segunda-feira, maio 12, 2014

Um país a ferro e fogo para que os bancos estrangeiros (especialmente os alemães) pudessem sacar de cá, à pressa, o dinheiro que tinham emprestado. E, no fim disto tudo, o país muito pior do que estava antes. A trapaça que tem sido a base da governação de Passos e Portas é explicada por Philippe Legrain que foi conselheiro económico independente de Durão Barroso. A não perder a sua entrevista ao Público.


Reportando-me ao período negro que se seguiu à grave crise financeira internacional, Portugal começou por ser vítima da chantagem de Marco António Costa sobre Passos Coelho (ou o País vai para eleições ou é o PSD que vai para eleições).

Depois foi vítima da aliança mais espúria de que há memória: refiro-me a quando o PSD, o CDS, o PCP e o BE se uniram para chumbar o programa de ajustamento (aprovado pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu), sabendo que daí adviria a queda do Governo PS e que, havendo eleições, iria para o poder a dupla PSD+CDS, dois partidos chefiados por pessoas nada credíveis, nada sérias, incompetentes e impreparadas.

Miopia política, sectarismo, o pequeno espírito tuga no seu pior: defendendo o clube e marimbando-se para o País. Assim Portugal se vai ciclicamente enterrando.

Depois tem sido o que se tem visto. Sobre um monte de mentiras, Portas e Passos formaram um governo de uma indigência assustadora, quer a nível político, quer a nível de competência, quer a nível de visão estratégica - a todos os níveis. 

Gente como Passos Coelho e Paulo Portas são do melhor que há para empresários experientes, para especuladores, para investidores habituados a negociações complexas.

Depenam-se patos enquanto o diabo esfrega os olhos. 


Gente deslumbrada, com uns rudimentos de liberalismo na cabeça (rudimentos muito rudimentares, que os cábulas nunca aprendem verdadeiramente coisa nenhuma), gente sem carácter, é do melhor que há para quem quer entrar num País sem sentir resistência e sacar de cá rapidamente o 'seu' (dinheiro que, antes, cá tinham metido para conseguirem que tivéssemos dinheiro para lhes comprarmos o que nos foram impingindo, os seus excedentes, o que lhes proporcionou - e proporciona - o equilíbrio das suas contas).

Sem perceberem pitada do que se passou, sem perceberem pitada das 'soluções' engendradas pela troika, e todos contentes por serem primeiros-ministros, vice-primeiros-ministros e ministros e por poderem fazer as asneiradas que tinham naquelas cabeças de alho chocho, com o campo livre para poderem exercer aquele poder rasteiro e malévolo em que os medíocres são exímios, Passos, Gaspar, Moedas, Portas, foram avançando, sem rumo, sem coerência, sem consistência, apenas destruindo tudo à sua passagem.

E digo isto desta maneira, como se destruir tudo à passagem, fosse coisa pouca, porque, cada vez mais, acho que há nesta gente maldade, insensibilidade, instintos vingativos (os medíocres gostam de se vingar de tudo e de todos), mas acho que há sobretudo ignorância, nem medem as consequências das asneiras que fazem e isso é tanto mais perigoso quanto, como seres medíocres que são, não assumem os erros, tapam-nos com outros erros, e tudo na maior insensibilidade.


Rosa, uma mulher debilitada, com cancro, 

teve alta do Hospital Joaquim Urbano, no Porto,
mesmo sem ter uma casa para onde ir.
Passou uma tarde nas escadas de uma igreja, 

onde não viu o céu, até a Segurança Social lhe arranjar um quarto. 

O inferno em que vive está agora escondido numa pensão.


(notícia do Público)

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Que haja centenas de milhares de pessoas que não recebem um tostão para sobreviver, centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder pagar a electricidade, tanta gente que perdeu as casas, tanta gente que está com os ordenados penhorados e, talvez tão grave quanto isso, tantos milhares que tiveram que emigrar, sobretudo jovens qualificados, isso para eles não existe.

Ou melhor, existe: existe como aspecto a ter em atenção em discursos ou acções de campanha em que dirão que estão a tomar estas medidas porque era indispensável e porque é dos escombros que vão fazer renascer os amanhãs que cantam e que, por eles, também não quereriam ter desempregados, emigrantes, etc, e que estão a fazer tudo a bem dos mais desfavorecidos. Bla-bla-bla. Música. Patranhas como tudo o que sai daquelas bocas.

Naquelas bocas infectas, não há pudor.

Onde falta a honra, falta tudo.


Com patos como estes, qualquer outro incompetente (por mais frouxo que seja, como Olli Rehn) ou qualquer outro banana (como o cherne de má memória) faz voz grossa.

Com gente destas, os de cá e os da UE, qualquer empresário experiente, qualquer banqueiro, até qualquer chico-esperto, faz o que quer. Com uma perna às costas.

Gentinha medíocre destas apanha-se à mão.

Depois mete-se no bolso.

Sem espinhas.

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Vem isto a propósito da entrevista ao Público de Philippe Legrain que foi conselheiro económico independente de Durão Barroso, entrevista que deverá ser lida com muita atenção: Ajudas a Portugal e Grécia foram resgates aos bancos alemães


Transcrevo alguns excertos porque revejo-me no que leio (e quem aqui me costuma acompanhar sabe bem que esta é a minha linha de pensamento) e faço questão de aqui ficar com este registo.

:

É preciso lembrar que na altura havia três franceses na liderança do Banco Central Europeu (BCE) – Jean-Claude Trichet – do FMI – Dominique Strauss-Kahn – e de França – Nicolas Sarkozy. Estes três franceses quiseram limitar as perdas dos bancos franceses. E Angela Merkel, que estava inicialmente muito relutante em quebrar a regra do “no bailout”, acabou por se deixar convencer por causa do lobby dos bancos alemães e da persuasão dos três franceses. Foi isto que provocou a crise do euro.

Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi claramente o que aconteceu em Portugal. As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.

Maria Luís Albuquerque - grande perita em swaps
Carlos Moedas - ex-Goldman Sachs
Vítor Gaspar - actualmente no FMI
(...) os Governos puseram os interesses dos bancos à frente dos interesses dos cidadãos. Por várias razões. Em alguns casos, porque os Governos identificam os bancos como campeões nacionais bons para os países. Em outros casos tem a ver com ligações financeiras. Muitos políticos seniores ou trabalharam para bancos antes, ou esperam trabalhar para bancos depois. 

Há uma relação quase corrupta entre bancos e políticos. 


No meu livro defendo que quando uma pessoa tem a tutela de uma instituição, não pode ser autorizada a trabalhar para ela depois.



Houve orientação política, só que vinha da Alemanha. E a Alemanha aconselhou mal, em parte por causa da forma particular como os alemães olham para a economia, por causa da ideologia conservadora, e porque agiu no seu próprio interesse egoísta de credor em vez de no interesse europeu alargado. A UE sempre funcionou com a Alemanha integrada nas instituições europeias, mas aqui, a Alemanha tentou redesenhar a Europa no seu próprio interesse. É por isso que temos uma Alemanha quase-hegemónica, o que é muito destrutivo.



(...) Mas a recessão foi desnecessariamente longa e profunda e, em resultado dos erros cometidos, a dívida pública é muito mais alta do que teria sido. A austeridade foi completamente contraproducente, as pessoas sofreram horrores e isso prejudicou imenso a economia.

Só que a culpa não é dos ‘mal-comportados’ portugueses ou gregos, a culpa é de Angela Merkel que aceitou resgatar os bancos alemães com os empréstimos a Portugal e Grécia. 

Não é verdade que os aumentos salariais no sul da Europa foram excessivos nos anos pré-crise. Em termos de peso no PIB, os salários até caíram. 

Por isso não é verdade que esta foi a causa da crise, não é verdade que os salários precisavam de ser reduzidos. Só que esmagar salários provoca o colapso do consumo, agrava a recessão e agrava o peso da dívida, porque se os salários baixam, é mais difícil pagá-la. 


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'Deutschland, Deutschland über alles', deveria ser o hino da coligação PSD/CDS se eles percebessem alguma coisa do que se passou  - mas não percebem.

Vão cair sem perceber o que se passou. Vão escrever, para uso próprio a sua pequena história, onde inventarão peripécias, pequenos feitos, gabarolices pacóvias.


Vão escrever, disse eu? Disse mal. Não têm arte para isso. Provavelmente, uma vez mais, a Felícia Cabrita, amiga do figurão (e com a experiência que já tem a escrever sobre patifes ou aldrabões), aceitará o convite para reescrever a história deste período negro da história portuguesa. 

Henrique Raposo aplaudirá, enrolando as palavras em historietas pseudo-neo-realistas de subúrbio, Maria João Avillez nessa altura já se deverá ter demarcado, tal como Marcelo Rebelo de Sousa (entre as suas rábulas de revista à portuguesa em que se põe a fazer humor ridículo a propósito do Seguro) se demarca à força toda, e tal como Marques Mendes, e tal como toda essa gente que antes apoiava o láparo e que agora bate em retirada.

José Gomes Ferreira será o idiota útil para, com a sua falta de conhecimentos, misturar alhos com bugalhos e, com ar muito afirmativo, confirmará que os números, quando torturados, dizem qualquer coisa. E muita gente concordará com ele porque os populistas dizem coisas dadas ao consenso.

Ricardo Costa e Henrique Monteiro dirão que sempre disseram.

Cavaco Silva dirá que, num dos seus Roteiros, deu a entender que.


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  • A segunda imagem provém do blogue We Have Kaos in the Garden. Das restantes desconheço a sua proveniência original com excepção da fotografia da mulher deitada na rua cuja origem é referida da legenda.
  • A entrevista na íntegra pode ser lida aqui.

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Para acabar este post que já bem longo vai, permitam-me que volte a colocar aqui uma canção de que gosto bastante. 

Aquilo que eu não fiz - Tiago Bettencourt




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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.


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3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela sua lucidez, o retrato de país decadente e de um povo absorto, o actual Portugal, mas vendido por maravilha.

Anónimo disse...

Um excelente Post. Uma bela malha sobre este desgraçado país sob as garras deste governo.
Subscrevo.
P.Rufino
PS: Entretanto, ouvi as notícias na TV sobre a visita do tipo de Belém a Pequim, acompanhado do panhonhas da Economia, do CDS, e arrepiei-me. Lá vão eles procurar incentivar mais uns tantos chinos sem escrúpulos para aqui virem comprar empresas a pataco e que não deveria estar nas mãos deles, como os Transportes. Uma vergonha! Se o povo não correr com eles em 2015, não sei o que será deste país 4 anos depois.
Até ando angustiado, tudo isto, o país e o futuro!

Anónimo disse...

Olá UJM!

Já tinha saudades de vir aqui ao seu blog!

UJM, não sejamos tão críticos! Estamos a falar de gente com talento! Há que reconhecê-lo, caramba!

http://youtu.be/fZgsR794OFk
http://youtu.be/dVzAwUOnV8k

Porque a ironia deixa-nos sempre com um travo amargo na boca,veja-se também este video que não nada a ver com nada, mas é pura magia, arte, ilusionismo!

http://youtu.be/zOa8kbiroQc

E já que estamos numa de vídeos, só mais um, para aprendermos o que são "cheap applause":

http://vimeo.com/79673665

Quanto ao resto, é como dizia o João da Ega: dedo no nariz, meus caros, dedo no nariz!

Uma ótima semana,
JV