O economista e professor universitário Liem Hoang Ngoc, nascido em Saigão, é eurodeputado francês e é um dos dois responsáveis do Parlamento Europeu pela investigação em curso à acção da troika nos países sob programa de ajuda externa – Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre. O relatório de que é co-autor vai ser discutido em Março no Parlamento Europeu.
O Público divulga uma interessante entrevista que merece atenta leitura. Transcrevo alguns dos pontos abordados.
Mas quem é que falhou aqui? A Alemanha e outros países ditos rigorosos que impuseram as suas escolhas, ou a Comissão, que não desempenhou o seu papel de guardiã do interesse geral europeu?
(...) Também sabemos todos que a Comissão é fraca e que certos Estados, em 2009, quiseram uma Comissão fraca e por isso reconduziram Durão Barroso [como presidente] e nomearam comissários também eles fracos.
E o actual Governo o que disse?
(...) Barroso e a Comissão modificaram os critérios de cálculo da dívida portuguesa em 2011, o que resultou num défice maior que levou à imposição de medidas de austeridade negociadas no memorando mais duras do que as que Sócrates queria. E, depois da sua vitória, o Governo português aplicou medidas de austeridade ainda mais duras. Em Portugal procedeu-se a uma desvalorização interna [de salários] pretendida pelo FMI em simultâneo com uma consolidação orçamental acelerada. E o cúmulo do cúmulo é que não só o PSD aplicou uma política de austeridade mais dura, como há coisas bastante opacas que aconteceram: a privatização da Energias de Portugal (EDP) fez-se em condições que merecem ser esclarecidas. Podemos perguntar-nos se não houve um conflito de interesses quando observamos que o senhor Catroga está à frente da EDP privatizada que é hoje detida pelos chineses.
Pensa que a dívida portuguesa também deveria ser reestruturada?
É uma questão, mas não a invocámos na viagem. Ninguém levanta esse problema, porque Portugal está a regressar aos mercados para se financiar e toda a gente teme que uma reestruturação provoque uma tensão sobre as taxas de juro. Não ouvi ninguém em Portugal colocar o problema, também porque o que o Governo nos fez foi conversa fiada.
Os outros governos foram mais abertos?
Muito mais, muito mais mesmo. Na Grécia, com Stournaras, tivemos um debate muito bom. Na Irlanda, Michael Noonan [ministro das Finanças] disse claramente que quer que o ESM [mecanismo de socorro do euro] resolva retroactivamente o problema dos bancos, assumindo 30% da dívida irlandesa resultante do salvamento dos bancos feito quando o ESM ainda não existia. E, em Chipre, as autoridades são muito críticas face à troika e à política de dois pesos e duas medidas assumida em função dos interesses financeiros de cada um.
Então o Governo português é o mais "pró-troika"?
Absolutamente! É conhecido que o Governo português é o melhor aluno da troika, foi por isso mesmo que fomos lá em primeiro lugar.
E a conversa fiada foi feita por quem? Pelo vice-primeiro-ministro Paulo Portas?
Maria Luís Albuquerque também não esteve mal nesse aspecto.
Entre Portugal e Grécia, qual é o programa mais duro?
A Grécia e Portugal são dois exemplos de aplicação dos dois travões ao mesmo tempo, a austeridade orçamental e a deflação salarial, com as mesmas consequências catastróficas sobre o crescimento económico e sobre a dívida. A Irlanda é um caso à parte, porque foi no início uma crise bancária que se fez pagar depois com um resgate que pesa sobre as pessoas através da austeridade.
Que conselho é que daria ao Governo português para sair desta crise?
Aconselharia o Governo a considerar que as reformas estruturais estão feitas e que é preciso aplicar uma política macroeconómica adequada para apoiar o crescimento. Isso pressupõe que se recupere margem de manobra, nomeadamente em matéria de política orçamental, o que significa renegociar algumas coisas no quadro do memorando a propósito da redução do défice. O que temo é que, num contexto de regresso ao mercado e de programa cautelar [para proteger o país de eventuais flutuações excessivas das taxas de juro], se venham a endurecer as políticas de austeridade.
*
***
Este Governo é uma vergonha para o País. E é um desastre para os Portugueses.
2 comentários:
Portugal está hoje nas mãos de políticos venais, submissos aos Mercados, de políticos de extrema-direita, como Passos, Albuquerque, Portas (quem viu Portas afirmar o que afirmou sobre os políticos e a Política quando ainda estava no Independente, cujas frases, opiniões, trejeitos, etc, circulam hoje no You Tube, para quem quiser ver!) perceberá melhor a sua, deles, prática ideológica – de reagir com uma imensa vontade de vender e destruir socialmente o País e de impôr um cenário Ultra-Liberal. Gente abjecta! Um monte de asco! UJM termina com uma frase que no fim de contas diz tudo do que se está a passar e que subscrevo na íntegra: “Este governo é uma vergonha para o País. E é um desastre para os Portugueses.” Nem mais!
P.Rufino
Olá, UJM!
Balofa alemã?!! A Merkelzinha!
A Merkel é a única estadista em toda a Europa! Depois da verdadeira desilusão que foi o Hollande (como nunca tinha tido!), dos imcompetentes e corruptos Rajoys e Coelhos, dos palhaços italianos, do sonso do Cameron, e dos certinhos escandinavos e holandeses que estão muito pior do que aparentam (aquilo na Finlândia com a história da Nokia, está a ir de mal a pior), a Merkel é a única que continua não deixar que a Europa caia no descalabro! É ela que tem mantido os alemães contentes para que os extremistas acalmem os cavalos e tem feito muitas cedências, só não faz mais porque não há quem saiba que alternativas apresentar!
Deixo este vídeo para que todos se lembrem de que Merkel apoiou o PEC4, apoiou Sócrates, apoiou Portugal, e o que é que nós fizemos: pegámos na ajuda que nos estava a dar e atirámos para o lixo! Também ficava um bocadinho ressabiada!
http://youtu.be/JkITsnqZyUo
Bom fim de semana,
JV
Enviar um comentário