sábado, junho 21, 2014

Arrábida, a Serra de um Poeta, Sebastião da Gama, a Serra da minha infância, a Serra por onde voam agora os meus tios


Do Leitor Fernando Ribeiro, recebi este vídeo maravilhoso sobre a Arrábida. 

Foi Arrábida a serra cantada e adorada por Sebastião da Gama de quem já aqui contei: mais velho que a minha mãe, professor quando ela era aluna, mestre de quem ela gostava de ser discípula, a quem ela ouvia falar maravilhada sobre a serra, sobre os poetas, sobre os pássaros, sobre o imenso mar, escreveu um dia para a minha mãe, louríssima:
O cabelo é de ouro
para que vejam bem
que o coração
é de ouro também
Já também aqui falei algumas vezes desta serra que tanto frequentei na minha infância, onde tantas vezes fui com os meus pais, para cujas praias tantas vezes fui, não apenas para o Portinho - onde uma vez conheci um francês com corpo e cara de Apolo e com quem poderia ter tido um intenso romance - mas sobretudo para Galapos (já que era mais fácil arranjar lá lugar para estacionar o carro) ou para a Praia dos Coelhos onde o meu primeiro namorado, por ter feito nudismo sem protector solar, apanhou um escaldão onde menos lhe convinha.

Era também na Serra da Arrábida que, mais tarde, nas suas matas, fazíamos pic-nics divertidíssimos antes de nos irmos meter no barco da família que estava ancorado no Portinho e no qual eu detestava andar, tão rápido os homens jovens da família o conduziam, galgando ondas até à Tróia, fazendo curvas malucas, gozando com o medo que me faziam ter.

Foi também na Arrábida, num belíssimo palácio algures numa das suas faldas, que fui a um casamento da família, um casamento muito bem disposto, com baile e festa rija e no qual o meu filho, então com uns cinco anos, se tomou de amores por uma outra menina, tendo passado toda a santa tarde até à noite abraçado à miúda, a ir ao bar buscar-lhe sumos, a dançar armado em rapaz crescido e a ignorar-nos armado em adolescente. 

Por ser um lugar especial para toda a minha família, é também na Arrábida que os meus tios quiseram que as suas cinzas fossem espalhadas. Não creio que repousem porque não eram de repousar mas por lá devem andar a passear ou, se forem pela vontade do meu querido tio, a voar.

É um dos lugares mágicos deste mundo e português algum deveria desconhecê-lo.

Ao Fernando Ribeiro agradeço esta revisita que me deixou emocionada. Tenho que lá ir de novo. Muito obrigada, Fernando.




Tomo a liberdade de transcrever o precioso roteiro que o Fernando generosamente deixou num comentário.


Os lugares que consegui identificar são os seguintes:

0:00 - Galapos
1:12 - Convento Velho dos Capuchos
1:40 - Convento (Novo) dos Capuchos, sede da Fundação Oriente
1:47 - Galapos, a minúscula Praia dos Coelhos e Portinho da Arrábida
1:53 - Portinho da Arrábida
2:45 - Calhariz ou Casais da Serra?
3:15 - Fojo?
3:40 - Alto do Formosinho
3:56 - Vista a partir das imediações de Aldeia de Irmãos?
4:12 - Vale de Picheleiros visto a partir das imediações de Vila Nogueira de Azeitão
4:30 - Vista a partir das imediações de Aldeia da Piedade?
4:54 - Vista a partir da Serra da Arrábida para a Costa de Troia, Comporta e Costa da Galé
5:03 - Portinho da Arrábida
5:15 - Galapos, a minúscula Praia dos Coelhos e Portinho da Arrábida
5:25 - Galapos e Praia dos Coelhos
5:34 - Portinho da Arrábida
5:40 - Crista da Serra da Arrábida
5:58 - Mata do Solitário
6:03 - Convento dos Capuchos
6:11 - Vista a partir das imediações do Convento dos Capuchos?
6:16 - Fojo
6:29 - Pedra da Anixa
6:37 - Lapa de Santa Margarida
6:50 - Mata do Solitário
7:13 - Vista a partir do Alto do Formosinho, o ponto mais elevado da Serra da Arrábida
7:20 - Vista a partir das imediações do Convento dos Capuchos

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 Mil vezes obrigada, uma vez mais.

1 comentário:

Fernando Ribeiro disse...

Mil vezes obrigado, sou eu que digo.

Como vê, sou fã incondicional da Serra da Arrábida, essa «Alta Serra deserta, donde vejo/ As águas do Oceano duma banda,/ E doutra já salgadas as do Tejo», nas palavras de Frei Agostinho da Cruz, poeta que viveu no Convento Velho dos Capuchos, onde tinha uma vista absolutamente fabulosa.

Sou igualmente fã da Serra de Sintra, da do Caldeirão, das da Freita e Arada e da do Alvão, apesar das muitas diferenças que há entre umas e outras. É claro que também gosto de muitas outras serras, como as do Gerês e da Estrela, mas estas que citei emocionam-me em especial.

Um grande abraço