sábado, agosto 02, 2014

O BES vai ter que ser intervencionado pelo Estado, o BES foi contagiado pelo GES, o BES é pior que o BPN - tarde e más horas, quem o deveria ter percebido antes, começa agora a acordar. Uma actuação reactiva e ao retardador, a revelar impreparação e falta de inteligência - assim tem sido a actuação do Governo, do Banco de Portugal e de parte da Comunicação Social (e do António José Seguro). O não terem percebido a tempo o que estava a acontecer, tem custos dramáticos para o País, em geral, e para muitas empresas e pessoas, em particular.




Como é sabido por quem por aqui me acompanha, o tema BES, para mim, e desde que dele tive conhecimento, passava por:
  1. uma intervenção rápida de forma a estancar hemorragias e para desincentivar ataques especulativos, intervenção essa que poderia passar (mais do que certamente) por uma intervenção pública na recapitalização do banco
  1. por suspender a actuação dos responsáveis pela descapitalização e descredibilização do BES e por apurar responsabilidades (aos níveis que fossem).






Contudo, como é sabido, a linha dominante (Passos Coelho, Carlos Costa, Comunicação Social) apontou para a direcção oposta, a saber:

  1. desvalorizar a situação, decretando que o Banco de Portugal tinha tido uma actuação exemplar, louvável, que tinha blindado completamente o BES, que não tinha havido contágio do BES por parte do GES, que a almofada era mais do que suficiente, e que o BES não era o BPN já que o BPN é um caso de polícia e o BES nem pouco mais ou menos.
  2. face a isso, decidiram deixar correr o marfim, esperar que Ricardo Salgado indicasse um sucessor, tendo ele indicado Amílcar Morais Pires, depois deixar passar imenso tempo até mostrar que este não seria aceite, deixar que outro nome fosse testado na comunicação social (Joaquim Goes), depois, enquanto a situação se degradava - e toda a mesma equipa de gestão se mantinha em funções - avançar com o nome de Vítor Bento mas, tendo este exigido, prudentemente, que as contas fossem fechadas por Ricardo Salgado, esperar que isso acontecesse, etc, etc, até que o Luxemburgo começou a actuar, o Panamá tomou conta do BES local, as empresas começaram a declarar falência, etc. Só então as autoridades acordaram e fizeram com que Vítor Bento entrasse e Ricardo Salgado e o seu braço direito Amílcar, saíssem (... mas deixando que os demais se mantivessem em funções...). Mas continuaram a decretar que o Estado não tinha nada que intervir, que este era um assunto dos 'privados' e que o BES não era o GES e que o BES não era o BPN. O ar convicto de grande parte dos comentadores a dizer isto deixava-me desnorteada (Ricardo Costa, Henrique Monteiro e tantos, tantos mais)
  3. entretanto, as acções começaram a ser descartadas a toda a velocidade, os especuladores desataram a ver se as acções baixam o mais possível, cada acção a valer pouco mais do que a minúscula moeda de 10 cêntimos, o BES a valer menos cerca de 70% menos do que valia, o Banco em incumprimento de rácios de solvabilidade, o BdP a ter que injectar liquidez para evitar o colapso mais do que certo, as pequenas e médias empresas a manifestarem pânico já que era no BES que maioritariamente se costumam financiar.
  4. até que veio o tão esperado relatório de Resultados do 1º Semestre. Um buraco brutal. Pelo tipo de coisas que se evidenciou, torna-se expectável que mais esqueletos sejam descobertos. A equipa de Vítor Bento diz que não se responsabiliza por aquelas contas (e percebe-se). E diz que há-de vir um plano (mas qualquer pessoa percebe que é difícil montar um plano em cima de uma realidade em acentuada decomposição).
  5. perante a incerteza, perante a forma reactiva como isto está a ser conduzido (reactiva e ao retardador), perante o avolumar de depreciação e o avolumar de suspeitas, é o ver se te avias de fugir a sete pés de um activo que parece ser todo ele mais do que tóxico. O goodwill precioso que era o nome Espírito Santo transformou-se num badwill, o nome de gente de terceiro mundo que usou dinheiros alheios para benefício próprio, que, perante toda a espécie de auditorias, se marimbou para regulamentos e leis e agiu como se Portugal fosse a República das Bananas e a família não passasse de um ramo da máfia.

  • Agora, no dia em que mais duas empresas declararam falência, em que a venda de acções em bolsa está suspensa, e em que o TotóZero Seguro continua a choramingar que o enganaram e que não quer intervenção estatal, começa finalmente, uma vez mais tarde e más horas, a falar-se que a mais do que óbvia necessária intervenção estatal está a ser equacionada.



Até que enfim.

Mas a toda esta forma de agir por parte das autoridades e dos opinion makers, chama-se amadorismo, falta de inteligência e de competência, falta de visão. Isto que estou a dizer poderia não ser grave, poderia ser apenas uma questão de ficarem mal na fotografia. Mas o drama é que é mais do que isso. 



Esta sexta feira, parte do BES estava paralisado, reuniões internas, pânico, as equipas de gestão desorientadas e assustadas. 
Se a liquidez começa a escassear não é apenas o pânico que começará a alastrar, como a economia começará a ficar ainda mais paralisada. 
Quando as empresas começarem a precisar de financiamento para fazerem face a pagamento de ordenados ou a pagamento a fornecedores e o BES não tiver como acorrer, será um desastre cujas dimensões não me atrevo a prever. 
E nem falo de outro problema dramático mas que acaba por ser menor quando comparado com o que acabo de referir: o drama do mais do que expectável despedimento de um numeroso grupo de colaboradores. 

Com esta hecatombe, o BES já é um Banco pequeno e não apenas vai ter que alienar activos como reduzir drasticamente custos. O fecho de agências e o despedimento de pessoas vai ser, provavelmente, inevitável. E quanto mais tempo este impasse durar mais rapidamente tudo isto desaba.


E nem falo de um outro escândalo que um dia vai ter que voltar para a ribalta: a destruição do valor da PT, uma das jóias da Coroa. Os prejuízos a curto, médio e longo prazo para Portugal são enormes e quem fez este lindo serviço deve ser responsabilizado e punido.


Por isso, lamentando que o País esteja entregue a gente tão impreparada, só espero que um plano, ainda que incipiente venha a público, que o Estado intervenha rapidamente e que seja posta no terreno uma estrutura organizativa que inspire absoluta confiança a Vítor Bento (a quem, apesar de não ter experiência como banqueiro, nem ele nem José Honório, dou o benefício da dúvida, achando que merece um grande apoio neste momento tão crítico). Vítor Bento não poderá sanar as contas e tomar decisões rápidas e seguras se lá tiver gente com funções de responsabilidade conotada com os vícios de gestão de Ricardo Salgado. Seja por nacionalização parcial, mesmo que disfarçada, seja por empréstimo, seja por uma solução mista, seja por isolar os activos tóxicos num qualquer 'veículo' - que isso seja feito e que seja rápido.


Sobra para nós? Claro. Sobra sempre. O que agora é preciso é cabeça fria para perceber qual a forma mais benigna. Quanto mais tarde se perceber isto, mais o desastre alastra, mais difícil será estancar, mais 'custosa' será a intervenção. 

Passos Coelho, depois de ter escolhido o seu porta-Moedas de bolso para a equipa de Juncker*, já apareceu em férias com a  D. Laurinha a seu lado como se não estivesse a acontecer um problema seriíssimo no País e o Tozé Seguro já apareceu a repetir que rejeita uma intervenção estatal no BES. A irresponsabilidade continua a campear, portanto.


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* Quanto à escolha do Moedas, em completo desalinhamento com as indicações de Juncker, ainda tenho esperança que o Parlamento Europeu não sancione a equipa por não obedecer a parte dos critérios e que Juncker mande o Trocos de volta. Seria um bom sinal para início de 'reinado' da nova Comissão Europeia mas temo que isso seja optimismo a mais da minha parte.


As imagens foram obtidas na internet a desconheço a proveniência original.


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Estou neste momento a ouvir José Gomes Ferreira na SIC N (eu não digo que ninguém me poupa...?) a dizer aquilo que qualquer pessoa com dois dedinhos de testa percebia logo a olho nu: que o Estado vai ter que entrar na recapitalização do BES já que preparar um aumento de capital pelos processos normais requer tempo (semanas, no mínimo) e requer conhecimento de causa e confiança. Ora, OBVIAMENTE, nenhuma destas 3 premissas é viável. Ou seja, já cá está o Gomes Ferreira a cavalgar a onda, a dizer que vê coisas quando as coisas já se metem pelos olhos adentro de toda a gente. Mas, com o usual ar douto, explica que isto não tem nada a ver com nacionalização. Como se ele soubesse do que fala. Se isto é um especialista em assuntos económicos e financeiros, vou ali e já venho. 


Estou também a ver Passos Coelho a dizer que a estabilidade financeira é fundamental e que o Estado intervirá se for necessário. 

Ora bem. Assim é que é - e era, justamente, por aqui que ele deveria ter começado. Muitos danos colaterais se teriam evitado se ele tivesse tido cabeça. (Eu não ando há tempo a dizer que ele ia ter que engolir a fanfarronice de dizer que o Estado não se iria meter no assunto Espírito Santo?)


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Vi agora um video com a opinião de Pedro Santos Guerreiro, 

(confesso: é o meu alter ego, embora, de início, também tenha engolido aquela pastilha do importante papel do BdP na blindagem e a almofada e etc mas, enfim, desculpo-o porque ainda é novinho; com mais uma ou duas destas, ganha endurance e, não tarda, estará homem feito e já não comerá tão facilmente tudo o que lhe dão a comer), 

opinião esta que, como sempre, é crystal clear. Diz ele que só há uma solução para isto, que é óbvia e que deve ser rápida. Não consigo incluir aqui o filme pelo que deixo o link para lá. Se o Expresso só tivesse gente do calibre dele ou do Nicolau Santos (que acha que deveriam estar todos presos), a ver se eu não assinava o Expresso Diário Online. Agora com Gomes Ferreiras, Duartes Marques, a par dos Henriques e outros que só dão mau nome ao local onde escrevem, é o ver se lá me apanham...



2 comentários:

menvp disse...

Bom, ora, como é óbvio, quem paga (vulgo contribuinte) não pode continuar a ser 'comido a torto e direito'... leia-se: quem paga (vulgo contribuinte) deve possuir o Direito de defender-se!!!
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-» Votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
---> Leia-se: deve existir o DIREITO AO VETO de quem paga!!!
[ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'].
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P.S.
DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA:
- possibilita a existência de um processo ágil de tomada de decisões... e... permite que o contribuinte não passe um 'cheque em branco' aos políticos.
Nota: Vantagens da Democracia Semi-Directa 'Fim-da-Cidadania-Infantil' em relação à Democracia Directa:
1- em caso de necessidade (depois haverá uma análise dos fundamentos) o Executivo Governamental poderá tomar decisões rápidas;
2- o contribuinte não será atafulhado com casos de 'custo-bagatela'.

Cine Povero disse...

Ando preocupado... Um amigo meu (dado às teorias da conspiração) revelou-me recentemente os verdadeiros significados, segundo ele, das siglas:
GES = Great Ebola Self
BES = Best Ebola Secret
Confesso... É aquela ligaçãozita do BES a Angola que me deixa preocupado...