segunda-feira, janeiro 20, 2014

Pedro Reis do AICEP, Paulo Portas, o irrevogável vice, Assunção Cristas, a ministra que não se sabe bem o que faz, e Nuno Vieira e Brito, o Secretário de Estado da Alimentação, juntaram-se para brincar às bandeirinhas e para festejar o sucesso que estão a ter na venda de passarinhos, peixinhos, gatinhos, cãezinhos, ratinhos, figos, doces de ovos e sémen de várias espécies. Grandes estadistas. (Ou grandes artistas?). O Expresso fotografou o grande momento.


Há bocado, depois de ter andado a apanhar brinquedos por todos os cantos possíveis e imaginários (e há uma bendita tartaruga ninja que ainda continua desaparecida) e a arrumar minimamente a casa, foi hora de descansar um pouco. Já o telejornal ia avançado, coloquei uma écharpe quente sobre os ombros, acomodei-me num canto do sofá e atirei-me ao Expresso. No entanto, a cada meia dúzia de parágrafos os olhos queriam fechar-se e, quando segundos depois vinha a mim, já tinha dificuldade em situar-me.

Por exemplo, tinha pegado no Expresso Economia quando apaguei momentaneamente. 

Quando abri os olhos, fiquei a olhar para a fotografia da capa como se outra coisa qualquer me tivesse vindo parar às mãos. Estou a falar a sério. Olhei com mais atenção para perceber se aquilo era alguma encenação a pedido do Expresso ou se era algum número de Carnaval.
[Isto de achar que a fotografia já era coisa de Carnaval deve ser porque, de manhã, fomos visitar os bombeiros e os dois manos pimentinhas vieram em transe, o mais novo só fala em vestir-se de bombeiro e, quando sugerimos que talvez pudéssemos mascará-lo de bombeiro no Carnaval, o irmão quis a mesma coisa; a minha filha até sugeriu que a família toda se mascarasse de bombeiros, saíamos à rua como um verdadeiro corpo de sapadores. Os pimentinhas deliraram com a perspectiva.] 
Continuando. Uns quantos brincalhões debruçados sobre uns mapas com bandeirinhas. Um dos brincalhões é o inigualável vice-Portas que agarra com ar contente a bandeirinha de Portugal sobre o território do Brasil. Pensei: Eh lá: querem lá ver que conquistou o Brasil de volta...?! 


Pedro Reis, o gémeo separado à nascença de Freitas do Amaral, quase se baba de alegria por ver o jeito que o Paulinho tem a brincar com bandeirinhas.
Assunçãozita quer imitar o patrão mas vê-se que está só a fazer uma gracinha para a fotografia
O ajudante de Madame Cristas, Nuno Vieira e Brito, espreita como se estivesse curioso com o desfecho da brincadeira




Intrigada com o despropósito, fui ver que cena era aquela. Cena nenhuma. Mais um frete do Expresso. As agências de imagem e comunicação a fazerem o seu trabalhinho e o Expresso a alinhar, quiçá como paga a algumas 'fontes próximas' ou 'bem informadas'. Ou por outro qualquer obscuro desígnio. Ou por falta de assunto. Sei lá. O que sei é aquela desarrumação toda, um mapa em cima da mesa com bandeirinhas e fotógrafos chamados de propósito para captarem o grande momento, foi para que os víssemos a festejar o aumento de 12,3% nas exportações de produtos agrícolas e alimentares para fora da Europa em 2013.

Ora, se há festa, também quero festejar e, por isso, fui ver o que é que se anda a vender para o sítio onde o ex-Paulinho das feiras está a colocar a bandeirinha, o Brasil. Transcrevo para que não pensem que estou ser intriguista: aves ornamentais, canídeos e felídeos, equídeos, peixes ornamentais, répteis, roedores, embriões de bovino, sémen bovino e sémen canino. Tal e qual. Está ainda em curso a tentativa de lá introduzir novos produtos como, por exemplo, e cito, a carne de caracol. Isso mesmo. Não é que eu tenha alguma coisa contra a carne de caracol, ora essa.

No caso do Brasil o aumento total de vendas face ao ano anterior foi de 8,7%

Enquanto o Paulinho põe o irrevogável padrão histórico no Brasil, Pedro Reis olha-o com ternura de pai, como quem diz, tão lindo o nosso Paulinho, tem mesmo raça de conquistador, tanto que ele penou para vender aquela bicharada toda (cães, gatos, ratos, lagartixas, peixinhos dourados, pequenos póneis) e, cereja em cima do bolo, sémen de boi e de cão - e conseguiu. O valente


Ou seja, onde antes exportavam, por exemplo para o Brasil, 10 ratos (ou será que foram coelhos?), em 2013 venderam 10,87 ratos, que é como quem diz, os mesmos 10 ratos e o rabo de outro. Boa!

Estou a simplificar, claro, porque a verdade é que há muita gente no Brasil, muita gente a querer bicheza da Europa e, portanto, a brincar, a brincar, aquilo é muita massa. Sabem lá vocês a quantidade de sémen do cão que se vende ou o preço da carne de caracol.

[Estou a escrever isto e a pensar: caraças, há assim tanto cão dador de sémen...?)

No outro dia soube o nosso fantástico vice-Paulinho a vender pernil de porco na Venezuela e hoje vejo-o a congratular-se por isto. O que mais poderá ele fazer mais para me surpreender? Já nem sei.


6 comentários:

Pôr do Sol disse...

Quando ontem peguei no caderno de economia e vi o "quadro" da primeira pagina, pareceram-me meninos a brincarem a um jogo de conquistas.
Quando cheguei às páginas centrais e vi outra foto, ocupando as duas páginas, exibindo os jogadores com ar de guerreiros vitoriosos achei ridiculo, mas fui ler o feito que tal imagem merecia.
Fiquei baralhada e convencida de que cada vez percebo menos da moderna economia.
Que temos óptimas raças de cães, é verdade, que temos vacas unicas tambem, mas aves exóticas? peixes? carne de caracol?
Vi com tristeza que daquela dezena de países nenhum deles está interessado em coelhos, porque será? que pena!
O seu texto fez-nos rir com gosto, já que chorar não adianta.
Um Beijinho e boa semana.

jrd disse...

Lembro-me de ver uma fotografia com semelhanças a esta, em que o personagem do centro tinha "bigodinho" e um tique na mão direita...

Anónimo disse...

Eu cá punha era o Portas à venda, mais o Passos, a Albuquerque, o Gaspar e por junto o governo todo. Exportava-os, de vez, a preço de saldo, Ou de graça. Levem-nos. O do AICEP tratava disso e depois tratavamos nós dele, o clone do Freitas, e seguia junto, com o resto da mercadoria.
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Boa ideia. Se eu me predispuser a ir a votos e ganhar as eleições, a minha primeira medida vai ser exportar coelhos. E de caminho exporto mais uns macacos que por aí andam. E umas hienas. E uns abutres. talvez o ar fique, de facto, mais respirável.

Obrigada pela dica.

Um beijinho Sol Nascente!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Pois é.

Mal vamos quando os governantes se infantilizam desta maneira e encenam grandes conquistas onde apenas há macacadas...

Só espero é que com este e outros desgovernos que vão pululando por aí, não se volte algum dia à tentação de ressuscitar os homens de bigodinho.

Um Jeito Manso disse...

Pois é P. Rufino,

A gente bem que gostava de os exportar... mas alguém os quererá importar? Duvido. Só se for alguma República das Bananas perdida por aí, no meio do mar e, mesmo assim, não sei.

Só se os levarmos, ao engano, para o Reino das Cagarras (e já sabe em quem mais estou a pensar) e os deixarmos lá ficar. A nado não me parece que venham.