sexta-feira, dezembro 13, 2013

Sobre um presente inesperado e maravilhoso que a UJM recebeu. E os meus sentidos agradecimentos pela imensa gentileza do Leitor que mo ofereceu.


No post abaixo falo da entrevista de Passos Coelho à TVI/TSF sobre a qual pouco ou nada há a dizer tal a vacuidade. Mas, enfim lá digo qualquer coisa e, de caminho, falo do Passos Coelho do jornalismo televisivo,  o Abreu Amorim do comentário económico. E falo de outros que não têm nada a ver com os anteriores.

Mas aqui, agora, a conversa é outra.

Aqui vou contar-vos sobre o primeiro presente que recebi nesta época natalícia. Mas, primeiro, como música de fundo, que deslize Ariane.





Não vou contar-vos pormenores. Talvez os conte um outro dia. Hoje dir-vos-ei que, por mail, recebi indicações de como chegar ao esconderijo onde tinha sido deixado. 

Gostava de saber dizer-vos da emoção, da surpresa. Enquanto lia o mail ia ficando mais admirada e encantada. Estava ao telefone com a minha filha e contei-lhe logo. Depois, quando falei com o meu filho, também lhe contei. Ficaram os dois enternecidos com a ideia.

Fiquei ansiosa por ir buscá-lo. Apenas contava ir para aqueles lados no fim de semana mas pensei logo que não ia descansar enquanto não fosse lá, tinha medo que alguém o descobrisse, ou que chovesse e se estragasse. Mas durante a semana só de noite e chegar lá, ao esconderijo, de noite, não se recomenda. 

Mas tinha que ser. Lá fomos, pois, os dois, eu e o meu marido, um destes dias.

Era de noite, estava frio, as ondas batiam na amurada, chovia ao de leve. E eu fui resgatar o meu presente.

E às escuras, com a luz do telemóvel a tentar ajudar e sem se conseguir ver nada e depois com a mão a tentar tactear o volume que tinha sido descrito, lá o senti. Intacto. Quietinho à minha espera.

Não sei se conseguem perceber a alegria de receber um presente assim. E o que isso significa, a generosidade de quem ali se deslocou propositadamente para me deixar um presente.

Já o tenho aqui comigo. Um objecto precioso. Um livro de poemas, edição de autor. 


O primeiro presente que recebi nesta época natalícia
e o primeiro presente alguma vez dirigido à UJM, essa outra que sou eu

O DECANTAR DAS SOMBRAS



Rumores de vento
trazidos
nas palavras
que pousas
lentamente
no papel em branco

Versos
feitos de sombras
que colhes ao entardecer

Rasto de um rosto
quando
de ti mesma
te escondes


Estender o braço
por cima do espaço aberto
na minha frente
e tocar
em tudo o que imagino
para além de todos os horizontes

Inclinar o dia
e decantar as sombras
para que o dia me fique azul
e do vento norte
nada mais me reste.
Sem sombras
o riso poderá abrir-se





Uma gata no Ginjal
(oculta, atenta, presente, transparente)

Pouco mais do que silêncio
palavras   sombras do vento

[Gundula Steglitz]



*

Muito obrigada Joaquim. Gostei... e muito!

*

O poema lá em cima é Ariane de Miguel Torga dito por Inês Veiga Macedo.


A música é Spiegel im Spiegel de Arvo Pärt interpretada por Filipe Melo e Ana Cláudia.


*

Há poesia dita também no Ginjal. Hoje é Jorge de Sena e Catarina Guerreiro e une toute petite lumière, just a little light, una piccola...

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira. 

8 comentários:

Olinda Melo disse...

Olá, UJM

Uma ideia maravilhosa a deste seu leitor - uma delicadeza e 'estratagema' tocantes.

Adorei ouvir o poema de Miguel Torga e a música de Filipe Melo.

Beijinhos

Olinda

jrd disse...

Que gesto tão bonito...e merecido.
Abraço

Isabel disse...

Que giro!

Os versos são bonitos e a letra manuscrita também.

Gostei da foto da gata!
Um beijinho e bom fim-de-semana!

margarida disse...

:)
Existem coisas que compensam tanto outras...
E apesar de não apreciarmos os mesmos cavalheiros (LOL!), mais que merece estes mimos, por essa energia estonteante que é um dínamo formidável para quando necessito de élan. E, pelos vistos, para outros tantos também.
Parabéns pelas amizades conquistadas por aqui e..., bem, por tudo. Mais que merece!

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Em primeiro lugar tenho que lhe agradecer a leitura do meu conto. É um conto que mistura ficção e realidade. Digamos que os diálogos são inventados mas quer alguns cenários são reais quer a situação do Duarte é infelizmente bem real. Não é um colega meu mas é alguém que conheço, uma situação muito real, alguém que passa por uma situação como a descrevo, mais coisa menos coisa. O consumo de cocaína com tudo o que o rodeia é uma coisa que se ignora (até porque os seus consumidores se especializam em iludir os outros) e, mesmo quando aparecem as evidências, se disfarça e se faz de conta que é outra coisa.

Quanto a este presente que recebi, foi algo que me tocou desde o momento em que vi o mail com as indicações até ao momento em que o fui buscar, à noite, até agora em que o tenho aqui ao meu lado enquanto escrevo.

Um beijinho, Olinda, e obrigada pelas suas palavras e carinho.



Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Um gesto inesperado e tocante.

Muito obrigada por achar que o mereci.

Um abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

O gesto foi muito bonito e o presente também. os poemas são muito bonitos, tenho-os aqui ao meu lado para os ir lendo.

Beijinhos e um bom domingo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Margarida,

Por causa dessas dos cavalheiros até estou tentada a escrever hoje uma coisa sobre o Galamba (a ver se a catequizo...).

Quanto aos momentos bons que compensam os momentos mais ingratos, concordo mesmo consigo. Há sempre um gesto, uma palavra, um sorriso que aparecem para nos trazer para cima, para nos amparar.

Receber este presente tal como receber palavras simpáticas e amigas como as suas são coisas que me enternecem e me fazem sentir agradecida.

Obrigada, Margarida, e receba daqui de baixo um élan cheiinho de força.

Beijinhos!