sexta-feira, dezembro 19, 2014

Le Donne. L'Union libre. [Mulheres, agentes provocadores, roupa de cama, poesia]


No post abaixo mostrei o homem mais caliente da actualidade e ai de quem diga o contrário que eu não estou cá para aceitar tal desfeita. Mostrei-o de várias maneiras para que toda a gente possa aferir a justeza do meu juízo. (Claro que o meu marido e filhos virão dizer-me que juízo é coisa que eu não tenho mas eu não levo a mal, estou habituada a ser incompreendida).

Enfim, o Gandy do meu coração é só a seguir. 

Aqui, agora, viro o bico ao prego, e o foco é outro, que eu não quero que se pense que me esqueço de que entre os Leitores do Um Jeito Manso, há um público pouco dado a apolíneas divindades, preferindo antes apreciar camas (de preferência com mulheres dentro).




Houve mulheres serenas,
de olhos claros, infinitas
no seu silêncio,
como largas planícies
onde um rio ondeia;
(...)
outras, pálidas, cansadas,
devastadas pelos beijos,
mas reacendendo-se de amor
até à medula,
com o rosto em chamas
entre os cabelos oculto,
as narinas como
asas irrequietas,
os lábios como
palavras de festa,
as pálpebras como
violetas.
E houve outras ainda.
E maravilhosamente 
eu as conheci.




Minha mulher com seios de crisol de rubis
com seios de espectro de rosa sob o orvalho
Minha mulher de ventre a entreabrir-se como o leque dos dias
de ventre de garra gigante
(...)
Minha mulher de olhos de savana
minha mulher de olhos de água para beber na prisão
Minha mulher de olhos de lenha eternamente sob o machado
de olhos de nível de água de nível de ar de terra e de fogo.






As imagens referem-se à Colecção Home do Agent  Provocateur 
- roupa de cama, lençóis sumptuosos, almofadas macias, cobertas de suave caxemira.




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Os primeiros excertos pertencem ao poema 'As mulheres' (Le Donne, 1903) de Gabriele d'Annunzio

Os segundos pertencem ao poema 'A União Livre' (L'Union libre, 1931) de André Breton.


Ambos foram traduzidos por David Mourão-Ferreira e podem ser vistos em Vozes da Poesia Europeia - III, Colóquio Letras nº165

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Para  validarem a minha escolha e verem o contemplado com o galardão UJM para o Hottest Man/2014  é descer, por favor, até ao post seguinte.

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3 comentários:

Rosa Pinto disse...

Dá a Surpresa de Ser
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela tivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem Ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como ?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Rosa Pinto disse...

Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

Anónimo disse...

Excelente Post. Onde desencanta estas imagens? Gostei da poesia. Bem como a que Rosa Pinto nos revelou aqui, de Pessoa e Mourão-Ferreira.
Pelo que vejo, já mais animada, estará em fase de recuperação quase total, como dizia outro dia uma comentadora aqui.
P.Rufino