segunda-feira, dezembro 15, 2014

Feijoada e início da plantação da horta em casa do meu filho. E livros, livros da vida. E um post antigo que está a receber um número invulgar de visitas.




A minha filha, no sábado ao fim do dia, estava eu e o meu marido a vir de casa dos meus pais, perguntou-me o que estávamos a pensar fazer este domingo. Respondi-lhe que idealmente nada, que adoraria ficar em casa estendida a ler o jornal.

Ainda não estou boa, longe disso, começo a temer que algum osso se tenha mesmo estalado, e depois, por um motivo ou por outro, há sempre coisas para fazer que me impedem de cumprir o repouso que sinto que seria benéfico. Como desde há uma semana que estou a trabalhar, não consigo evitar estar parte do dia sentada, ter que entrar e sair do carro (coisa que me custa) e outras actividades simples mas, para mim, ainda dolorosas. Depois, na sexta-feira à hora de almoço foi a apresentação das actividades à família do mais crescido (1º ano) e eu quis ir e foi tão bom, tão bom, vê-lo tão responsável, tão contente; e ele, a seguir, até porque eu quis que ele se sentisse orgulhoso nisso, andou a mostrar-me a escola, o que envolveu lances de escada para cima, para baixo, piso desnivelado, sobe e desce pelos recreios e, portanto, lá me desconjuntei um bocado mais. Mas, enfim, como não gosto de fazer o papel da entrevadinha, lá ando a fazer de conta que estou quase bem, embora a passada ainda esteja lenta e meio deficiente e, sobretudo, um bocado penosa.

Dado o sábado de trabalhos esforçados que tive (conforme descrevi no post seguinte), estava mesmo a apetecer-me um domingo de dolce fare niente. Mas ela sugeriu: também se combinarmos qualquer coisa de uma ou duas horas à tarde, tens o resto do dia para estar em casa. Concordei, mas que logo se via.

Entretanto, o meu filho que é hiperactivo e tem uma mulher que forma uma equipa perfeita com ele, alinhando nos seus excessos, combinou para este sábado um almoço com amigos de trabalho e curso. Ao todo 17 pessoas. A casa ainda em parte a precisar de arrumação, candeeiros ainda por pôr, uma casa de banho ainda metade por fazer, etc, e eles, na boa, já com vontade de lá ter amigos. Mas percebo-os: esta casa tem sido um projecto de vida e eles muito naturalmente orgulham-se dela. Para o almoço fizeram feijoada e, para os mais pequenos (cinco), frango assado no forno com arroz. Tudo cozinhado por eles. Incluindo o feijão.

Ao contrário de mim que sempre usei feijão de lata, eles compraram feijão seco, puseram-no de molho, cozeram na panela de pressão. E, para grande espanto deles, o feijão cresceu, cresceu, cresceu.

Por isso, à noite, depois de eu ter falado com a irmã, por telefone contou-me que comeram que se fartaram mas que tinha sobrado tanto que já tinham congelado três caixas de feijoada e que ainda lá tinham uma enorme tachada. E, portanto, perguntava se não queríamos lá ir almoçar e que ia também dizer à mana. Ou seja, este domingo lá estivemos outra vez  todos juntos, agora já lindamente instalados na casa de jantar, amesendados para uma farta almoçarada: restos das entradas que os amigos tinham levado e a bela feijoada, gostosa e farta, as carnes, os enchidos e o feijão no ponto, e, diz quem comeu, frango também bem bom.

É um prazer ver como o que parecia impossível se tem vindo a concretizar, e tudo de uma forma harmoniosa, despretensiosa e feliz. Quando a casa estava em obras e lá íamos ajudar ao fim de semana, eu levava farnel para o lanche e toda a gente lanchava sentada na escada, muitas vezes com as mãos mal e porcamente lavadas, pois os pimentinhas vinham de mexer na terra e eu lavava-lhes as mãos com a mangueira mas a coisa nunca ficava perfeita. E agora as obras praticamente acabaram e já estivemos em volta de uma grande mesa, dentro daquela casa tão bonita, em que a luz entra por todo o lado.

Mal o almoço acabou (e já se sabe que são sempre demorados estes almoços, muita conversa, muita animação), antes que escurecesse ou se pusesse mais frio, o meu filho comunicou à brigada dos pimentinhas que havia trabalho na horta. De manhã, eles tinham ido a um mercado já nem me lembro onde e compraram rebentos de coisas para plantar: alface normal, alface roxa, couves. E tinham sementes.



Então lá estiveram todos a trabalhar, a abrir as pequenas valas, a plantar, a pôr sementes em vasinhos, etc.


Só aqui tenho a pequena dona da casa com o seu primo mais novo porque o maninho e o primo mais velho ficaram sempre de frente nas fotografias mas, enfim, acho que dá para perceber a atenção que dedicam a estes trabalhos e como se sentem úteis e se portam de forma responsável. Uma graça.



Depois o mais crescido foi perguntar à tia se não tinha feito bolo e ela disse que não mas que, se ele quisesse, podia ir fazer um e perguntou se ele queria ir ajudá-la. Claro que quis. Mais uma tarefa - fica todo entusiasmado de cada fez que tem uma incumbência. Um belo bolo de cenoura e iogurte de banana feito com 1/3 de farinha de trigo e 2/3 de farinha de aveia. Estava delicioso, macio, sentindo-se levemente o crocante da aveia. Comemo-lo ao lanche, ainda morninho. E uma vez mais, já estava a anoitecer, havia aquele cheiro bom das casas de família, cheiro a bolo de forno, a torradas com manteiga a derreter. Acompanhei com um belo chá perfumado. Pelo meio, antes disso, ainda fui a um chinês comprar um tapete para pôr antes da escada para não a sujarem nem encherem de terra o tapete que está à entrada da cozinha e a minha filha ainda lá comprou umas pantufas para cada um. Depois, o meu marido, o meu filho e a princesa mais linda foram ao Leroy ver se compravam um aquecedor e, com isto tudo, a verdade é que só cheguei a casa depois das 7 da tarde.

Claro que não me cansei, nem um pouco, mas a verdade é que só há bocado é que consegui ler o Expresso, e mesmo assim, deixando várias coisas de lado. Daqui a nada é meia noite e eu já estou é a pensar no que esta segunda-feira tenho que fazer, muita coisa, e eu sem saber bem para que lado me virar, e gostava de ter alguma concentração para pensar num tema interessante para trazer aqui e estou nisto.
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A música lá em cima é Memórias do Rodrigo Leão e escolhi-a porque estou certa que os meus queridos pimentinhas vão guardar as melhores, melhores, memórias destes dias tão felizes em que estão juntos, neste ambiente familiar tão simples, em que trabalham, contactam com a natureza, em que se sentem úteis e sempre tão amados.
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Há pouco, ao espreitar as estatísticas, reparei que um post escrito há muito tempo, há sensivelmente dois anos, estava a receber muitas visitas. Chama-se "Silêncio e tanta gente. Troco a minha vida por um dia de ilusão". Fui ver, reli. Já nem me lembrava de o ter escrito mas gostei. Como será que alguém descobriu um texto escrito há tanto tempo? Presumo que o tenha divulgado entre conhecidos. É engraçado isto. Estarão a gostar de ler? O que pensarão da forma como escrevo? E fiz acompanhar esse post pela voz da Maria Guinot em 'Silêncio e tanta gente', essa canção tão bela e agora estive a ouvir e gostei tanto, que canção tão bonita.

E fiquei com saudades de escrever este género de coisas, de ficcionar, de me pôr na pele de outros. A ver se retomo.
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Tinha em mente ainda escrever hoje um post sobre livros, talvez com algumas sugestões para presentes, mas estou com tanto sono que não é agora que vou começar uma coisa dessas. Mas também não gosto de recomendar livros. Muitas vezes, falo de autores de que nunca ninguém ouviu falar e as pessoas ficam a olhar de esguelha para mim, como se eu estivesse a milhas do que está a dar. Depois, caridosamente, dizem-me, Olhe, como gosta tanto de ler, já leu o último de Fulano de Tal? E avançam com nomes de livros de que nunca ouvi falar, escritos por autores que acho que jamais lerei e eu digo que não e as pessoas desatam, no maior entusiasmo, a engrandecer a qualidade da coisa e, quanto mais falam, mais eu tenho a certeza de que nem que me pagassem. No outro dia, uma até me disse que eu era preconceituosa por afirmar que os meus gostos andam por outros hemisférios sem ter lido e, portanto, sem saber se não estava a cometer uma injustiça. Respondi que sim, que talvez seja preconceituosa. É que basta que o livro esteja nos tops de vendas, ou na prateleira da literatura fantástica ou do romance histórico ou que tenha uma capa de treta para eu passar ao largo. Outros, que estão em sítios que enganam, iludem-me e levam-me a folheá-los mas basta fazer uma diagonal em duas ou três folhas para ver a indigência que ali vai. Ora, sendo o meu tempo tão escasso, qual o sentido de o desbaratar com tretas? Mas não posso dizer isto assim, tal e qual, não posso ser tão explícita não vão as pessoas ficar ofendidas pois elas gostam e a elas parece indiscutível que se goste daquilo. Por isso, não gosto de falar sobre livros com a maior parte das pessoas que conheço.

Mas, enfim, logo vejo. Estava tentada a dizer que livros comprei para oferecer mas isso não pode ser, eles liam isto e deixava de ter graça.

Não é fácil.
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Estive a pensar. Custa-me ir dormir sem que vos deixe aqui hoje alguma coisa em concreto e, por isso, em vez de ser eu a recomendar livros, partilho convosco a voz de duas escritoras que aprecio muito e que recomendam aquilo a que se poderá chamar 'livro da vida' delas. Dá gosto ouvi-las a falar de livros.


Os livros da vida de Maria Teresa Horta




O livro da vida de Hélia Correia



(Gosto tanto de ouvir falar de livros.)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Ao reler aquele seu excelente Post de 2012, “Silêncio e tanta gente…”dei-me conta de que este seu Blogue já existe há mais tempo do que eu me recordava. E vi que alguns Leitores habituais de então, bastante simpáticos e com interessantes comentários (como por exemplo Antonieta, Joaquim Castilho, etc) foram, por qualquer razão, deixando de aparecer. É pena. Oxalá regressem e com a mesma boa disposição.
Faz bem em retomar esse tipo de escrita descritiva, contista. E se um dia se dispuser, publique tudo isso e o que mais lhe ocorrer.
Por mim, nas horas livres, vou escrevinhando o que me ocorre e um dia se verá.
Quanto à casa que seu filho está a recuperar, tenho para mim, que já mudei umas poucas de vezes de casa, que se há coisas que me estimulem é o refazer, ou reconstruir, ou dar vida (arranjando-a, mobilando-a, etc) a uma casa. Daí que compreenda entusiasmo do seu rapaz e nora.
Meu filho mais novo também tem queda para a agricultura e já temos comido uma couves flor, alfaces, cenouras, etc por ele produzidas, até o dito piripiri, pelo qual me pelo – embora apenas em determinados pratos, como por exemplo a dita feijoada (ou frango, porco, este desde que não seja proco-preto, pois adultera por completo o sabor extraordinário desse tipo de carne).
E por falar em cozinhados, está-me a apetecer um dia destes um bom cozido à portuguesa (que no Inverno apetece).
Entretanto...as melhoras!
P.Rufino

FIRME disse...

Hoje estou espirado...Ao ver os seus pimentinhas,recordei o meu pai,que me dizia...quem não semeia/planta,NUNCA COLHE...Alertou-me ,porém...Prepara a terra ,bem! Senão as ervas ruins destroem tudo !!! HOJE 52 ANOS PASSADOS,Parece ter tudo voltado atrás...Só o meu pai não voltou!!!Vamos ver de certeza que a terra dos pimentinhas,foi bem preparada.