Nos dois posts abaixo falo da valentona decisão do presidente de todas as cagarras ao manter em funções a vaca fria, ou melhor, a vaca requentada.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
Tenho tanta coisa para dizer que tenho que me refrear e cingir a pouca coisa para ver se não apago a luz, outra vez, tarde e más horas. Tenho pendente contar-vos das minhas vizinhas do hotel e tentarei também falar amanhã da crítica de Pedro Mexia, no Expresso, a um livro de Rogério Casanova (pois parece-me mais um exercício de generosidade do que outra coisa).
*
Mas isso talvez seja amanhã. Hoje quero explicar-me.
Na noite de sábado não consegui aqui escrever nada e quero dizer-vos porquê. Não sei se algum de vós tem tido recentemente a experiência de jantar num restaurante no Algarve. Conto-vos a minha experiência de sexta à noite e de sábado.
Na sexta feira, estando em Lagos, resolvemos escolher um restaurante que tivesse comida minimamente portuguesa. Primeira dificuldade. Tirando as sardinhas e os choquinhos fritos (sempre esgotados), pouco há de genuíno. O peixe grelhado é de aviário e, depois, o resto é chapa 4, igual em todo o lado, incaracterístico.
Até que vimos a ementa de um restaurante numa das ruas principias: A Petisqueira. Menos mal: vimos polvo assado com batata doce e lombinhos de porco com roquefort e achámos que talvez fosse uma opção razoável. Estava frio, as noites por aqui têm estado frias. Entrámos e vimos umas duas mesas vazias. O dono perguntou se tínhamos reserva. Dissemos que não. Então disse que não tinha mesas, que estava cheio, tudo reservado. E preparava-se para ir à sua vida quando lhe perguntei se não podia ser lá fora. O meu marido não gostou do tom dele e não lhe agradava a ideia de jantar cá fora, ao frio. Mas eu estava com fome e já a salivar perante a perspectiva de jantar o polvo ou os lombinhos. Lá fora havia duas mesas, uma a meio, mais abrigada e uma mesmo no passeio, encostada à placa onde estava a ementa, desabrigada. O dono apontou para essa e disse que só se fosse naquela. Incrédula perguntei se não podíamos ficar na do meio. O homem, meio enfastiado, hesitou e disse que sim, com uma desculpa qualquer.
Como em quase todos os restaurantes nesta altura, o tempo de espera desde que se escolhe até que chega a comida é grande. Nesse meio tempo, reparámos que sempre que alguns estrangeiros viam a ementa e resolviam entrar, arranjavam mesa lá dentro (o restaurante tem um piso superior e, entretanto, alguns dos que já tinham jantado, iam saindo).
Claro que o meu marido estava contrariado comigo porque, por vontade dele, tinha-se ido logo embora.
Finalmente veio a nossa comida. No final, quando o dono passou por nós, fiz questão de lhe dizer que a comida estava boa mas que era escandalosamente pouca. Não concordou, achava que era a suficiente. O meu marido reforçou: boa confecção mas é quase ridículo ser tão pouca. E disse que, sobretudo, não tinha gostado de ter sido discriminado por ser português. E explicou aquilo que tínhamos constatado e deixou bem claro que a atitude de tratar mal os turistas portugueses é muito pouco inteligente. Nos meses de menos afluência de estrangeiros, não será o turismo português que os aguenta?
Na mesa ao nosso lado estava um casal português (o resto era tudo franceses e alemães) e a senhora disse que concordava connosco, que era revoltante, e que com eles tinha acontecido rigorosamente o mesmo, que também achavam que deveriam era ter-se ido embora.
Uma tristeza. Nunca me tinha acontecido. Já tinha ouvido falar mas agora passou-se comigo.
Uma tristeza. Nunca me tinha acontecido. Já tinha ouvido falar mas agora passou-se comigo.
No sábado à hora de almoço, fixada que estava em comer choquinhos fritos à algarvia, também em Lagos, tentámos a Adega da Marina, restaurante enorme junto à Marina, que tem choquinhos fritos desde sempre.
Pois. Debalde. Optei por sardinhas assadas, óptimas, o meu marido por bife de espadarte, igualmente bom. Mas, para os comermos, tivemos que penar, ó se tivemos. Tempo, tempo, tempo. Um horror.
Na mesa ao nosso lado estava um casal alemão. Quando chegámos, estavam eles a comer camarões fritos. Depois de acabarem, foram ao balcão do peixe e escolheram: ele uma posta de cherne, ela um choco. E esperaram. E esperaram. E esperaram. E esperaram. E esperaram. Intrigados, diziam-nos que não sabiam o que se passava. O meu marido encolhia os ombros e dizia 'It's not easy...' e o alemão encolhia também os ombros e dizia que estava de férias, que não se queria aborrecer, que esperava.
Ao fim de nem sei quanto tempo lá chegou a nossa comida e, quando estávamos a sair, chegou finalmente a deles. Uma vergonha.
E isto num dos restaurantes maiores e mais conhecidos de Lagos.
No sábado à noite a cena foi em Vila de Bispo. Outra vergonha.
Chegámos às 8 e picos. Fizemos o pedido. Pedimos uma sopa para as crianças. Ao fim de uma meia hora veio a sopa - a ferver, literalmente a ferver. Impossível de comer. Lá se misturou água gelada mas perde-se o ritmo, já se sabe como é com as crianças, já não querem, que está quente, que não, não.
Tínhamos pedido pratos do dia (robalos grelhados, lulas recheadas, polvo na caçarola, bife de espadarte de cebolada). Repito: tudo pratos do dia.
Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos. Esperámos.
Uma família junto a nós, depois de ter comido ameijoas de entrada, exasperou-se e pediu a conta sem esperar pelos pratos principais. Quando chegámos, estavam eles a acabar as ameijoas. Ao fim de mais de 1 hora ainda não tinha vindo o resto.
O tempo ia passando. O bebé adormeceu, a irmã já pousava a cabeça sobre os braços dobrados sobre a mesa, já dizia que queria colo, que queria ir dormir.
Ao fim de nem sei quanto tempo lá chegou a comida. Estava boa, vá lá. Mas já eram quase 11 da noite quando nos despachámos. Quando veio a conta, tinha vários erros, manteigas que não tínhamos comido, queijos que não tínhamos comido. O meu marido, farto, irritado, já dizia: deixa estar! Mas a mim estes erros irritam-me. Lá foram corrigir. Quando fomos pagar, não trabalhavam com multibanco. Felizmente o meu marido tinha dinheiro que chegasse, mas foi à conta. À porta estava um grupo nas mesmas condições, a fazerem uma colecta entre todos para pagarem, uns procuravam nos bolsos, outros contavam o que tinham na carteira. Um disparate.
Horas. Horas. Por isso, quando à noite cheguei ao meu poiso, estava já tão cheia de sono, tão maçada, que não consegui energia para vir aqui escrever.
Resumindo: nisto se vê o longo caminho a percorrer para se ter uma actividade turística como deve ser. Há uma falta de qualidade no serviço, uma falta de profissionalismo, uma coisa que incomoda.
Claro que há excepções, claro que há sítios decentes, bons. Mas os preços...
Aquilo a que me refiro é o que se vê noutros países em que o turismo é levado a sério: uma oferta geral, média, de qualidade, com serviço eficiente, preços acessíveis, simpatia - e que deixa vontade de voltar.
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E é uma pena porque as praias são maravilhosas. Maravilhosas. Imensas. Ainda quase virgens, ainda quase desertas.
Uma sereiazinha linda que, perante o aviso de que tivesse cuidado porque a poça onde queria brincar era funda, decidiu, resoluta, ir buscar as braçadeiras |
Neste sábado estivemos, pois, numa das praias que acho uma dos melhores do País, senão do mundo.
Gosto de andar pelo meio das rochas, por cima delas, gosto de fotografar o mar, gosto de fotografar a luz no mar, gosto de fotografar a luz que mergulha no mar |
Gosto de praias rochosas, com mar batido, cheiro a limos, com algas, com intenso cheiro a maresia, a iodo, onde o mar faz piscinas naturais com peixinhos, em que as rochas estão cobertas de mexilhões, medusas, em cujos recantos e escondem polvos, caranguejos. Praias quase desertas.
Nunca fui de frequentar praias daquelas onde vai toda a gente, onde se encontram os amigos e conhecidos. Grande parte dos meus colegas frequenta o mesmo sítio. Uns têm casa, outros alugam-na. E encontram-se. Pois eu acho isso uma coisa insuportável. Já me basta ter que os aturar quando trabalho. Era o que me faltava vir socializar com eles e com as mulheres deles quando estou de férias.
Por isso, sempre fomos mais de frequentar praias de outro género. De Lagos para ocidente, acima de Vila do Bispo.
A praia do Castelejo é uma delas. Vou para lá desde sempre. Tenho fotografias lá com os meus filhos ainda pequenos.
Entre a rocha (basáltica?) da falésia e o mar há rochas cobertas de limos macios, de mexilhões negros, reluzentes. E quase não há ninguém. |
O tempo passa mas a beleza do lugar permanece. Uma beleza absoluta. Forte, limpa, cheirosa. Os meninos adoram-na e os pais, que se lembram da praia da sua infância, gostam de a mostrar, repetindo gestos que os pais faziam com eles.
Não tardará que o bebé jogue aqui à bola com o pai, tal como o pai jogava com o seu pai. |
Há aqui a sensação de liberdade, de pureza, de vigor. Há aqui uma beleza original. Aqui sinto-me feliz.
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Bom. E por aqui me fico que já é outra vez tarde demais. Relembro que, sobre a actualidade política, é mais abaixo, é descer até aos dois post a seguir.
Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela semana, a começar já por esta segunda feita!
5 comentários:
Olá, UJM
Infelizmente, salvo algumas excepções, por este Portugal fora multiplicam-se casos desses de falta de profissionalismo.
As fotos, maravilhosas, retratam bem o que há para 'vender' aos de dentro e aos de fora se para isso houver ou houvesse 'engenho e arte. Já alguém me disse:O que devia haver era uma Ministério do Turismo. Mas será que resolveria alguma coisa?
A sua bela pimentinha é mesmo resoluta. :) E o seu pimentinha lá vai pela mão do pai a dar os passos necessários a uma boa aprendizagem.
Boas Férias, UJM!
Bjs
Olinda
Confesso que o Algarve não é um dos nossos locais de eleição, muito menos em Julho/Agosto, mas cenas dessas são, infelizmente, recorrentes, pois anteriormente já nos sucedeu. Assim, não vejo como essa gente, essa restauração algarvia, pode contar connosco, clientes nacionais, para os ajudar a relançar os seus negócios.
P.Rufino
Bela praia! Pelo que se vê, e pela alegria da família compensa qualquer dissabor, imagino.
Quanto ao "excelente" serviço, é uma pena. Para piorar, creio que esse é o nível geral dos serviços em Portugal, infelizmente. Às vezes pergunto-me se as pessoas querem realmente ter trabalho, ou se julgam que serviço é sinónimo de fazer favores. Enfim, como sói dizer-se, é preciso calma.
Uma continuação de boas férias
Um beijinho
Da última vez que fui à Praia do Castelejo (há uns 5 anos e só lá tinha ido uma vez antes), fiquei muito desapontado, porque a praia estava cheia de gente. «Será que a Costa Vicentina já não é o que era?», pensei. Mas a Praia da Cordama, situada um pouco mais a norte, estava absolutamente espetacular. Parecia que o mundo tinha acabado de ser criado. Uma coisa verdadeiramente deslumbrante. O que não era de admirar, pois o acesso a esta praia era mesmo muito mau. Quase ninguém se atrevia a ir lá.
A avaliar pela sua descrição e pelas suas fotos, fui eu que tive azar com a minha última visita ao Castelejo. Ainda bem. É uma joia que merece ser tratada com toda a estima.
A Todos,
Também prefiro o Algarve fora desta época mas nem sempre é possível ajustar as férias às nossas preferências pois as exigências profissionais às vezes não dão margem. De qualquer forma, temos em mente voltar por um fim de semana prolongado lá para Setembro ou princípio de Outubro, naqueles dias de pré-Outono, quando o sol fica dourado e a temperatura é amena.
O nosso país é lindo e o Algarve tem zonas maravilhosas. Pena é que não haja ainda uma actividade turística profissionalizada (não invasiva, respeitadora do eco-ambiente, fiel às nossas raízes) junto a alguns destes locais. Concordo que deveríamos ter um Ministério do Turismo.
Quanto à Praia do Castelejo, de facto há uma particularidade: a parte mais bonita apenas é acessível com maré baixa. Explico isso num post autónomo pois acho a praia tão linda que é uma pena que seja tão pouco conhecida.
Muito obrigada a todos.
Um abraço!
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