quarta-feira, março 19, 2014

'Não sabíamos que está dentro de nós'. José Tolentino de Mendonça e a poesia de Adélia Prado, Manoel de Barros, Ferreira Gullar. E a fotografia de Yuval Hen e as esculturas de Onishi Yasuaki. E a música de uma princesa otomana. Ou quando a beleza se junta, leve, branca, simples.


No post a seguir a este falo, com gosto, das profissões que se confundem com a vida e, em particular, falo de uma profissão a que, verdadeiramente, nunca tinha prestado muita atenção: a dos desenhadores de letras. O filme que acompanha o que escrevo é eloquente.

A seguir falo de uma outra profissão: a de barbeiro. E mostro um, que dizem ser o melhor do mundo e que, notoriamente, também exerce a sua profissão com um prazer quase descontrolado.

Mas isso é a seguir, lá mais para baixo. Aqui, agora, a conversa é outra.


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Para já, para nos acompanhar no percurso das palavras, a música das mulheres

(Compositoras otomanas)



[Destaque para a segunda peça da autoria da Princesa Refia Sultan]


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'Na sua essência, a poesia é algo horrível: nasce de nós uma coisa estranha que não sabíamos que está dentro de nós'
Czeslaw Milosz




O português reinventado por Adélia Prado é uma língua que junta quotidiano e revelação; uma língua que não se envergonha do seu uso doméstico, mesmo quando impreparado, descosido, iletrado; uma língua onde a palavra é coisa; uma língua que pergunta sem parar; que hospeda o 'esplêndido caos de onde nasceu a sintaxe(...); uma língua que não é explicação; uma língua que não quer ser monumento, nem símbolo; uma língua rasteira, experimental e mística.








(Manoel de) Barros inventa uma nova arte combinatória para as palavras, e o fraseado da nossa língua descobre a delícia e a irrequietude do insólito. A língua torna-se artesanal em vez de mecânica. Perde o desinteressante ar enfatuado e vago com que se defende. Ganha humor, precisão e infância. Torna-se moderna e primordial. Preciosa como um desenho rupestre. Um concerto a céu aberto para solos de ave. Um protocolo vegetal. Um tratado geral das grandezas do ínfimo.






O português de Ferreira Gullar é maravilhosamente único. Com ele aprendemos que a língua gesticula e é gráfica nas suas torções sintáticas, encontra soluções para lá da lógica, inventa combinações fónicas que não existem no nosso código linguístico, escapa ao convencional, desarticula-se, faz cortes, torna-se vinculada e concreta nas suas colocações, abre parêntesis, é espúria e puríssima e é tanto mais lírica quanto dissonante. A língua vai e vem, faz-se e desfaz-se, e esse movimento é a sua estrutura: a dialética incessante de superação e recuperação do universal e do singular, num obstinado expor-se à prova do mundo.




(O maravilhoso amor pela língua portuguesa)



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Onishi Yasuaki - Vertical emptiness



A beleza branca do abandono





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A música das compositoras otomanas  foi-me dada a conhecer pelo Autor do blogue A Matéria do Tempo onde eu tanto aprendo e me surpreendo.


As fotografias são da autoria do fotógrafo Yuval Hen que está a dar que falar. Não têm directamente a ver com as palavras mas eu queria ter imagens brancas com mulheres, imagens em que as mulheres parecessem quase flutuar como se o mundo das palavras as levasse para um espaço sem gravidade, sem maldade, sem pressa - e estas pareceram-me adequar-se ao que eu queria.


O filme mostra-nos a obra do artista plástico Onishi Yasuaki 


Os excertos acima transcritos fazem parte da belíssima crónica desta semana de José Tolentino Mendonça na Revista do Expresso ['Não sabíamos que está dentro de nós' de 'que coisa são as nuvens]. Só ele mesmo, homem de palavras suaves como uma brisa gentil no fim da tarde, para nos falar assim, com tanto amor, das palavras de outros, poetas como ele.


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Muito gostaria ainda de vos convidar a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde hoje tenho um vídeo inesperado: Eduardo Tornaghi lê e fala de Adília Lopes. Mais uma agradável surpresa.


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Relembro: se descerem por aí abaixo encontrarão profissionais que exercem a sua profissão com inusitado prazer. Uns felizardos: desenhadores de letras e um barbeiro.


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E com isto me despeço por agora. 
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira. 
Procurem a beleza à vossa volta, sim?

5 comentários:

Bob Marley disse...

Neste momento temos metade gato branco e metade gato preto a que chamam coligação (3.39 min),mas vejam tudo - http://www.youtube.com/watch?v=MEL48khJHRQ

Bob Marley disse...

AQUI NEM FALAM, LOGO PARA A ACÇÃO (ERA NATURAL , FAZEREM PARÓDIA DO ORIGINAL) - http://www.youtube.com/watch?v=NaGAkU_K_EY

Bob Marley disse...

ABERTURA DO MUNDIAL (BRASIL) ASSIM, FICAVA NA HISTÓRIA - http://vimeo.com/88549122

E MILHÕES COM PELE DE GALINHA, TIPO PROJECÇÃO DO MELHOR DO PAIS COM RESUMO HISTÓRICO DO FUTEBOL(FICA A IDEIA)

Bob Marley disse...

se estiver longe do carro, encoste o comando à tola - http://www.youtube.com/watch?v=0Uqf71muwWc#t=192

Bob Marley disse...

fiquei a saber que tenho muita (mesmo muita) música no meu pc - http://www.youtube.com/watch?v=OMq9he-5HUU