No post abaixo falo da irrelevância das pessoas à medida que nos distanciamos delas. Falo e demonstro-o através de uma fotografia.
Mas isso é no post a seguir. Aqui, neste, interrogo-me. Podia fazê-lo em silêncio. Mas, ainda assim, interrogo-me em voz muito baixa.
Mas isso é no post a seguir. Aqui, neste, interrogo-me. Podia fazê-lo em silêncio. Mas, ainda assim, interrogo-me em voz muito baixa.
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Que farei quando tudo arde? pergunta o escritor. Que faremos? Ou melhor, o que deveremos fazer?
Se desanimamos, o caminho fica livre para aqueles para quem não passamos de um empecilho ou da crua demonstração da sua ignorância. Se deixamos de acreditar, fica tudo tão mais fácil para quem prefere caminhar sobre um chão de cinzas. Se lutamos sem saber a favor de quê, podemos vir a sofrer desilusões ou podemos ser manipulados. Que fazer então? Que fazer quando tudo arde?
Somos frágeis. Estamos indefesos. Uma rede de homens sem rosto, sem ética, sem moral, inimputáveis, cerca-nos. O medo paralisa-nos, a dúvida tolhe-nos.
Pelas nossas casas adentro chegam vozes de pretensos sábios. Conheço pessoalmente alguns. Sei bem que são umas nulidades, nada fazem, apenas falam. Dizem uma coisa ou o contrário. Sempre sérios, até displicentes, como se falassem altruisticamente, do alto da sua sabedoria. Mas fazem opinião. Quem não os conheça é facilmente levado a acreditar nas suas palavras artificiais.
Depois há outros, igualmente umas nulidades. Não estudaram, nunca trabalharam, formaram-se na escola do paleio barato, do ardil, do jogo, da esperteza, das palavras vazias de sentido e de humanidade.
Há ainda outros, os que não conhecem a vida, nem a História nem as pequenas histórias de pessoas concretas. São os que vivem entre as paredes das universidades, fazendo papers, lendo papers, académicos experimentalistas. Incultos, ambiciosos, frios.
E há os que veiculam todas estas vozes, veículos passivos. Ou vendidos.
E há os que veiculam todas estas vozes, veículos passivos. Ou vendidos.
São essas vozes que entram pelas casas, que manipulam a opinião das indefesas pessoas. Que as assustam, as calam, as desanimam.
E há os poucos que têm de facto o poder. São poucos. Estão na trilateral, nos grandes bancos: é a alta finança. São, de facto, poucos. Mas rodeiam-se de gente que facilmente se deixa domesticar - uns por ganância, outros por servilismo, outros por mimetismo. Apoiam governantes, escolhem-nos. Fantoches úteis. Depois, quando deixam de servir, largam-nos, tornam-se um peso inútil.
O que a população sofre não interessa. De facto, não interessa.
Mas só agem assim porque encontram pela frente gente vencida, rendida. Uma imensa multidão sem força, sem vontade, sem ânimo.
Agem assim porque não sentem, de facto, qualquer resistência, porque as casas vão ficando pobres, vazias. Porque as casas vão sendo invadidas pelo medo, pela vergonha, pela pobreza, pela insegurança.
As casas estão a ser tomadas pela destruição. O edifício que pensávamos ser sólido, o edifício da democracia, do estado social, parece ser, afinal, um edifício frágil, no qual a erosão exerceu irremediável corrosão.
Como chegámos aqui?
Desde há algum tempo deixei de ser capaz de ler os livros de António Lobo Antunes. Mas hoje é de títulos de livros dele que me lembro, como se fossem premonitórios, como se houvesse alguma maldição a pairar sobre nós:
Conhecimento do Inferno
Auto dos Danados
Exortação aos Crocodilos
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura
Que farei quando tudo arde?
O Arquipélago da Insónia
Comissão das Lágrimas
Mas só agem assim porque encontram pela frente gente vencida, rendida. Uma imensa multidão sem força, sem vontade, sem ânimo.
Agem assim porque não sentem, de facto, qualquer resistência, porque as casas vão ficando pobres, vazias. Porque as casas vão sendo invadidas pelo medo, pela vergonha, pela pobreza, pela insegurança.
As casas estão a ser tomadas pela destruição. O edifício que pensávamos ser sólido, o edifício da democracia, do estado social, parece ser, afinal, um edifício frágil, no qual a erosão exerceu irremediável corrosão.
Como chegámos aqui?
Desde há algum tempo deixei de ser capaz de ler os livros de António Lobo Antunes. Mas hoje é de títulos de livros dele que me lembro, como se fossem premonitórios, como se houvesse alguma maldição a pairar sobre nós:
Conhecimento do Inferno
Auto dos Danados
Exortação aos Crocodilos
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura
Que farei quando tudo arde?
O Arquipélago da Insónia
Comissão das Lágrimas
Um mundo de inferno, tomado pelos danados, dominado por insaciáveis crocodilos, e nós perdidos numa noite escura, o mundo que amavámos a arder, e nós aqui andando vergados como uns condenados, perdidos em ilhas e caminhando insones, em lágrimas.
Como foi isto possível?
Como nos tornámos irrelevantes figurinhas?
Como nos deixámos transformar em pequenos objectos dóceis, que se deixam dobrar, vergar, dominar, manipular?
Como foi isto possível?
Como nos tornámos irrelevantes figurinhas?
Como nos deixámos transformar em pequenos objectos dóceis, que se deixam dobrar, vergar, dominar, manipular?
Não sei. Aos poucos, fomo-nos rendendo, fomo-nos tornando dóceis, rasteiros, facilmente pisáveis, quase invisíveis.
No entanto, ainda me forço a acreditar que nos podemos voltar a erguer. Talvez um dia, em breve, nos ergamos, nos unamos, e juntos, de pé, caminhemos e expulsemos das nossas vidas todas as sinistras criaturas que, em má hora, deixámos entrar nas nossas vidas, destruindo o mundo em que acreditávamos.
Acredito nisso, forço-me a acreditar.
E olho, como exemplo, os inteligentes seres que se mantêm livres, indomados, certamente felizes.
No entanto, ainda me forço a acreditar que nos podemos voltar a erguer. Talvez um dia, em breve, nos ergamos, nos unamos, e juntos, de pé, caminhemos e expulsemos das nossas vidas todas as sinistras criaturas que, em má hora, deixámos entrar nas nossas vidas, destruindo o mundo em que acreditávamos.
Acredito nisso, forço-me a acreditar.
E olho, como exemplo, os inteligentes seres que se mantêm livres, indomados, certamente felizes.
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A música é Tabula Rasa, I, de Arvo Pärt, interpretada por Adele Anthony e Gil Shaham, no violino, Erik Risberg, no piano, com a Gothenburg Symphony Orchestra. A imagem que ilustra o vídeo é uma pintura de Vieira da Silva.
Duas das fotografias foram feitas este domingo no Ginjal e a do meio na Casa da Cerca (não registei o nome do autor da pintura e não consegui obter essa informação no site).
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Relembro que, abaixo, continuo o meu lamento. Caso queiram fazer-me companhia, é descerem até ao post seguinte.
No meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, levada pelas palavras de Maria Rosário Pedreira, entro num templo e, atrás de mim, entra alguém que, dizendo o meu nome, quase me faz morrer de amor. Sou uma sentimental. A música é uma vez mais uma maravilha. Descobri há pouco tempo a música do Mali e fiquei fascinada.
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E quero desejar-vos uma semana muito boa a começar já por esta segunda feira. Saúde e felicidades!
4 comentários:
Este governo não vê pessoas, apenas números. Como diz num outro seu Post. É dos governos mais monstruosos que alguma vez existiu. Nem no Fascismo, por muito que custe dizê-lo, se chegou a estes extremos anti-laborais e anti sociais. Num pequeno vídeo que lhe enviei pelo seu e-mail, Jeito Manso, fica claramente ilustrado aquilo que aqui digo. Quando um governo decide e um seu membro entende como a coisa mais natural e justa deste mundo a medida de colocar milhares de funcionários públicos na mobilidade, reduzindo-lhes substancialmente os salários e posteriormente os descarta,ao fim de 18 meses, deixando-lhes de pagar o vencimento, mas mantendo-lhes o vínculo (!) e se eles se “despedirem”, com vista a procurarem trabalho para sobreviverem, o governo não os autoriza a receber o subsídio de desemprego, chama-se a isto o quê? Nazismo? Isto não só é violentamente anti-constitucional, como, sobretudo, de um barbarismo politico-economico e social, tão aviltante que custa a acreditar. Como é possível que haja gente capaz de semelhante barbaridade? Infelizmente há. Este governo. Uma medida que todos - TODOS – os membros do governo aceitam e subscrevem – na medida em que nenhum se revoltou contra ela e, nesse sentido, se demitiu de imediato. É demasiado grave o que tem vindo a suceder neste país sem esperança. Não vi até agora, mas oxalá esteja distraído, alguém da oposição a dizer que iria enviar para o Tribunal Constitucional esta medida.
Enfim, Passos, Gaspar, Rosalino, Moedas, Portas e todos os que ali têm assento no governo não são pessoas normais, mas perigosos delinquentes políticos, que deveriam estar ou num hospício de loucos, ou na cadeia.
P.Rufino
Que escrita tão desalentada hoje! Ânimo, que os seus leitores precisam da sua energia inspiradora!
Depois de passar por aqui, lembrei-me de Paul Celan, poeta de primeiríssima água, mas tão trágico e tão sem redenção. Uma Europa que queremos longe perpassa nos seus versos e assusta. É negro o esplendor desta poesia.
Um beijinho e votos de SOL!
Olá UJM!
Não sei que lhe diga ou melhor que lhe escreva. Claro que estou de acordo com tudo o que o seu belo, luminoso e algo desesperado texto espelha mas estou cansado , exausto mesmo de dizer , ouvir e ler sempre a mesma coisa sobre o nosso caminho para o abismo e politicamente continuamos "no bom caminho" com declarações , malfeitorias, incompetência, desprezo, conflitos e Conselhos de Estado perfeitamente inúteis e sem a possibilidade real de alterar realmente o rumo dos acontecimentos! Triste verdade!
Estou cansado e não me bastam desabafos !!!
Um abraço
Um abraço
Olá UJM,
Temos que acreditar que nos podemos voltar a erguer porque assim é preciso! Quando tudo arde resta-nos caminhar sobre os destroços e as cinzas e acreditar no milagre da esperança e da vida. Gostei muito deste seu post e concordo com o comentário do seu Leitor Rufino.
Um beijinho e até sempre.
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