quinta-feira, outubro 09, 2014

O tempo é o novo dinheiro: férias ilimitadas. Voto na ideia. Mas custa-me um pouco falar nisto enquanto assisto quase petrificada ao que está a acontecer na PT. Uma desgraça e uma vergonha.


No post abaixo já lamentei a decisão do DN ao prescindir da colaboração do grande jornalista que é Baptista Bastos. Fez mal o DN, por todos os motivos e mais um: é que Baptista Bastos trazia público ao DN. Só espero que rapidamente algum outro jornal o contrate. Eu e todos os milhares de leitores que não perdiam as suas crónicas, segui-lo-emos para onde ele for.

Mas sobre este assunto falo no post a seguir. Aqui, agora, falo de um outro coisa.



Noches Noches La Luz - Aurora



Avishai Cohen



No outro dia a minha filha enviou-me um mail com um link


Richard Branson Is Right: Time Is the New Money. 


O tema é interessanteIn the participation age, a new form of payment is emerging: time.


Férias ilimitadas, regime de trabalho livre.

Há locais em que isto se pratica, empresas de prestígio - mas em Portugal não conheço. 

No Grupo em que trabalho não é assim, os dias de férias são os de lei. Mas, na medida do que é possível gerir de forma directa, facilito ao máximo a vida das pessoas que trabalham comigo. Têm menino com festinha na escola, pois que vão, estejam com os filhos e, nessa tarde, nem precisam de vir, trabalhem a partir de casa, como queiram. Têm assuntos para tratar e vão levar parte da manhã pois que tratem e podem vir apenas de tarde, estão com dor de cabeça e querem ir logo para casa, pois claro, que vão. E sou incapaz de fazer as pessoas estarem numa reunião, se souber que têm que ir buscar os filhos à escola ou se tiverem qualquer outro compromisso. Não concebo outra forma de gerir pessoas. O trabalho não deve ser apenas uma obrigação, muito menos deve ser um castigo. As pessoas trabalham melhor se estiverem tranquilas e felizes, se se sentirem respeitadas e estimadas. 

Aliás, tento não ocupar ninguém depois das seis. Se ficam é porque acham que precisam. Não controlo o tempo que estão no local de trabalho mas sim o que fazem. Da mesma forma, é raro o dia em que não estou um bocado à conversa com quem me procura ou com quem encontro, mesmo que na copa. Conversamos sobre tudo e estimulo que se interessem e valorizem uma vida equilibrada, com tempos livres, com tempo para o prazer.

Contudo, há muita gente noutras áreas da empresa que é ou se faz passar por workaholic. Trabalham até às quinhentas, trabalham à hora de almoço, enviam mails à noite, ao fim de semana. Na minha área desincentivo isso em absoluto.

Gosto de ter a trabalhar comigo pessoas que me falam dos livros que lêem, dos filmes que vêem, de passeios que dão, de programas que vêem na televisão. E rimos, e há alguns que são muito engraçados, e há diferentes pontos de vista, e forma-se um sentimento de equipa, de pertença a um grupo de pessoas que puxa para o mesmo lado. Não sou assim por razões interesseiras, para que a produtividade seja melhor, faço-o porque era assim que eu gostava de trabalhar quando era chefiada por pessoas que me respeitavam como pessoa, e faço-o porque esta é a minha maneira de ser. Mas, claro, sei por experiência própria que nada mata mais a produtividade e o gosto por trabalhar do que a falta de reconhecimento.

Além do mais, não é por uma pessoa estar obedientemente presente no local de trabalho oito horas ou mais por dia, que o resultado do seu trabalho é melhor. Tenho colegas que são certinhos, certinhos, certinhos e que, no entanto, para tomar uma decisão ou para produzir uma opinião levam uma eternidade.

Nem todas as empresas terão músculo ou condições para aguentar um regime mais livre mas, sempre que o possam, estou em crer que este modo de estar a nível profissional irá fazer o seu caminho. Quem trabalha por turnos, quem tem que estar atrás de um balcão ou a servir a um restaurante não poderá dar-se a estas liberdades mas, quem possa, acho que deverá fazê-lo.

A principal barreira será a mesquinhez das mentes mais apertadas. Os menos dotados são sempre os mais castradores. Sempre vi os mais fracos, os que têm mentalidade de vizinhas, fazerem da censura o seu modo de vida. Mas cabe às lideranças fortes ultrapassar preconceitos e ideias do passado e fazer valer uma nova maneira de estar.

O trabalho não deve ser tudo na vida, não deve ser uma obsessão. Pelo contrário, deve ser uma componente da vida, uma componente que traz dignidade, autonomia e sentido de realização à vida das pessoas. 

Richard Branson também acha isto e eu estou curiosa por saber como vai ele pôr em prática a ideia. E vou tentar perceber melhor o conceito.

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Falo de bem estar no local de trabalho, falo de motivação e, enquanto isto, penso no que está a acontecer na PT. É um drama difícil de descrever.


Conheço algumas das boas instalações da PT. Participei em encontros promovidos ou patrocinados pela PT, participei em visitas guiadas às suas instalações. Ouvi várias vezes falar pessoas da PT sobre os seus modelos de governance ou sobre a aplicação de novas metodologias de gestão. Não há em Portugal grande ou pequena empresa de serviços, nomeadamente consultoria das mais variadas espécies, que não tenha a PT entre os seus clientes de referência.

A PT era uma das grandes empresas portuguesas. Grande em volume de negócios, grande em números de colaboradores, grande em número de fornecedores, grande em número de clientes, grande em quase todos os indicadores.

Contudo, devo confessar - e quem lida comigo sabe bem disso - que sempre me pareceu que havia ali algum deslumbramento, muito dinheiro fácil, muita apetência por modas. Ou seja, uma gestão algo fútil.


Tenho também a ideia de que gestores florescentes, espampanantes, que primam pelo seu poder de show off, que apadrinham toda a espécie de modas, não dão sólidas garantias aos accionistas e stakeholders.

O tempo rende mais para uns do que para outros, é certo, mas a sua relatividade não é infinita. Uma pessoa que está hoje aqui, amanhã ali, depois a dar entrevistas, depois a fazer palestras, depois a almoçar com jornalistas, depois a dar uma aula, depois a fazer um road show, depois a ter uma reunião para ver apresentações e assim sucessivamente, forçosamente alguma coisa deixa para trás. E, geralmente, o que fica para trás é o cuidado na análise, é a proximidade ao negócio, é o ouvir os colaboradores, é, na verdade, a gestão.

Gestores mediáticos assim ou gestores que adquirem o vício de se sobreocupar com eventos que dão visibilidade, são gestores que, regra geral, delegam demais. E aqueles em quem eles delegam, não se sentindo muito apertados, delegam nos de baixo, e os de baixo sentindo-se importantes, delegam nos de baixo, e aos de baixo já lhes falta a competência e, então, inventam uma desculpa qualquer e contratam consultores e as empresas de consultoria para serem competitivas e terem boas margens, contratam miudagem que vai trabalhar por tuta e meia. E, assim, acabam estas grandes e aparatosas empresas por ter as decisões de gestão a cargo de miudagem das empresas de consultoria ou a cargo de estruturas deslumbradas mas pouco responsáveis. Não é sempre assim - mas é muitas vezes assim.

A gente da PT vivia entre o mediatismo da vida glamourosa do alto empresariado e os macios corredores do dinheiro e do poder.

Até um dia.

Sem que ninguém tivesse exactamente percebido como, de um dia para o outro, a equipa dos gestores excelentíssimos rebentou com um património estimável, com a reputação dos gestores portugueses, e com uma empresa enorme e desejável. 

Eu disse de um dia para o outro mas disse mal. Foi um pouco todos os dias - até que uma gota fez transbordar ao copo. Os 900 milhões aplicados não se sabe como na Rioforte foram apenas a gota de água.

Agora são cerca de 15.000 trabalhadores em pânico, são infraestruturas valiosas, é um património incrível que está à venda na rua - e uns quantos (de outros países, claro) a verem por quanto podem ficar com um saldo destes. Quem comprar vai fechar instalações, despedir pessoas. Era uma empresa sólida, rentável e valiosa, com planos de expansão. Agora, para quem quer comprar barato, é um bagaço, um fruto seco, um saco de ar.




Henrique Granadeiro saíu. Zeinal Bava foi corrido. Os brasileiros não brincam em serviço. Voz de mel mas mãos de ferro. Aos olhos do Brasil, a PT e os grandes gestores portugueses devem ser apenas os restos de uma monarquia tonta com deslocadas manias da grandeza, gente falida, uns pobres amadores.


No Grupo PT a instabilidade impera, a incerteza corrói - e não é para menos.

Perante isto, perante a ruína de tantos que nada fizeram para que uma vergonha e desgraça destas lhes caísse em cima, perante a depreciação de uma empresa tão valiosa, perante o empobrecimento que isto acarreta (porque a PT dava modo de vida aos seus trabalhadores mas também aos seus imensos fornecedores), só espero que se apurem responsabilidades. Mas a sério. Só espero que não ponham nenhuma Mónica Ferro ou outra andorinha assim a apurar responsabilidades nem no Parlamento nem na Justiça; ponham gente séria e com cabeça. E façam justiça. 

Mas, calma aí, os maiores responsáveis para além de Granadeiro, Bava e outros da PT, são os senhores do Governo que assistem a tudo imperturbáveis. Deixaram ir a golden share sem cuidarem de quaisquer cuidados, e agora deixam que tudo aconteça sem que mexam uma palha para salvar nem que sejam apenas os salvados.

Tudo isto tem que ser julgado. Há casos em que a irresponsabilidade e a incúria devem mesmo ser objecto de séria condenação - e este é seguramente um deles.


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Tinha ainda uma coisa giríssima, desta feita enviada pelo meu filho. Mas já não tenho tempo, estou só a bocejar (e temo que vocês também pois só agora reparo no lençol que já para aqui vai). Amanhã.

E há ainda a questão dos livros sobre os quais ando para falar. A ver se amanhã, também.




A ver se faço ideia de quem é o autor que vai ganhar o Nobel. Sinto-me sempre a maior das ursas quando sai a alguém de que nunca tinha ouvido falar antes.

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Relembro: sobre o afastamento de Baptista Bastos do Diário de Notícias, falo já aqui a seguir.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira!


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5 comentários:

Alice Alfazema disse...

Olá, UJM!

Eu gostaria de trabalhar consigo. :)

Um abraço!

Anónimo disse...

O caso da PR é um escandalo! Uma vergonha. O que era, até há pouco, antes das vendas, a PT e o como acabou. Uma empresa de referencia e acaba assim. Vergonhoso. Com gestores supostamente brilhantes, que acabaram nas mãos de um BES corrupto e se mostraram oportunistas e incompetentes. Mas, que ganhavam milhões! E o governo tudo isto facilitou. Em 3 anos o páis e muitas empresas de referencia vão-se decompondo. Uma lástima!
Belíssimo Post! Você é brilhante!
P.Rufino

Anónimo disse...

Correcção: O caso da PT e não da PR!
P.Rufino

Concha disse...

Por variadíssimas razões,houve alturas da minha vida em que sobrava-me tudo, menos o tempo.Prescíndi mais recentemente de ter maior desafogo económico,para poder ter tempo para ser eu própria.Nunca me arrependi da opção que tomei, aliás não costumo arrepender-me, apesar de me enganar muitas vezes.Sem dúvida que é uma grande riqueza poder utilizá-lo como mais me apetecer.Nunca somos totalmente livres, mas para mim ter tempo é ser livre.
Avishai Cohen, não conhecia e é muito bom.Beijinho e um bom fim de semana.

FIRME disse...

Eu adoro anjinhos! Em FÁTIMA,universidade dos pobres,por onde vi anjinhos,papudos duma beatice a toda a prova...Em verdade vos digo;papei o pão ázimo,bebi o vinho branco...á sucapa,já fui perdoado...pensam que sou o quê?Cristão novo ?NÁ...como se diz no DOURO,nha terra !Pois os anjinhos,Granadeiro,e Baba...falta o ALI,omnipresente mas este anjinho não se vê...Quem quiser vê-lo,arrisque 1 viagem no 15 -28,da carris,e ele anda por ali,metendo a mãozinha no bolso dos anjinhos ,eu,tu,ele...conjuguem o verbo ser e estamos conversados! AVISO: O 15,PÁRA EM BELÉM...! Um reparo; esqueçam a terceira pessoa do plurar...ELES !