, confiantes de que há quem lá esteja a acautelar. Ora, não raras vezes, na prática, há uma delegação de poder muito descontrolada, muito poder disperso por outsourcings e consultorias e, de facto, deixa de haver tempo e apetência para análises cuidadas, para verdadeiramente pôr as mãos na massa. Quem acaba por pôr e dispor são muitas vezes quadros de segunda linha, gente ambiciosa que quer mostrar serviço, ainda sem grande competência e experiência e com um não muito apurado sentido ético de gestão.


Ricardo Salgado, oriundo de uma família que Portugal inteiro reconhecia como ungida pelo divino Espírito Santo, amigos de reis e presidentes, ele mais do que habituado a meter políticos e jornalistas no bolso, ter-se-á habituado, com o tempo, a tudo poder. Para tal, é sabido que sempre contou com solidariedades estrategicamente colocadas e pareceres de advogados de todas as especialidades. Através de contratos de tudo e mais alguma coisa, grande parte das empresas que lhe poderiam ser hostis estavam dominadas (empresas de auditoria, de consultoria, órgãos de comunicação social, por exemplo). 

Daí até se tornar normal socorrerem-se de toda a espécie de estratagemas, grande parte deles legais (por exemplo os que são enquadrados por esse ramo da ciência que dá pelo nome de optimização fiscal) não vai passo nenhum. Faz parte. E daí até se arranjar maneira de haver prestações de serviços, para canalizar verbas para empresas dos accionistas, também não vai passo nenhum. Faz parte. Remunerar principescamente accionistas e os gestores au pair claro que também faz parte. Uns precisam dos outros.
Pôr o dinheiro lá fora, qual o mal? Trazê-lo de volta e usufruir de benesses fiscais, perfeito. 

E tudo está bem enquanto vai bem.

Mas para a frente dos negócios com uma expansão razoável, em que é preciso contratar gestores para estar à frente de actividades espalhadas por diferentes geografias, nem sempre se pode garantir que é tudo gente do mais sério que existe. E neste jogo de facilitismos, toma lá mas depois abre-me esta porta, e ok, agora sou eu, amanhã és tu, começam as teias a ensarilhar-se.

E, uma vez mais, tudo está bem enquanto vai bem.

Mas eis que vem a crise, a liquidez a secar, a economia a baquear, as insolvências a multiplicarem-se, os créditos malparados a dispararem, as imparidades a imporem-se, as baixas de rating a complicarem tudo, os consequentes  juros mais altos e, aí, a coisa começa a descontrolar-se. Se há, e sempre há, gestores menos leais ou menos sérios, geralmente é por aí que a coisa começa a romper-se.

Mas, até certo ponto, parecia não ser fatal: too big to fail, sempre se disse.


Mas a coisa não correu bem: as coisas a complicarem-se e o pânico a instalar-se à vista desarmada.  Poderia ter havido pés na terra, sangue frio. Mas não. Na banca a confiança é o principal activo. Fazer de conta que tudo está bem para que o dinheiro não comece a fugir, parece ter sido o que norteou até ao fim Ricardo Salgado.

Para fazer de conta, mais estratagemas. E mais estratagemas para ocultar os estratagemas. A isto, como é sabida, chama-se fuga para a frente. E a fuga, neste caso, foi até ao abismo.

E tudo se passou debaixo do supostamente apertado escrutínio da troika, do Banco de Portugal e da CMVM, já para não falar dos auditores e revisores de contas, e debaixo de loas à excelência da gestão e da solidez financeira por parte de grande parte da comunicação social, da universidade, do Governo e, até, do Cavaco.

E depois tudo mudou. A queda foi súbita e descontrolada. Todos os que antes tinham avalizado o que se passava, lhe tiraram o tapete. Um grupo com um prestígio centenário ruíu debaixo da maior ignomínia, o banco foi incompreensivelmente (ainda hoje não percebo) estraçalhado, e, perante a debandada geral de ratos, um homem ficou sozinho: Ricardo Salgado.

O leopardo ficou sozinho no salão de baile.

Que houve ali graves erros de gestão e certamente alguns actos dolosos isso parece claro e os processos vão decorrer nos tribunais apropriados para ajuizar tal. E, em minha opinião, é aí que deverão decorrer, no recato normal, com respeito pela dignidade dos visados.

Ou seja, que Ricardo Salgado agiu mal parece não haver dúvidas. Mas que, com ele, muitos outros também agiram muito mal também não tenho. E que uma parte importante da responsabilidade pelo ruinoso e absurdo desfecho deve ser atribuída ao Banco de Portugal também não tenho.

Mas, como sempre acontece nestas ocasiões, aqueles que antes incensavam Ricardo Salgado, ao verem que os ventos viraram, vêm agora, quais abutres, comer a carniça, tripudiar, humilhar.

Já o disse aqui algumas vezes: não sei para que serve a Comissão Parlamentar de Inquérito. Aquilo mais me parece um julgamento popular sob os holofotes da populaça, um vergonhoso pelourinho - e carrascos não faltam.

Assistir àquilo a que assisti na sexta feira durante o bocado em que vi televisão revolveu-me as entranhas. Não gosto de ver humilhar ninguém. A forma como em especial Carlos Abreu Amorim se dirigiu a Ricardo Salgado pareceu-me uma total afronta à dignidade de uma pessoa que está a passar por momentos dramáticos. Ter 70 anos, ter perdido tudo incluindo o seu bom nome, e saber que vai passar os últimos anos da sua vida a penar pelos tribunais e provavelmente a viver numa cadeia não é coisa que se deseje a ninguém e Ricardo Salgado sabe que é isso que o espera. Será correcto que alguém aproveite tal fragilidade para o pisar, para lhe cuspir em cima?


É certo que Ricardo Salgado ainda tem a sua casa e dinheiro para garantir o desafogo financeiro dele e da família enquanto tantos inocentes ficaram sem as poupanças de uma vida. Mas, para isso, devem os culpados ser encontrados, julgados e, se for caso disso, condenados, garantindo-se na medida do possível a indemnizações às vítimas.

Expor uma pessoa à humilhação de se ver insultada, gozada, ofendida em público não resolve nada, apenas degrada ainda mais a forma como a sociedade portuguesa se vai entregando à indignidade.

Não nutro nem nunca nutri simpatia de qualquer espécie por Ricardo Salgado e claro que acho que, se se vier a provar que foi culpado de crimes, então deve pagar; mas uma coisa vos digo: se eu pudesse de alguma forma poupá-lo ao que se passou na Assembleia da República eu faria qualquer coisa para o conseguir.

E outra coisa vos digo: mais valia que, em vez de a matilha andar tão encarniçada em volta de Ricardo Salgado, houvesse uma atenção a sério para garantir que a permissividade e a balda que permitiram que isto acontecesse não ia voltar a acontecer. E isso não vejo eu.

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A música é o Adagio de Albinoni por David Garrett

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Para receitas de homens e para homens bonitos de todas as cores e feitios, é descer, por favor, até ao post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.

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6 comentários:

Rosa Pinto disse...

Uma vergonha. E vou morrer sem perceber porque neste meio hectare de terra existe tanto compadrio. é o salve.salve.se quem puder. E como mudar?

Anónimo disse...

Concordo. Acho que pior que o Ricardo Salgado há muitos. Ele, através de alguns meios menos recomendáveis, tentou salvar o barco, acabando por afundar dois (GES e BES). E tem-se defendido, tem explicado algumas coisas, ainda que não tudo, naturalmente. Tem mantido uma postura digna na CPI. Diferente do Zeinal (uma vergonha!) ou do Ricciardi. Mas também lhe digo que, se me tenho em demasiado boa conta para achar que não desceria ao nível de um Carlos Abreu Amorim, também acho que não deixa de ter o seu lado bom que haja tipos como ele e que seja merecido sofrer as humilhações que os antigos bajuladores vêm infligindo a Salgado. Porque se pessoas como Salgado têm o privilégio de destruir como destruíram, arranjando forma de se safar (aos milhões que foram desviando em nome de familiares em contas no estrangeiro, por exemplo), ao menos que sofram na pele as vargastadas dos ex-bajuladores, dos medíocres. Quem é DDT para os medíocres bajuladores , também há de ser ex-DDT para os mesmos medíocres, agora humilhadores.
Bom fim de semana,
JV

Anónimo disse...

Ah e outra coisa: descobrir que o adágio do albinoni afinal não era do albinoni foi um dos maiores desgostos da minha vida!
JV

FIRME disse...

O leão,mata toda a família,come vão dormir uma "soneca",veem as hienas,que devoram os RESTOS...Guinchando de prazer.Confesso que sou dado a "confiar",até que me provem o contrário!Anjinho não sou,mas é arrepiante,ver COBARDES,que pela calada engordam,contas barriga e as OLHEIRAS,façam por alí de justiceiros...AMORINS DE NEGRAIS,disfarçados só me recordam os RÁPIDAMENTE,convertidos aos princípios do MFA...A 26 de ABRIL...E a malta gritou...MORTE AO FASCIMO E A QUEM O APOIAR...E a revolução começou...a ACABAR...Só durou até 1 de MAIO.Depois ...já todos sabemos...DUM LADO OS QUE ROUBAM do outro...OS que AJUDARAM,JULGAM! E temos a arraia miúda,que tenta...perceber. OS juízes,tem um leão enjaulado,para mostrar,que trabalham...PARA QUEM MELHOR PAGA...E os cofres encheram-se naturalmente !

lino disse...

O Abreu Amorim é o escroque!
Beijinho

Anónimo disse...

O Amorim é um monte de esterco. Agora o Salgado que se deite na cama que fez. E aquelas Comissões Parlamentares não servem para (quse) nada. Será que o Justiça aproveitrá dali alguma coisa? Tenho dúvidas.
P.Rufino