sexta-feira, novembro 14, 2014

Sobre os Vistos Gold, sobre as detenções de 11 altos funcionários do Estado, sobre a regozijo da Ministra da Justiça e sobre a impunidade que agora, com ela, acabou e sobre as demissões que ela aconselha, e, finalmente, sobre estes tempos que regurgitam aberrações por todos os cantos e esquinas


No post abaixo, relembro Manoel de Barros, poeta de minha afeição, que neste dia 13 se foi embora. Deixou-nos, no entanto, palavras que mais do que chegam para nos irmos lembrando da sua agramática, da sua simplicidade e do seu amor pela língua portuguesa. Gostava que descessem até ao post seguinte pois o Manoel de Barros que ali tenho veio pela mão do Cine Povero, e isso, sabemos bem, é sinónimo de qualidade e sensibilidade.

Mas isso é mais abaixo. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui deixo a poesia porque a conversa é prosa e da seca.


Esta quinta-feira fomos surpreendidos com mais uma: uma razia de detenções. Isto é todo o santo dia: ou é uma desgraça, ou um escândalo, ou uma bacorada governamental. Não há um dia de folga. Mesmo que eu queira vir para aqui dar largas à minha imaginação, acabo sempre por não ter oportunidade pois não consigo passar ao lado destas maçadas correntes.


Mas vamos com música que vamos melhor.

Story of my life pelos The Piano Guys





Transcrevo excertos desta notícia e destoutra, ambas do Expresso:


de Edvard Munch

A Polícia Judiciária deteve esta quinta-feira 11 pessoas - incluindo altos quadros do Estado - por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato, no âmbito de uma investigação sobre atribuição de vistos gold.


Os 11 detidos pela Polícia Judiciária vão passar a noite na prisão e são presentes ao juiz de instrução criminal esta sexta-feira. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) explica ainda que "foram também realizadas seis dezenas de buscas em vários pontos do país, incluindo nos ministérios da Administração Interna, da Justiça e do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia". 

Entre os detidos encontram-se o diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos, a secretária-geral do Ministério da Justiça, Maria António Moura Anes, e o presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo. 

de Paul Klee

O caso que está a ter maior impacto e a causar maior estupefação na sociedade portuguesa é o do diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Jarmela Palos, que ocupa este cargo desde 2005. Palos entrou para o SEF em 1993, ou seja há 21 anos, e fez aquilo que se costuma chamar 'carreira de sucesso' dentro desta força policial.
A detenção de Maria Antónia Moura Anes, 56 anos, é quase tão surpreendente quanto a de Palos. Nomeada a 1 de novembro de 2011 para o cargo de secretária-geral do Ministério da Justiça, pela atual ministra Paula Teixeira da Cruz, Maria Antónia foi coordenadora do sector de formação do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) entre julho de 2010 e setembro de 2011.
de Edvard Munch
É aqui, no IRN, que esta licenciada em História que iniciou a vida profissional como professora de liceu, até entrar para os serviços de documentação do Centro de Estudos Judiciários em 1987, se cruza com um outro dos 11 detidos: António Figueiredo, presidente do IRN desde 2007. 
Refira-se ainda que a secretária-geral do Ministério da Justiça, entre outras funções, foi funcionária da Polícia Judiciária e adjunta de José Pedro Aguiar-Branco, durante menos de três meses, quando o atual ministro da Defesa tinha a pasta da Justiça.
Albertina Gonçalves, secretária-geral do Ministério do Ambiente e sócia do escritório de advogados do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, foi ouvida no âmbito da operação vistos gold. Não foi detida, mas o seu gabinete foi objeto de buscas.

O Expresso apurou que três cidadãos chineses e três funcionários do IRN estão entre os 11 detidos. 



A inexplicavelmente ainda ministra


Há bocado vi também Paula Teixeira da Cruz, lourésima melena descendo quase até ao rabo, toda destravada, deitando foguetes. para ela todos estes são culpados e deveriam apodrecer no quinto dos infernos ao contrário do que acontecia com os ladrões, corruptos e criminosos de toda a espécie que, antes dela, andavam aí pela rua roubando a pensão dos velhinhos, surripiando o subsídio de desemprego aos desempregados.

E mais: quer mais, quer sangue. 


de Velazquéz

Paula Teixeira da Cruz falava à agência Lusa quando questionada sobre o eventual afastamento do cargo da secretária-geral do Ministério da Justiça (MJ), Maria Antónia Anes, e do presidente do Instituto dos Registos e Notariado, António Figueiredo, hoje detidos âmbito de uma investigação sobre a atribuição de vistos "gold".


"Qualquer pessoa que ponha em causa uma instituição deve imediatamente apresentar o seu pedido de demissão ou o seu pedido de suspensão de funções em função daquilo que é a imagem das instituições e da instituição que dirige. Portanto, seguirei a minha linha, como sempre segui", afirmou a ministra. 



.... & ....


Ora, face toda esta cegada, o que tenho a dizer é o seguinte:


de Velazquéz

1 -  O País não tem dinheiro. A dívida privada é descomunal, bem mais preocupante que a pública. O País precisa de investimento como de pão para a boca e não tem investidores. Antes da crise financeira, viviam todos em cima de financiamento bancário e não queriam saber de misérias. Qualquer um via que não tinham como alguma vez pagar mas vá de pedir dinheiro ao banco e os bancos vá de emprestar. Claro que, com a troika e com imposições europeias, os bancos tiveram que reconhecer que jamais receberiam essas dívidas e, portanto, viram-se forçados a registar imparidades (e daí os prejuízos que vêm apresentando).

Por isso, porque cá não há empresários com dinheiro que se veja, é uma boa política que se faça captação de investimento e que haja qualquer coisa de atractivo para que isso aconteça. 
Claro que se admite que não se acolherão foragidos, que o país não será transformado numa lavandaria de dinheiro sujo.

2 - O investimento de que o País precisa é de investimento reprodutivo. Um bom investimento é aquele em que há criação de riqueza, criação de postos de trabalho, pagamento de impostos.


3 - Vender casas a estrangeiros não é um investimento do tipo dos que são necessários para ajudar o País a tirar o pé da lama. 
de Paul Klee


Mas, admitindo que se está a falar de gente honesta e que o dinheiro é limpo, comprarem casas devolutas ou em mau estado não é mau. Pode até ser razoável, se houver lugar à reconstrução ou arranjo das casas - sempre haverá alguma relativa animação a nível da construção civil, sector que está nas ruas da amargura e que bem precisa de algum estímulo. O que é, é pouco. Seria bom se fosse um pequeno complemento; é curto, muito curto, se for só isto. Mas, repito, o desejável é que venham investimentos como os da Auto Europa ou outros, indústria de preferência.


4 - Não interessa, pelo contrário, se o que vier for gente obscura, com dinheiro em notas dentro de malas, que usará o Visto Gold para poder circular livremente na Europa em vez de trazer actividades que criem valor e que paguem impostos em Portugal. Também não interessa fomentar a proliferação de bazares chineses, que só vendem produtos importados, que não criam postos de trabalho, que não vendem produtos portugueses.


de Paul Klee

5 - Nisto dos Vistos Gold não faço ideia se houve ou não corrupção invadindo a máquina de Estado como uma gangrena, devorando a integridade de pessoas que se imaginariam honradas como o Director do SEF ou todas as outras pessoas que passam esta noite na prisão. Não faço ideia. Acho preocupante se é verdade e acharei delirante se tudo isto não tiver passado de um indesculpável excesso de zelo.

O que espero é que - com o tão pesado manto de desconfiança que isto lança sobre a máquina de Estado, com o lodaçal em que pareceria que Portugal se estaria a transformar se isto fosse verdade - se apure rapidamente a verdade e se faça justiça. Rapidamente, repito.


Paula Teixeira da Cruz
que, infelizmente, já ninguém consegue levar a sério

6 - Por outro lado, fico incomodada com as afirmações inacreditáveis da Ministra da Justiça que já dá todas aquelas pessoas por culpadas, afirmando que quer que os indiciados que trabalham no Ministério da Justiça se demitam e, em mais um surto histérico e paranóico, declarando que agora, sim, acabou a impunidade ao contrário do que antes acontecia. 
É certo que não precisou a que período histórico se referia, poderia estar a reportar-se ao tempo de algum reinado em particular. Não se sabe. Da boca daquela transtornada senhora - que, não nos esqueçamos, não se ensaiou nada para enlamear dois técnicos de informática, que viram os seus nomes espalhados pela comunicação social, como se fossem uns perigosos sabotadores - já espero tudo.

de Paul Klee

Em síntese - Depois da destruição económica, parece agora a vez da destruição moral. A loucura, o destempero, a irracionalidade, a podridão cívica e ética parecem vir alastrando de forma preocupante.

As notícias que se sucedem a um ritmo alucinante e que provêm invariavelmente dos lados das mais altas instituições de Estado levam a que a população desacredite da bondade do Estado Democrático.

Tende a parecer que isto é tudo uma corrupção pegada, um fartar vilanagem, que tudo foi tomado de assalto por uma seita desqualificada. E este pensamento é do pior que há: abre a porta a populismos, a autoritarismos.

Poderíamos esperar que o Presidente da República pusesse água na fervura, mostrasse sensatez, sensibilidade, pulso, sentido de Estado. Infelizmente não. De cada vez que fala, com aquelas mensagens criptadas e crispadas, toda a gente encolhe os ombros desejando é vê-lo pelas costas.

A continuar assim, neste clima malsão e com esta sucessão de destrambelhamentos e desgraças, neste ano que falta até às eleições o país ver-se-á transformado num manicómio ou num decadente prostíbulo (e, por falar em meio mundo de perna aberta e tudo à venda por dez réis de mel coado, ainda me apetecia falar da venda da TAP mas é muito tarde e já não tenho energia para isso).


de Botero
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Alonguei-me, eu sei. As minhas desculpas. Para atenuar a aridez do tema não sei se as pinturas que escolhi ou a música lá em cima foram suficientes. Por isso, deixem-me que ainda partilhe convosco um surpreendente vídeo de dança.


Horses never lie



Bailarina e coreógrafa: Caroline Richardson
Filme de Kathi Prosser


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Manoel de Barros deixou-nos esta quinta-feira e eu relembro-o no post abaixo, socorrendo-me dos belos vídeos do Cine Povero. Se conseguirem, gostava que se juntassem a nós em volta das belas palavras do Poeta. É que, quando tudo arde, salva-se a arte.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira.

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4 comentários:

FIRME disse...

Bom dia,gente ilustre!Em dia de fogutes lá prós lados do gabinete da PEIXEIRADA,veio-me á ideia uma imagem em sentido figurado;perante a seca que a rapaziada governamental,andava passando,a dita pôs mãos á obra,tal eng.agrícola vendo o vale do TEJO numa seca monumental,zás! Abre,todos os dispositivos de segurança da barragem de CASTELO DO BODE e adeus seca,temos o problema resolvido!!!Esqueceu um pormenor...Naquele vale(terreiro do paço) ,está toda a sua família alojada...Vamos ver quem sabe nadar...de todos eles !!!

Anónimo disse...

Este seu Post é muito interessante e fez uma excelente equação naqueles 5 pontos. Entretanto, o que começa a ser extraordinário é igualmente o número de escândalos que envolvem indirectamente escritórios de advogados e empresas de consultadoria com gente ligada ao Poder e Partidos, como é agora o caso. Miguel Macedo, a bem da imagem do governo, mesmo que nada tenha a ver com o assunto, directamente, deveria demitir-se. O mesmo para a ministra da Justiça depois da inventona e tentativa infame de descredibilizar 2 agentes no caso Citius. E, já agora, o ministro Crato pelo caos na Educação e de caminho o Pires da Economia pelo desrespeito na A.R.
Oxalá que este caso dos Visa-Gold (esta criação do Paulinho dos Camones, como lhe chama hoje o Jornal de Negócios) não venha a ter extensão lá por fora, noutras áreas.
Mas, de facto é o tipo de investimento não produtivo que pouco interessará à economia do país, como explica. O mesmo se aplica para as lojinhas chinesas, cujo IRC será pouco ou quase.
No meio desta confusão dos Visa Gold, os meus olhos captaram uma notícia “curiosa” no Jornal de Negócios (já a tinha captado ontem numa notícia de rodapé num telejornal): que a JP Morgan tinha comprado recentemente, a 5 de Novembro, mais de 31 milhões de acções do BES/Mau, num valor próximo dos 120 milhões de euros, cerca de 2,11% do capital do BES/Mau. Ora, seguramente que o JP Morgan não comprou todo aquele papel para o usar na sanita. Não me admiraria que tivesse já contratado um dos grandes escritórios de advogados que viesse a conseguir reunificar os 2 BES (Bom e Mau) – à luz do Direito Europeu, afigura-se-me que talvez o consigam, pois, aparentemente, sob esse prisma, a divisão do BES em 2 parece ilegal – e, nesse sentido, uma vez o BES se reconstitua, mesmo que sob outro nome, ou o mesmo com outra gente, essas acções venham a valer o quádruplo, ou mais e esse investimento venha a dar origem a uma fantástica operação lucrativa.
E assim vai o país, como dizia o outro, cantando e rindo. E nós, a maioria, a chorar.
P.Rufino

FIRME disse...

A fé,essa coisa divina que se encontra algures entre o céu e a terra que todos professamos,entre familiares tem pontos falíveis;SE ACREDITAS EM MIM,NÃO DEVO DUVIDAR DE TI...São marcos que já esqueci...o salmo! O padre duma freguesia dos meus lados,pregando a lenga lenga ,do quem confia nãda deve temer...Cai um raio sobre a igreja o padre aterrorizado,grita:Válha-nos deus...Uma senhora idosa diz bem alto:::NEM TÚ ACREDITAS NO QUE ESTÁS A DIZER...Mandaste-nos comprar o PÁRA-RAIOS pra quê???
A tempestade está aí,o cavaco diz :valha-me deus...MAS OS ESPÍRITOS já não o escutam...ESTAMOS FEITOS!

Pôr do Sol disse...

Este País não é para hipertensos!

A troco da minha saude, por vezes tenho necessidade de me
alhear das noticias deste pobre Portugal, que não sendo redondo, começa a não ter ponta por onde pegar.

Mas tenho necessidade de saber como vão as noticias e dou com o mesmo de sempre.

Em todos os campos há suborno, mentira, velhacaria. Mas esta dos Vistos Gold soa-me que alguem quer tapar o Sol com sucessivas peneiras. Todos os dias aparece mais uma, até que Ricardo Salgado,BES e Cª. sejam esquecidos.

Diz-se que o hábito não faz o monge, mas não é bem assim. Não haverá ninguem, lá para os lados de S Bento, que aconselhe esta senhora a dar uma volta ao seu look? O seu ar desmazelado compromete a confiança que o seu cargo deveria inspirar.

No inicio ainda pensei que depois do golpe que a vida lhe deu, (superar a morte de um filho não deve ser facil) apenas se dedicava ao trabalho, descurando as aparencias, mas passados estes anos
já lhe fazia bem uma lufada de ar fresco.