segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Dias perfeitos


Fim de semana muito preenchido. Sábado in heaven e as árvores ainda à espera que o vizinho consiga lá ir com o cunhado, e com cordas e serras eléctricas para os casos mais complicados. 

Mas, como vos tenho dito, sou emocionalmente muito primária. Tenho reacções fortes, indisfarçáveis e, logo depois de exteriorizar as emoções, aceito o que aconteceu e parto para outra. 

Salvar-se-ão as árvores que forem salváveis, remediar-se-á o que tiver remédio, plantar-se-ão novas. E aproveitar-se-á da melhor forma tudo o que aconteceu. Talvez os banquinhos para os meninos sejam mesmo uma forma muito digna do meu cipreste estar junto deles, talvez eu consiga reconverter de alguma outra forma o que vier a sofrer uma solução mais triste. Logo vejo.

E, no calor do carinho familiar - que é o mais importante - tudo o que de menos bom acontece, consegue aceitar-se melhor. Ou melhor, nem há tempo para pensar.

Os minutos deslizam sem que se dê por eles, a ocupação é permanente, não há um instante vazio.

A minha pintainha querida esteve a pintar. Ajeitei o cavalete, coloquei o material à sua disposição e depois foi com ela. Pintar é mesmo um exercício que requer liberdade absoluta.




Vesti-lhe uma tshirt minha por cima para não se sujar, mas, afinal, sujou-se na mesma. Mas estava tão contente que dava gosto ver a liberdade e alegria dela. E que jeito ela tem, concentra-se, pega muito bem nos pincéis, e toda contente, pintou à frente e 'atás', nos 'cu-cus', que é como ela também chama à parte de trás das coisas.




Não se admirem por ver a pá ali mas varrer é das brincadeiras preferidas (dela e minha). 

O bebé já brinca, já o sentamos no chão a brincar, ainda rodeado de almofadas, claro, mas já gosta de estar enturmado. Continua a ser um bacano, sempre a rir, muito expressivo, muito rosado. Palra permanentemente, umas vezes faz voz grossa, armado em homem, outras chilreia como um passarinho.




A maior parte do tempo estivemos dentro de casa, junto à salamandra da qual vem um calor muito bom. Estava um frio na rua que custava a suportar. Mas nada que não se resolva com casacos e gorros. E qualquer ervinha, qualquer pedrinha, qualquer chapelinho de bolota é motivo de atracção. A tshirt, entretanto, toda pintalgada, foi adoptada como toilette e já não se conseguiu tirar, quis levá-la para casa.




O jantar foi feito com a ajuda da pequena cozinheira: 'qués o xal?' e eu que sim, e ela punha o sal, 'qués um tomate?' e eu que sim e ela dava-me um tomate, 'qués o jeite?' e eu que sim, e ela, com algum esforço, lá virava a garrafa do azeite e deitava. E, como ao almoço não estavam todos, foi ao jantar que se comeram bolinhos de chocolate com parabéns a você, pois claro.

Este domingo, a festa continuou. Almoçarada (cozido à portuguesa, o que permitiu que o ex-bebé e o seu irmão, entre outros pedaços de carne, se deliciassem também a roer os ossos do entrecosto), bolos e apagar de velas, cantorias e palmas. O tempo passa, não há nada a fazer contra isso - mas que, ao menos, passe bem, com festança. 

Como de costume, o tio e o sobrinho mais velho andaram nas suas lutas greco-romanas, pelo meio do chão, e a pregarem partidas um ao outro ou a mim (parte das quais passa por fazerem fotografias malucas e mandarem-mas através do WhatsApps para ver se eu descubro o que é).




Depois de almoço, (quase) toda a gente vem para esta zona da casa onde o sol entra em abundância e, embora haja cadeiras e puffs, todos parecem preferir sentar-se no chão. 

Aqui abaixo, o ex-bebé enfiou-se no ovinho do bebé enquanto a mãe conversa com a cunhada e segura no sobrinho. O mais crescido entretém-se com outra coisa qualquer e a prima deve andar atarefada a brincar com a boneca a quem deu o nome da mãe. 




A seguir, é a vez do legítimo ocupante do ovinho aí se sentar, prestes a ir-se embora. E, claro, nessa altura, o ex-bebé não perde a oportunidade de o abanar. Por sorte, o ovinho pesa que se farta senão temer-se-ia pela integridade física do bebé. Assim, a coisa fica-se pelo abanar coisa de que o bebé gosta e agradece.

Por essa altura, a boneca de pano que era da mãe e que agora anda nos braços da prima, já estava por terra. Mas se já resistiu estes vinte e muitos anos, certamente resistirá muitos mais.




Estive agora a ver as fotografias e, a seguir, estavam os três mais crescidos de roda do bebé no ovinho, o bebé muito rosado e sorridente e os outros todos, divertidos, a mexerem-lhe. Estavam tão queridos que fiz várias fotografias mas, como de costume, não há uma única em que se veja a cara dos quatro ao mesmo tempo: está sempre um com a cara no meio dos pés do bebé, outro agachado, outro a puxar a manga do casaco com o braço à frente da cara, ela dar beijinhos ao mano.

O bebé, no meio de tanta algazarra, chilreava mais alto do que todos os outros, gritinhos de alegria, mas muito alto, um passarinho ruidoso. Parece-me bem que daqui por uns meses vai rivalizar em traquinice com os primos. 

Depois foi a vez de irmos nós visitar os mais bisavós dos meninos. Mas, de caminho, ainda consegui passar pela beira do rio, cinco minutos, não mais que isso, e um frio, um frio...., mas tão bom, tão bonito. O sol a pôr-se, as gaivotas a planarem vagarosas, gostam destes fins de tarde, elas (tal como eu).

E, então, eis que, recortados no horizonte, um homem e uma gaivota se fitavam mutuamente, uma cena fantástica, quase parecia encenada. 




Foi daqueles momentos em que pensei que a felicidade é uma coisa difícil de definir de tão simples e acessível ela é. Ou então, pensei isso porque já estava a sentir-me tão feliz que um momento como este já  me parecia um imprevisto bónus.

E agora que aqui estou, numa casa já sossegada, quase silenciosa, revendo as fotografias, escrevendo estes pequenos apontamentos, também me sinto muito feliz, muito agradecida. 

Em fins de semana como este não há conversas profundas, não há nada de transcendente, não há sossego nenhum, nem há nada que eu consiga dizer para além do que vos disse. Mas isto chega e é muito.

*

Convido-vos agora a ver este filme até ao fim
(não que tenha alguma surpresa no fim mas porque os sorrisos das crianças não devem, nunca, ser ignorados - e a sua alegria é contagiante)

What a wonderful world




*

Se me permitem, gostaria ainda de vos convidar a visitarem-me no meu Ginjal e Lisboa. Hoje, em volta de um belo poema de Soledade Santos, as minhas palavras confessam o que se passa entre as paredes de um certo quarto azul (que antes era amarelo). Continuando o ciclo dos Grandes Intérpretes, hoje chega o pianista Sviatoslav Richter que vem interpretar Schubert.

*

E, meus Caros Leitores, desejo-vos uma bela semana a começar já por esta segunda feira. 

Saúde, generosidade e alegria!

14 comentários:

ERA UMA VEZ disse...

Pois é. Ainda mal recuperada de uma amigdalite que apanhei há quase oito dias por causa do "Sol de Inverno"(ainda a Simone diz que não tem calor)...é verdade. Ainda assim, fui passando pelos blogues preferidos.
Afinal, QUEM FEZ ANOS??
Será que perdi alguma coisa?

Anónimo disse...

Olá UJM,

Ditosa avó que tais netos tem!

Quanto ao resto só posso dizer:
Desgraçada Pátria que tais políticos tem!

Embora andem todos com a bandeirinha na lapela (lembro-me sempre dos fanáticos de um qualquer clube de futebol), a verdade é que não acredito nem um bocadinho que se preocupem com os mais desfavorecidos!

E a tal luz ao fundo do túnel, só pode ser a luz do comboio ou do camião que vem contra nós...

Lamento, Jeitinho, mas hoje estou mesmo triste.

Um beijinho.

jrd disse...

Lindo!
O mundo poderia ser mesmo admirável e sobretudo novo.

Boa semana

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

"E a tal luz ao fundo do túnel, só pode ser a luz do comboio ou do camião que vem contra nós..."

Gostei e muito desta frase tão verdadeira da anónima triste (pudera) do comentário anterior.
Daqui a minha simpatia e os parabéns pelo achado semântico e verdadeiro.

Gostei também de saber da sua alegria famíliar e dos seus netos Os meus ainda não estão a caminho mas ...quem sabe??

Um abraço

Um Jeito Manso disse...

Olá Erinha,

Isso é que é pior... Eu a mim, agora, quem me pega essas coisas são os meus pimentinhas. Os que andam na escola trazem para casa e, a partir daí, a coisa vai andando de mão em mão...

Ainda no outro dia vim de casa deles e no dia seguinte andava mal da garganta. Mas passou com pastilhas. Pelos vistos a sua foi das bravas e não destas que, quando chegam a nós, já vem com pouca potência.

Quanto ao aniversário nem fui eu nem nenhuma das quatro crianças. Foi o primeiro dos adultos que faz anos nesta época. Para o mês que vem há dois aniversários, a minha mãe e uma das crianças. Depois interrompe-se e só recomeçam em Junho e, até ao fim de Agosto, são de enfiada.

Beijinhos Erinha e as suas melhoras.

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Não gosto nada que esteja triste. Os tempos não estão para grandes euforias mas estas coisas que vêm do governo e do poder político em geral são maçadoras, dão cabo da vida a meio mundo mas vamos acreditar que são temporárias. Não nos podemos deixar abater. Temos que manter-nos de cabeça levantada, corpo com energia, para não darmos parte de fracos.

O que é preciso é termos saúde. Isso, sim, se falta é que pode dar um bocado cabo da nossa vida mas, mesmo contra a doença, há que lutar e ter confiança.

De resto, é olhar a rua, passear, acreditar em melhores dias.

Vá lá, faça aí um big smile...:)

Beijinhos carregados de alegria (como se fossem comprimidos contra a tristeza)!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Também acho. E custa-me que o país (e o mundo) esteja numa embrulhada de dar dó.

Mas, ao menos, quando estou rodeada da minha tropazinha, tantas são as gracinhas deles, tanta é a alegria por vê-los a progredir na aprendizagem, e tão genuína é a boa disposição de todos que mal me lembro do que se passa lá fora.

Agradeço a sua compreensão (sabe do que falo, não é?).

Um abraço, jrd.

Um Jeito Manso disse...

Olá Joaquim,

Hoje eu estava na fisioterapia e no balneário estavam umas miúdas agarradas ao telemóvel (como sempre) e estava eu e duas senhoras mais velhas que eu. Ambas falavam animadamente das proezas dos netos. Cada uma delas tinha um neto pequeno e falava como se fosse a criança mais genial do mundo (o que deve ser verdade pois cada neto é sempre do mais precoce e genial que há). E dirigiam-se a mim como quem diz 'quando tiveres netos, vais ver como é bom...'. Nem tive coragem de estragar a festa delas dizendo que eu já lhes levava uns quantos de avanço. Fiquei calada, a ouvir e a sorrir, perante o estado de embevecimento delas.

Por isso, agora faço eu o papel delas e digo-lhe eu a si que, quando tiver netos, vai ver a gostosura que é... E perante a inocência e a alegria deles fortalece-me ainda mais, tenho mesmo muita vontade de lutar para impedir que lhes destruam o futuro.

Um abraço, Joaquim!

Pôr do Sol disse...

Olá Jeitinho,
Tenho andado ausente deste cantinho, porque embora acompanhando os seus escritos não me tenho sentido com espirito para comentar.

Senti profundamente o seu post, sobre a morte das suas arvores.
As nossas arvores são pessoas que crescem connosco como os amigos e quando a morte os leva vai com eles um pouco de nós, deixando aquele vazio.

Felizmente já se recompõs e a alegria das traquinises dos seus rebentos são de novo um jardim florido.

Há que dar a volta por cima.Como diz o poeta por morrer uma andorinha não acaba a Primavera.

Olinda Melo disse...


Então, não é que a pequenina leva jeito? Toda compenetrada e cheia de arte...Estive aqui embevecida a ler as suas palavras e a ver as fotografias, tudo tão natural, tão simples, tão bonito. É verdade, a vida é feita de momentos destes, momentos felizes.
A foto do homem e da gaivota é mesmo linda. Saiu assim ou fez alguma coisa para as figuras ficarem assim em preto e o resto doutra cor?

Um beijinho, UJM, e boa semana.

Olinda

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Mas está tudo bem consigo, espero...?

Aqui pelo meu lado, é sempre uma agitação, uns dias estou num pranto com as minhas árvores, depois estou cheia de trabalho com reuniões abaixo e acima, depois tenho a casa cheia dias seguidos... nem tenho tempo para me deter num estado de espírito por muito tempo. E não sei se isso é bom se é mau. É o que é...

E a Primavera já se faz anunciar, não é? Não sente?

Desejando que esteja tudo bem consigo, despeço-me com um abraço.

Um bom dia, Sol Nascente!

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

A minha bonequinha linda é toda muito feminina e muito decidida. Voluntariosa, orgulhosa mas de gestos muito delicados, é uma coisa preciosa de se observar. Os outros são rapazões, doidos, correm, empurram-se. Ela, não. Eles fazem cair e ela, muito preocupada, vai apanhar, endireitar. Uma ternura, Olinda, uma ternurinha.

A fotografia saíu assim, recortada. Parecia que estava a ver o Hitchcock. Apenas saturei um pouco a cor para amarelar um pouco mais o fundo que já estava quase assim. O efeito de sombra recortado das figuras resulta de eu ter fotografado em contra-luz.

Um belo dia para si, Olinda.

Um beijinho!

Isabel disse...

Que lindos momentos assim todos juntos. Faz-me pensar com alguma saudade quando os meus sobrinhos, hoje na casa dos vnte e tal, trinta, eram pequenos. Era uma alegria. Ainda hoje é, mas já nunca se juntam todos. Cada um tem a sua vida.

O tempo passa a correr.

Ainda bem que já está mais animada, em relação ao Heaven.
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

De vez em quando, é combinar um pic-nic, um lanche, qualquer coisa assim pois é tão bom estar a família toda junta...

Estou mais animada, sim. Não tenho feitio para curtir desgostos...

Gosto de me sentir bem disposta.

Um beijinho, Isabel.