segunda-feira, outubro 20, 2014

Paulo Portas à beira de se refugiar em Caxias-Colombey? Ele próprio já nos anunciou, uma vez, com aquele seu ar dramático, que se demitia irrevogavelmente. Aparentemente voltou atrás mas o chefe, o tal Passos Coelho, trata-o como se ele já não estivesse no governo. Os jornais parodiam-no, a população não lhe perdoa, o partido está desejando vê-lo pelas costas e eu pergunto uma vez mais: a troco de quê aguenta Paulo Portas tanta humilhação? O que o move?


Ilustração de Helder Oliveira no Expresso
a propósito da desfeita da dupla Passos/Albuquerque no OE 2015
sobre um Portas politicamente morto



Por onde quer que uma pessoa leia ou veja notícias, comentários ou opiniões sobre a miséria que é esta forma de desgovernar, sistematicamente encontra referência à desconsideração com que Passos Coelho e entourage tratam o vice-Portas.

As notícias são pródigas ao facultar provas da humilhação com que Passos castiga o Portas. Desta vez sabemos que escondeu do seu vice a notícia do crédito-de-imposto até depois da meia noite no dia da maratona do conselho de ministros de 18 horas - e isto depois de saber que o vice tinha andado a espalhar pelos jornais a notícia de que a sobretaxa ia baixar. 


Agora vejo-o na televisão ainda como que a gabar-se,  dizendo, com aquele seu ar encenadamente grave, que isto é melhor que nada e que andam a limpar a casa e mais não sei o quê, como se ainda julgasse que a sua voz é respeitada. 

Não percebo. Sendo inteligente, o que o leva a ser tão cego? Não vê ele que já ninguém consegue respeitá-lo? Chega a ser triste. E, sobretudo, apouca ainda mais a imagem que os portugueses têm desta forma de fazer política.

Destes anos de desnorte e destruição não se conhece qual a influência do CDS neste governelho de má memória. Conhece-se a ignorância e incompetência de Passos seguindo cegamente uma teoria mórbida (apesar de se saber há muito que não passa de uma teoria de cão de caça) mas, das bandeiras que Portas dizia empunhar, nem sombra.

De vez em quando encena umas gabarolices, tenta trazer a palco as rábulas dos contribuintes, dos pensionistas mas logo o Passos arranja maneira de fazer com que ele as engula em público, para desconcerto de quem assiste a tão repetidas provas de bullying governativo. Portas é, às mãos de Passos Coelho, o bombo da festa. 

É certo que Portas se presta a isso. Não se percebe o que anda a fazer, sempre de passeio, sempre descartável, sempre revogável. Como recordará a história este personagem que se imaginou importante, que desde jovem se viu a si próprio como capaz de mover mundos e fundos, que aparentemente tudo faz para se manter como ministro - mas que, de facto, é o exemplo acabado da irrelevância? Provavelmente de maneira nenhuma, provavelmente ignorá-lo-á.

Este domingo a crónica de Vasco Pulido Valente no Público, intitulada 'O futuro do Governo' teve graça:


Com o caso Crato e o caso mais sério da dra. Cruz, o primeiro-ministro criou na coligação uma atmosfera de bunker, a que ninguém, nem o próprio Portas, consegue escapar. Estão ali todos para defender 'a obra de salvação' da troika e do sr. Vítor Gaspar e nenhuma fraqueza é permitida. Hesitar, murmurar, criticar, são infames formas de trair a Pátria e empanar a glória de Passos Coelho.
Resta que o futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso. O primeiro-ministro arranjará com certeza um lugar condigno. Pires de Lima e Paulo Macedo também. Alguns voltarão a um escritório de advogados, que é uma boa maneira de continuar na política à socapa. A maioria ficará depenada e só. E mesmo que Portas se retire para Caxias-Colombey, não pode contar que o ponham em Belém daqui a vinte anos. Felizmente, a solução já foi encontrada: a entrada em massa de suas excelências na televisão e jornais. Competência não lhes falta: falam bem, discutem bem e não se atrapalham excessivamente com a verdade. Com uma gravata nova e um fato escuro, ninguém dirá que não se trata de uma nova geração de comentadores.
(...)
Os programas pululam de economistas (alunos, assistentes, professores, para não falar de analfabetos  com essa meritória mania). Tudo grita, estica o dedo, tudo repete e se repete com um fanatismo não exactamente 'orçamental'. Basta ao nosso querido governo aguentar um ano de sacrifício para se juntar a esta tropa fandanga. Não notaria a menor diferença.
_


Um governo bom para ser parodiado (mas que, infelizmente, anda a dar cabo do País).


1 comentário:

Anónimo disse...

Não me surpreende esta atitude de Portas. O que o tipo quer e apenas sempre quis foi poleiro. A única ambição da criatura é estar no Poder. Como sabe que o seu partido e ele próprio são duas irrelevâncias, pois nunca ganharão umas eleições, a única forma é coligar-se (com o PSD, embora se o PS lhe acenasse com outra fornada de Poder o homem aceitaria, sem pejo) e deste modo fazer valer o peso dos seus votantes para conseguir um lugar de relativa importância num governo qualquer. Depois, malabarista vocal como é, lá inventa umas justificações para impressionar o parolo com vista a lá continuar. Mesmo com o desprezo óbvio com que Passos o trata o indivíduo aguenta-se, pois tudo isso é preferível a estar de fora (do Poder). Portas não tem nem nunca teve nem quer ter um projecto político. Faz demagogia durante as eleições para obter uns tantos votos e depois, com sorte, aceita uma posta de Poder, e ali continua a fazer demagogia, agora para justificar medidas anti-sociais, ou sapos que teve de engolir. Portas nem sequer respeito tem por si próprio. Se tivesse, há muito que tinha deixado este governo. E entretanto, vai viajando, á nossa custa.
Esta malta são políticos de pacotilha. Houvesse coragem em Belém e mandava-se ás malvas esta gente, daqui a uns 3 meses, já que a seguir teremos por certo uma maioria absoluta estável para governar o país. Que é o que se precisa.
P.Rufino