No post abaixo já vos falei de como, entre dormir e acordar (efeito do comprimido que tomei), dei com o vice-irrevogável Portas a falar não de submarinos mas sim, imagine-se, de porta-aviões. E como, a seguir, dei com o Pires de Lima a confessar que exagerou quando falou em milagre económico. Aquilo ainda é coisa de quando vendia cervejas e tinha que ser criativo na publicidade.
Estava com esperança de me manter acordada e escrever mais qualquer coisa mas, qual quê?, uma sonolência...
Por isso, vou limitar-me a deixar-vos aqui matéria para reflexão. Quando estou assim como agora estou, dá-me para pensamentos profundos.
Vinha tudo à baila: Deus, o universo, os filósofos e a política.
Agregavam-se às vezes àqueles homens alguns rapazes, que os ouviam fascinados. Eu era um deles, e ouvi-lhe, uma noite, estas palavras que nunca mais me esqueceram:
– Escusam de procurar... a nossa ruína não vem dos políticos nem do regime.
Mudaremos o regime e ficaremos na mesma. O mal é mais profundo – o mal é da raça.
– A raça? Mas, com esta raça, descobrimos o Mundo!...
– O mal é da raça. Se quisermos modificar o País, temos de fazer exactamente o mesmo que se faz com os cavalos, temos de mandar vir homens do Norte, ingleses, escandinavos ou suecos, e de montar aqui e além postos de cobrição.
Leio isto e fico a pensar. Será isto que o Lombinha dos Saudosos Briefings e o Poiazinha Madura, os neo-olheiros do regime, têm em mente quando prometem golden visa para imigrantes talentosos.
Será? Será que querem apurar a raça? Será que essa será o próximo passos coelho a saltar da cartola? Primeiro atraíram chineses, russos, angolanos, guineenses equatoriais. Depois dizem que depois de malta da pesada, dos que lavam dinheiro, canibais, gente de mete medo à UE e etc, agora querem gente com talento.
Ou seja, não é do talento que os da primeira tranche mostram que andam agora atrás. Ora bem: é bem capaz de ser malta para os ditos postos de cobrição. Eu já não digo nada. Das cabecinhas pensadoras deste desgoverno tudo é possível.
Mas, uma vez mais, lamento que desprezem os que cá estão para depois irem dar vistos golden aos que vêm de fora. Então não temos por cá gente talentosa?
A Érica, a Vencedora, que o diga, revelando o segredo do João, seu colega na Casa dos Segredos (ou no Desafio Final?), respondendo a uma Fátima Lopes salivando por uma resposta circunstanciada, mas diga lá, tem que ser capaz de dizer o que é que o João tem de especial, nham, nham.
(Com um João que tem um material que envergonha pretos... ingleses, escandinavos, suecos para quê? )
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Bem agora vou-me deitar porque já me está outra vez a doer mais o pescoço e além do mais, no registo em que vou, ainda acabo a dar mais pretextos aos meus filhos quando tentam apelar a que o pai controle o que a mãe aqui escreve.
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O texto em itálico faz parte de 'Sangue' in 'Vale de Josafat – Memórias, Tomo III' de Raul Brandão, 1933.
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Sobre o Paulinho das Feiras a ver se exporta porta-aviões numa feira de enchidos (estou a brincar, não sei se a feira era de enchidos) e sobre a santinha arrependida, a Pirosa Limiana, é favor descerem até ao post abaixo.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira!
Haja saúde e boa disposição.
7 comentários:
Olá outra vez, UJM!
UJM, o problema não é a raça, não senhor! Os portugueses têm uma coisa que uma vez quando era ainda muito nova ouvi um senhor dizer: passam a vida a "medir piças" (não me censure, por favor, a expressão não é minha :)).
Isto é, quando em negociação, cada um não quer apenas fazer o melhor negócio possível para si à custa do outro, à inglesa. Não! Os ingleses sabem que se abusarem podem ficar sem negócio, que é pior do que fazer algumas cedências, por isso há um " self-restraint". O objetivo é sempre económico, uma questão de custo de oportunidade: enquanto o negócio vale a pena, fazem-se cedências.
Ora bem, o português é diferente: muitas vezes sacrifica o objetivo económico para ganhar o jogo das "piças". Umas vezes, faz uma proposta que nunca ninguém aceitaria e que se lhe fizessem a ele, tomando-o como parvo, se sentiria insultado (isto é quase sempre obra de advogados, que na ganância de defender o seu cliente a todo o custo, estragam negocio atrás de negócio, prejudicando-os sistematicamente). Outras vezes, têm uma boa proposta em mãos, mas em vez de aceitarem, porque não conseguem melhor, armam-se em picuinhas, apontam defeitos ao que o outro está a oferecer, querem sempre poder dizer que deram mais do que o que receberam. Às tantas o outro ofende-se, e lá se foi o negócio. Lembra-se da tal proposta que nunca ninguém aceitaria: pois bem, às vezes, o português está tão desesperado que aceita, e depois, mesmo antes da finalização do contrato, diz que há uns problemazinhos (os tais que levavam ninguém a aceitar a proposta). Ele nunca quis aquele negócio, mas disse que aceitava tudo, que estava tudo bem, para não afugentar o cliente, na esperança de que ao falar nos problemas depois, ainda se faria o negócio. Pois bem: nunca se faz.
Sempre a adiar o problema, sempre a adiar dar a má notícia, mesmo que se saiba que se vai ter de dá-la, andando entretanto a perder tempo com um negócio que está condenado ao insucesso. Ora aqui está o problema da produtividade!
Devo estar quase a ultrapassar o limite de caracteres, por isso, a continuação vem já a seguir.
A causa dessa indignidade e falta de civismo no comportamento perante o outro, a falta de boa fé na negociação, não é a raça, porque basta um português passar uns anos em Inglaterra, na Alemanha, na Suiça, ou nos EUA, para os negócios que celebra serem lineares, agir com correção do inicío ao fim e sem dissimulações. Não digo que no estrangeiro não haja dolo e fingimento, tentar lucrar à custa do outro. Na Common Law anglo-saxonica nem existe essa coisa da exigência da boa fé nas negociações. Mas todos sabem ao que vão e a melhor maneira de sair a ganhar e dar aos outros a ganhar. Aqui, finge-se que se está de boa fé, dá-se muitos elogios, mas não se abre o jogo: não se diz claramente as condições do negócio.
Porquê esta mentalidade? É o clima? É a geografia?
Sabia que vencemos aos espanhois cerca de 40 batalhas pela independêcia, desde a formaçao da nacionalidade até meados do séc. XV, portanto excluindo as pós-1640? Um pequeno país que podia ser uma Catalunha ou um País Basco, reinado a partir de Castela, que existe porque houve um tipo que não queria mais ser vassalo do primo e faltou à palavra que o aio (quiçá pai) deu em seu nome para poder ser rei, jugando sujo, venceu tantas batalhas. Dá que pensar, havemos de estar aqui por algum motivo. E depois os descobrimentos, a expansão marítima, é uma história linda, épica, como não há outra. Como não há outra!
E então vêm os Padres Antónios Vieiras, os Fernandos Pessoas, os Almeidas Garretts, etc. com a história do 5º império, do sebastianismo, etc., etc. Que raiva me dá essa treta toda! Essas manias de grandeza! Todos dizem que somos provincianos, mas vêm com essas teorias, esses mitos e exoterismos (o Pessoa - um tosco, um bêbedo, desculpem-me os admiradores, mas admitindo que nalguns poemas se possa admirar a beleza estética e até uma ou outra ideia interessante que contenham, é um bebdoulas xenofóbico, que escreve uma prosa horrível, um doido, no fundo - o Pessoa diz que até o Eça de Queirós era um provinciano, precisamente um dos poucos que portugueses que não o era).
Conhece o movimento da Filosofia Portuguesa do século passado? Que coisa abjeta! Herdeiros da Escola do Porto do Agostinho da Silva e Santana Dionísio dizem que há uma filosofia especificamente portuguesa. Não se trata de todos os filósofos portugueses, não, é um modo de filosofar português. Um país que não tem, nunca teve, filósofos, tem um movimento único no mundo que diz que temos uma filosofia só nossa. Uma mediocridade tremenda, um provincianismo, que é o que eles próprios dizem que nos caracteriza.
Somos um país periférico e sempre tivemos esse complexo, sempre fomos atrás da Europa, da Moda francesa, das ideologias inglesas, etc., já o João da Ega dizia que importamos tudo e que depois nada nos serve, ficamos com as mangas demasiado curtas ou compridas.
Mas este não é um problema só nosso, também os russo sempre se consideraram periféricos. E outros países que, mesmo no centro da Europa, por serem pequenos e quase sempre ocupados por outros, centram muito as atenções na sua condição específica, por exemplo, a Bélgica. Mas mesmo um Dostoievsky muito centrado no específico problema russo (da igreja ortodoxa que destronaria a de Roma, etc.) tem muito de universalidade nos livros que escreve. As suas personagens, muito russas, são também muito humanas. Os problemas por que elas passam, sendo muito russos, sã também muito humanos e portanto muito universais.
Agora olhemos para o Eça. Acho mesmo que é um dos maiores escritores de todos os tempos, escreve mesmo muito bem, como muito poucos. Mas analisando esta questão da especifidade nacional, vemos que as personagens são menos universais, são mesmo só portuguesas. As suas obras são como grandes paradas, grandes cenários, as personagens são secundárias, o ambiente é o principal, aí está a universalidade do Eça, por isso não é tão problemático que os protagonistas sejam tão pouco universais. Não se trata de provincianismo, de maneira nehuma, mas o Eça que era, no fundo, um estrangeirado, olha para Portugal de fora para dentro. Sendo o país dos descobrimentos olhamos sempre para Portugal de fora para dentro, e vemos um país de gente inculta, desonesta, feia. É muito difícil um estrangeiro ter paciência para os Maias (sei que para muitos portugueses também, mas digo um estrangeiro culto que goste de boa literatura), mesmo admitindo que o Eça é um grande escritor. Porque quase nem há história, ninguém quer saber do amor dos dois irmãos, o que importa ali é ver como é o português e isso não interessa nada ao estrangeiro. Qualquer um lê Dostoievsky dez vezes seguidas. É a alma humana que está ali. E repare que o Eça é universal. Há nos Maias aquela personagem inglesa, o Craft, que é um tipo espetacular, mas passa a vida a dizer "curioso" sempre que acontece alguma coisa às outras personagens, as portuguesas, seja trágica ou divertida. O Eça topou muito bem o tipo inglês: que vê todos os outros como ratos de laboratório ou animais do circo, observando-os para ver como reagem, para se divertir, lá do alto na sua superioridade inglesa. Mas é um universalismo muito pouco humano, não sei se é esta a melhor expressão, mas é a que me ocorre.
Se nos deixássemos de 5ºs impérios e sebastianismos, se admitissemos que temos uma história engraçada, que desempenhámos um papel de relevo na história da Humanidade com os descobrimentos, se pensássemos mais de dentro para fora, como até a nossa geografia propicia - caramba!, estamos virados para o mundo, de frente para o Oceano - podíamos preocupar-nos menos em ser Grandes como os Pessoas dizem que devemos ser, mas sim em portarmo-nos bem uns com os outros, tentar desenvolver este país que tem um sol maravilhoso, ser menos tristes e lamurientos. Porque não faz sentido passarmos a vida a dizer que somos provincianos e que temos uma Missão tipo 5º Império do Espírito e da Filosofia a desempenhar.
Bem sei que me excedi bastante, que não devia ter escrito tanto, mas agora já não dá para apagar tudo. De certeza que me vou rir imenso quando ler o comentário depois de publicado, mas pronto, agora já está.
Cumprimentos,
JV
a origem do Moonwalk - https://www.youtube.com/watch?v=EsmxsX7fo9I
quando ouço falar em linear, lembro-me sempre do art.º 2.º do Código Comercial
Art.º 2.º -
Actos de comércio
Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar.
isto porque, se não me engano foi preciso 3 aulas de 1h30 para analisar o art.º ou o professor era fraquinho
Bom, a cena da cerveja...Meu Deus! Eu que prefiro vinho, até passava a beber cerveja mais vezes, para além do Verão!
Quanto aos cavalos, aquilo poderia ter outra interpretação: o castanho ser o governo, o branco o povo!
Quanto à Erica (que nome piroso, mas é assim hoje em dia, há muitas já), o que ela diz, sobretudo com o carinho com que fala do “marçapo” do dito João, leva-me a pensar que as diferenças entre pessoas –hoje em dia - já não são como lamentavelmente há umas 4 ou 5 décadas atrás, sobretudo de carácter económico e financeiro, mas de nível educacional e cultural. O que não quer dizer que as Ericas e Ericos desta vida, neste preocupante país, não venham, no presente e no futuro, a alcançar lugares de relevo - quer económico, quer político (veja-se o Erico Relvas, o Erico Passos, etc, etc e outros exemplos no feminino). O que não significa que fazem parte de um patamar onde se priviligia a Educação e a Cultura. Como dizia o célebre “Outro”: “meu caro, não se pode ter tudo!” Ora bem! Enfim, a boçalidade, aos poucos, vai vingando. E a malta ri e goza. Este país está ficar como aquele filme antigo “feios, porcos e maus”. Mas, o povo gosta. Bom proveito! À barriga e ao peito! E ao que mais ocorrer ao povo.
P.Rufino
Cara JV (Cavaco Cavaquices),
Gostei de ler o que escreveu.
Sabe, isto a propósito do Grande Eça que invocou, é que deu-me para reler, recentemente, “A Cidade e as Serras”. Como ando numa, definitiva (penso eu!), de renegar a Cidade e marchar, mais dia, menos dia, para as Serras, ando farto de Cidade, deu-me para ir repescar aquele delicioso livro do Eça e voltar a lê-lo. Como que a ir buscar “apoio” e “conforto” aos meus pensamentos bucólicos. Sempre gostei do triumfo da Terra/Campo sobre o Cimento/Cidade (embora conceda que na vida real a chatice da cidade se impõe ao campo, basta olhar para os números de quantos vivem num e noutro sítio e como os governos ignoram e maltratam a Província).
P.Rufino
PS: o ultimo comentário do Marley está muito bem apanhado, de bom humor! Em boa verdade, é caso para se dizer que o Legislador daquele Articulado era um tipo “inspirado”: um pouco como o “porquê” e da resposta “porque sim!”
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