quinta-feira, julho 04, 2013

Depois do ontem ter relatado a conversa de Paulo Portas ao espelho, só me falta vir aqui dizer que o Hitler queria mesmo era ter sido pintor ou que o Salazar tra-la-la, tra-la-la....? Talvez. Porque não? Sou moça para isso e muito mais... Estou até capaz de me meter dentro da cabeça de uma mosca e pô-la a descrever aquilo a que assistiu hoje, em Belém, durante a reunião entre o dinâmico Cavaco Silva e o inteligente Passos Coelho.


No post abaixo falo da 'cena macaca' de ter sido Paulo Macedo, o ministro da Saúde, a ir ao Parlamento discutir a Dívida Pública. A coisa está a ficar anedótica.

Mas aqui, agora, a conversa é outra.

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Eu calculei que ao escrever o que escrevi ontem, ou melhor, hoje (porque escrevi de madrugada), aquilo do ‘Paulo Portas ao espelho, etc e tal’, estava, eu própria a sujeitar-me a levar tareia a sério.


Os comentários verbais e escritos não se fizeram esperar, a começar logo por casa. A tareia que eu hoje já levei, ó sorte malvada... Que era escusado, que parece impossível defender um sujeito como o Portas, que isto, aquilo e o outro e que só escrevi aquilo porque simpatizo com a mãe dele, e até houve um leitor que me disse que o tinha perdido enquanto tal, dizendo aquilo de só faltar dizer que o Hitler tinha sido uma putativa artística criatura.

E, no entanto, acho que ontem tinha deixado claro que o que escrevi não era o meu juízo de valor sobre o político Paulo Portas, mas, sim, um exercício no qual tentava colocar-me na pele dele. Acredito que muito do que se passe ultimamente na cabeça de Paulo Portas, se passe aproximadamente como o referi. Digamos que gosto de me armar em mentalista…




Tem razão o Leitor que me diz que, se eu descrevesse o que poderiam pensar de si próprios o Salazar ou mesmo Hitler, se calhar me punha também a mostrar, sobretudo, o seu lado humano.

É natural. Estando eu a escrever como se fosse uma outra pessoa, naturalmente que a abordagem é diferente da que uso quando escrevo sendo eu. 

A minha opinião sobre a actuação de Paulo Portas neste assunto está escrita nos posts abaixo do post da discórdia. Mas repito: acho que ele agiu irresponsavelmente e que é um dos co-responsáveis pelo miserável estado do País. Muitas vezes o tenho aqui criticado: acho que vive e age como se estivesse permanentemente a representar. O populismo desgraça-o. A política para ele é, sobretudo, uma encenação. Gosta da ribalta e, como todos os artistas, gosta de estar no palco e de receber aplausos. Vive para isso. Perde-se por isso.

Mas isto sou eu a vê-lo. Outra, é ser ele a ver-se a si próprio (e foi esse o meu exercício). Cada um de nós vê-se sempre com maior benevolência do que a que os outros têm quando nos vêem. Nós temos justificações, temos alibis, temos desculpas para sermos como somos. Os outros, os que nos são externos, são mais implacáveis.




Todos os grandes criminosos da História (e, calma: não estou a incluir Paulo Portas nesse grupo) têm um lado humano que torna ainda mais intrigante a duplicidade de mente humana. Uns gostam tanto de música que podem ir às lágrimas com um determinado trecho musical, outros tocam piano com uma entrega que toca quem os ouve, parecem almas sensíveis, outros são amigos inseparáveis de um cãozinho a quem tratam com ternura, geralmente são óptimos pais de família. E, no entanto, têm também, em sã convivência, um outro lado tenebroso, impiedoso. 

Temos, pois, que separar os planos: perceber o lado humano, tentar compreender as motivações. Quanto ao lado público, temos que ajuizar sobre o que fazem.

Se admito que até pudesse vir a ter alguma simpatia pela pessoa em questão (que não conheço pessoalmente), uma coisa é certa: tal como o referi ontem e muitas outras vezes, não me identifico, nem de perto nem de longe, nem com a forma de actuação de Paulo Portas nem com a ideologia nem com os princípios políticos que ele defende. 

No entanto, só para reforçar o que digo, sou grande amiga de pessoas que são umas direitolas, de direita-direita, gente conservadora, irritantes reaccionários. Tal como sou amiga de outros que são de esquerda-esquerda, por vezes igualmente conservadores, embora no sentido oposto. Não voto, contudo, nos partidos em que eles votam e tenho grandes discussões com eles. Encaro isso com naturalidade. Sei distinguir as coisas.

Claro que, no entanto, tenho limites. Não poderia dar-me com fascistas, nazis, racistas, gente que não respeita os direitos e as diferenças, burros encartados, ladrões por desporto, gente assim.

Por isso, não poderia dar-me, por exemplo, com Passos Coelho. 


(do blogue We have kaos in the garden)


Neste caso do Paulo Portas, o que me motivou a escrever o que escrevi foi o ter ficado perplexa com o que ele fez: sendo uma pessoa tão tacticista, que não dá ponto sem nó, custa a perceber como deu tamanho passo em falso. Acho que isso só pode ter acontecido por se ter quebrado a sua força anímica, a sua resistência, por ter tido uma quebra, por não ter aguentado mais, por lhe ter saltado a tampa, porque não conseguiu disfarçar mais a raiva que o outro lhe causa. Afinal é humano.

Estou a ouvir a Quadratura do Círculo e o Lobo Xavier está a dar-lhe também uma tareia: também não percece o que raio passou pela cabeça do Paulo Portas para fazer uma coisa destas, da forma como fez, sem palco, sem rede, sem chão, sem nada. Diz Lobo Xavier que acha que nem faz sentido haver o Congresso do CDS no fim de semana, que Paulo Portas arranjou uma confusão em que ninguém sabe a quantas anda. E que ainda menos percebe que raio se passa dentro do próprio CDS para o mandarem a ele, Paulo Portas, depois de ter tomado aquela posição, negociar com Passos Coelho a quem já mostrou que detesta e que não respeita. Está como eu, o Lobo Xavier: também não percebo nada disto.

E António Costa está a concluir o mesmo que eu: que Paulo Portas não tem nada em comum com Passos Coelho, que abomina tudo o que o outro é, que o despreza, que não conseguiu aguentar mais.

Enfim.

Penso que fui clara. Mas caso subsistam dúvidas, não me custa nada voltar ao assunto. Estejam à vontade para protestar porque se há coisa de que gosto é de uma boa discussão.


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Claro que sou discreta. Ninguém me viu. Se me descobrissem, vinham logo ver se me davam cabo do canastro. Foge. Por isso, fiquei agarradinha à cortina, do lado de dentro, caladinha como uma rata.

O Cavaco estava numa agitação, fulo da vida. O pequeno Liberato até foi chamar a D. Maria. Então a D. Maria apareceu com um chá de tília e repreendeu-o: Outra vez a raspar o chão com os cascos?!

O Aníbal zangou-se, Com os cascos? Vê lá como falas.

Ela corrigiu, Estava a brincar, homem. Mas tu não vês que, com essa mania, já estás a abrir um buraco na carpete? Pára sossegado com os pés, homem. Ó senhores, que nervoso miudinho é esse? Ora bebe lá o chá que é para não estares nervoso quando entrar aí o pedaço de asno.

Ele riu mas logo disfarçou, Tu fala baixo, antes que alguém te ouça.

Passado um bocado entrou o outro. Cavaco cumprimentou-o com cortesia, afinal o outro tem sido tratado por ele como um bebé, daqueles prematuros a quem os manos dão pontapés no berço, se é que me entendem.

do blogue We Have Kaos in the Garden
O outro vinha, como sempre, cheio de nove horas, todo prosa, aquele palavreado circular e vazio. Depois abriu um papelinho e só vi que tinha uns quadradinhos.

O Cavaco ficou bravo, deu um salto, Mas que m... é esta? Isto é que é a solução para o País? 

O outro encolheu ainda mais os lábios, engoliu em seco, Eu tentei, eu tentei, mas o outro, já sabe como é, não se compromete, e agora aparece-me com exigências e mais exigências, que eu demita a Miss Swaps, que eu corra com o Álvaro, que eu acabe com os briefings do Lombinha, que eu lhe peça licença antes de ir à casa de banho. Não posso, não posso, não me peça isso. Se eu vou ceder, já viu como é que eu ficava...

O Cavaco deu um murro na mesa. Como o outro não se mexeu, o Cavaco atirou-lhe um copo de água à cara, Mas que é que eu tenho a ver com isso? Como é que você ficava?! Essa é boa? Pior do que já está, é impossível. Faz favor, ponha-se na alheta e não me apareça cá sem uma coisa capaz, se me aparece outra vez com uma folhinha com bonecos, leva uma corrida em osso que nem sabe de que terra é. E quero o outro dentro do governo senão é que havia de ser bonito, sempre por aí a fazer os números dele, sem descansar enquanto não deitasse a gaita do governo outra vez abaixo. Raios partam vocês todos que não me deixam estar aqui em casa descansado. Cambada de delinquentes.

O outro levantou-se e foi-se embora. Depois foi para a porta, olhinhos oblíquos, todo prosa (não é dado à poesia, como se sabe), dizer aos jornalistas que está tudo bem, que estão a aprofundar uma solução e que os mercados não esperariam outra coisa de gente tão responsável como ele e o Dr. Paulo Portas, e que o cujo tomou a posição que tomou a título pessoal e sem o apoio do CDS. E que os dois vão cozinhar uma coisa, a cuja, é bom de ver, no fim terá que ter a aprovação do Senhor Presidente. E lá se foi muito apressado e muito responsável.

Mal ele saíu da sala do Aníbal, apareceram o pequeno Liberato e a D. Maria. Tinham estado escondidos atrás de outra cortina.

Parvalhão!, gritaram os três ao mesmo tempo.

Depois, desataram-se a rir. Já não morremos hoje, disse a D. Maria, atirando-se para cima do sofá, a rir até mais não poder enquanto o pequeno Liberato despejava a um jarro de água pela própria cabeça, tamanhos os calores.

E por ali continuaram na risota, embora Cavaco tenha tentado conter-se, Isto não é caso para galhofa, haja algum sentido de Estado. Mas não conseguiram parar de rir.

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[NB:. Claro que a coisa pode não se ter passado bem assim. Afinal não passo de uma simples mosca e parte do linguajar humano deixa-me confusa.]


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Tenham, meus Caros Leitores, uma sexta feira divertida. 


6 comentários:

Maria Eduardo disse...

Também costumo colocar-me na pele dos outros. Paulo Portas fartou-se de engolir sapos vivos e ferido no mais íntimo do seu ser, teve um acesso de fúria, de descontrole, não resistiu e partiu a louça toda, mas esqueceu-se que alguém tem que apanhar os cacos!...
E a esta hora, depois de tantos debates, tantos comentadores a exporem as suas iluminadas ideias, ainda não há luzinha nenhuma ao fundo do túnel.O que se seguirá?!
Obrigada pela partilha das suas análises, sempre excelentes.
Um beijinho

Menina Marota disse...


O seu blogue começa a ser um vício para mim.
E desperta-me sentimentos vários depois de o ler: rio, choro, dá-me vontade de bater em certas pessoas (detesto anónimos que não têm coragem de dar a cara para dizer certas coisas...)
Também eu me consigo colocar na pele de Paulo Portas e pensar que, se ele deitou a perder anos de trabalho, foi porque a taça tanto encheu que transbordou!
Ele é inteligente e sabia o que, uma atitude como a sua, iria trazer. E as consequências possíveis.

Não sou CDS. E não gostava de Paulo Portas desde algumas das suas intervenções no Independente mas comecei a respeitá-lo quando percebi que ele era mais do que aquilo que aparentava ser. E que a parte social e o bem das pessoas o preocupavam legitimamente.

Muito mais teria a dizer, mas estou aqui para fazer um comentário e não explanar as minhas ideias num texto longo.

Grata por tudo o que me oferece a ler.

Um abraço

Anónimo disse...

UJM, depois desta explicação reconsidero o que disse, foi a quente(até porque o post da mosca está um espetáculo, por isso é que é difícil não passar por aqui).Mas em relação ao comportamento das pessoas e essas dualidades, podemos simplificar a coisa assim, cada um que fique com as suas lutas internas na bugalha, o que avalio de uma pessoa é o que o cérebro dela manda executar, o resto é para psiquiatra ter trabalho

Anónimo disse...

Menina Marota, o anonimato, usado dentro das regras da civilidade, não é problema nenhum.

Anónimo disse...

" E que a parte social e o bem das pessoas o preocupavam legitimamente." e eu tenho uma pila com 50 cm - elimine se quiser

Anónimo disse...

Um pequeno raciocínio sobre o anonimato. Estou aqui a pensar que o Belmiro, o Amorim a Rainha de Inglaterra, são pessoas como nós, que vão à casa de banho e fazem uma cara mais feia quando comem pão a mais no dia anterior, muito provavelmente também podem gostar de blogs, e que, penso eu, deve ser mais fácil para pessoas como estas interagir como anónimos do que identificando-se. Não por eles mas pelo condicionamento que iam provocar nos outros, por muito que ouça as pessoas dizer que não alteram o seu comportamento, independentemente de quem seja o outro. Por muito que me esforce, não acredito.No meu caso é por opção e tenho a certeza que não condicionava o comportamento de ninguém.