Música de festa, por favor
Rodrigo Leão - La fête
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Aqui afastada do palavreio citadino e de assuntos enervantes, com um regime adequado aos horários das crianças (que bela sesta hoje dormi, todos a dormirmos ao mesmo tempo), chego aqui a esta hora da noite e só me apetece falar deles.
No entanto, sou uma pessoa conscienciosa e, antes, sinto-me no dever de tentar elucidar quem hoje entrou no Um Jeito Manso escrevendo no Google "as camisas de homem devem ou não ter vinco nas mangas". Gosto de ver nas estatísticas quais as palavras de pesquisa que levam as pessoas a entrar aqui. Muitas vezes não percebo como, escrevendo aquilo, conseguem dar comigo.
Mas, enfim, entram cá e muitas vezes receio que se desiludam.
Nomeadamente, acho que nunca escrevi nada sobre as mangas das camisas dos homens e, provavelmente, quem entrou no UJM deu com uma coisa totalmente diferente daquela que esperava. Mas não seja por isso. Se nunca antes o fiz, faço-o agora.
Meus amigos e minhas amigas, então, devo dizer-vos que a coisa bem feita e segundo o preceito é não fazer vinco nas mangas das camisas dos homens. Devo, no entanto, dizer que é mais fácil passar fazendo o vinco. Eu, quando passo, faço-o sabendo bem que o não deveria fazer. Aliás, há coisas em que reparo quando estou em frente de um homem. Algumas não vou aqui confessar para não me desfocar do tema principal mas há outras que posso referir. Esta do vinco na manga é uma das que merecem o meu olhar clínico. Posso afirmar, contudo, que a larga, larguíssima maioria usa vinco; presumo até que, quem lhes passa roupa a ferro, até fará gala em fazer um vinco bem definido, quase como se fosse um vinco numas calças clássicas. No entanto, se observo isto é apenas para arranjar uma boa estatística que me defenda já que, como vos confessei, sou igualmente infractora.
Outro erro e esse, sim, já me parece mais grave: calças desportivas (de sarja beige, por exemplo) - mesmo que acompanhadas por um perfeitamente admissível blaser clássico azul escuro - não deverão ter vinco. A coisa mais despropositada, pirosa mesmo, é ver um homem de calças desportivas e todo vincado, como se alguém se tivesse enganado ao passar a ferro. Nem nas de bombazina eu gosto de ver vinco, mas aí já depende mais da toilette no seu conjunto e de quem as veste.
Outro pormenor: as meias de homem devem ser discretas, é sabido. Mas não é forçoso que tenham que ser pretas. A maior parte dos homens defende-se, usando meias pretas mas, com um conjunto que puxe para o grenat, por exemplo se houver um pullover dessa cor, são admissíveis e até revelam um gosto atento, umas meias grenat escuro. No entanto, tal também pode querer dizer que o homem liga demasiado a pormenores relativos a moda e isso, nos homens, é insuportável. Por isso, caro Leitor do sexo masculino, se usar meias (escuras, por favor) a condizer com o tom dominante, por favor, não apareça com mais nada que comprove que é quase tão vaidoso como uma menina. Por exemplo, os homens que usam meia a condizer, sapato de berloque, alfinete de gravata, pulseirinha e outras coisas do género, cá para mim são de a gente ficar logo de pé atrás. Os homens querem-se de uma sobriedade a toda a prova. Elegantes, com bom gosto, mas nada de muito evidente.
E pronto, sobre este tema não me ocorre dizer mais nada.
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Passo então ao meu diário de bordo.
O bebé, grande parte da noite rabeou, como é seu timbre. Ou cai a chucha, ou tem calor, ou qualquer outra coisa e quer logo levantar-se. Acho que gosta demasiado de brincar e, para ele, estar na cama é uma seca. Por isso, a noite passada não consegui ter um sono tão de seguida como é meu costume (a mãe, coitada, habituada a não dormir capazmente desde que ele nasceu, nem se queixou, tem tido noites bem piores; o irmão também não assinalou o facto dado que está habituado a estes desacatos nocturnos).
De manhã acordaram cedo e tudo querendo ir brincar. O mais velhinho, então, vem com a preocupação de vir trabalhar.
Foi logo pedir ao avô o ancinho e andou toda a manhã a apanhar caruma e folhas secas que transportava, num contentor, até à terra onde o despejava. Tem um jeito que só visto.
Caída no chão, uma esfregona, coisa que faz as delícias do bebé. O mais crescido, até há pouco, chamava-lhe a 'fisgona' e nós agora também a designamos assim |
O pequenino andava com uma pázinha de praia e ali andava de volta, com ar compenetrado, como se estivesse também a cumprir uma missão.
Depois, de tarde, passou-se ao número da brincadeira com água. Começámos por tentar a via soft. Regador, balde para abastecer o regador, etc. A coisa funcionou bem até certo ponto.
Mas depois o mais crescido sentiu que tinha outra incumbência: a rega. De mangueira, responsável, regou tudo, mas regou mesmo bem. A seguir perguntei-lhe se não quereria também dar uma mangueirada no carro, coisa a que a mãe também se candidatou e que ele também cumpriu na perfeição.
'Já está muito bem lavado, não está, Tá? Estava mesmo a precisar, não estava?' |
O mais crescido na operação e o mais pequeno no comando do instrumento. Olhando para mim, com ar feliz de quem está a ocupar-se da parte mais crítica da tarefa, mexia no manípulo da torneira, provocando valentes esguichos de água, coisa que não incomodava nada o irmão. Claro que acabaram os dois todos molhados.
E, assim, chegámos à hora de jantar. Fiz entrecosto grelhado, com acompanhamento de legumes e massa (sei que a massa aqui não combina muito bem mas foi a pedido da minha filha, que disse que já tinham comido batatas ao almoço e que ontem já tinha sido arroz). Mas o bebé tinha a sua sopinha e, a seguir, peixinho pois ainda nunca tinha comido carne de porco, nem a mãe achava que fosse comida adequada. No entanto, quem sai aos seus não degenera, tudo bons garfos, e o bebé deu-lhe o cheiro a petisco. Recusou-se, pura e simplesmente, a comer o seu peixe e fez fita, apontando e fazendo os seus sons a pedir entrecosto. Provou e não quis outra coisa. Teria comido como se não houvesse amanhã se o têm deixado mas, ainda assim, comeu a bom comer. O irmão também se 'pelou', pois adora carne com osso e, além do mais, foi autorizado a pegar nela à mão.
A seguir, brincaram um com o outro com carrinhos, depois de novo tiraram do cesto os restos de lenha que sobraram do inverno. No meio da confusão, o bebé pegou num pau e, com toda a força, deu na cabeça do irmão, ferindo-o e fazendo-o chorar. Lá se fez o curativo e a coisa prosseguiu como se nada se tivesse passado. De novo, já perto da hora do sono, enquanto o pequenino mudava a fralda e a mãe o tentava adormecer, o mais crescido quis de novo ver o livro dos planetas, falar de estrelas, e lembrou-se da Babirucha que tem uma canção dos planetas e lá a procurou (e encontrou sozinho!) no YouTube. Depois seguiu-se ainda a cena de andar de 'fisgona' na mão a ver se havia algumas melgas e, quase à meia-noite, caminha, hora a que o bebé, já a dormir, bebeu o seu último leite.
E agora sou eu que me vou deitar que amanhã, meus Caros, pois este dia promete.
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Resta-me desejar-vos, a vós, Caros Leitores, um dia bem passado. Saúde e boa disposição!
6 comentários:
Essa do berloque nos sapatos apanhou-me 'descalço', é que também já usei e de vez em quando ainda ensaio uns passos com o par que sobreviveu.
Quanto ao resto, subscrevo inteiramente, direi mesmo a 100%. Estes - na aparência- pequenos nadas preenchem parte do quotidiano e há que tirar partido deles, antes que estejamos todos a discutir a toilette dos nus.
As cenas familiares são únicas. Uma ternura.
Bfs para todos
Olá jrd,
Gostos não se discutem e conheço gente muito 'bom tom' que os usa. Eu não engraço por aí além. Mas, como referi, o problema não é uma coisa. O problema é o cúmulo de várias. Berloques nos sapatos com alfinetes na gravata, pulseiras tombadas nos pulsos, e coisas que tais, parecem-me a mim um excesso de enfeites e embirro com homens que se enfeitam muito. Mas já uns sapatos desses, e se tiverem uma certa patine ainda melhor, conjugados com uma indumentária que traduza um certo ar negligé (ou deverei dizer 'suavemente blasé'?) já me parecem suportáveis.
Mas haverá quem goste disto que eu refiro como excessivo. Por isso, não me leve muito a sério.
Quanto às cenas familiares, elas enchem o meu coração de ternura - é mesmo isso.
Muito obrigada pelas suas palavras que revelam sentido de humor, coisa que eu muito aprecio e, também, uma grande compreensão.
E um bom sábado para si, jrd!
Cara Jeitinho,
Boa recuperação e boas férias nesse seu heaven.
As crianças são o açucar da nossa vida.
Para o seu(e nosso) equilibrio é necessário mantê-las livremente ocupadas.Não há nada melhor que a Natureza para os fortalecer.
Seduz-lhes o mundo dos adultos e, na descoberta, vão aprendendo. Como dizia a minha avó"O trabalho do menino é pouco mas quem o perde é louco".
Estas vivencias fazem-nos muito bem e servem para os ir formando. E que engraçado é mais tarde recordar.
Nestes dias de Agosto, até os pais entrerem de férias, tenho-me deliciado a tempo inteiro com a minha pequenina. Na falta de um jardim com ancinhos e regadores vai-se divertinho nos vasos de plantas que uma varanda virada a Norte não consegue manter bonitas. Mas a cozinha é a sua perdição.
Todos os dias quer fazer um bolo diferente que acaba sempre por ter chocolate.
A de hoje: Vamos pôr chocolate na gelatina de morango?, vá lá por favor...
Continuação de doces dias.
Olá Querida Pôr do Sol,
Recuperação...? Eu, na brincadeira, digo que chego ao fim destes dias e vou de novo para a mesa de operações... (mas isto é só na brincadeira, porque, bolas, nem a brincar eu devia dizer isto...).
De vez em quando, a sentir que estou a abusar e muito, lá me sento, lá me encosto, mas para a semana a ver se consigo repousar um bocadinho mais porque, esta semana tem sido uma agitação... verá pelo que escrevi que a agitação continua.
Hoje, depois de irmos ver o bebé, fomos a casa da minha filha para a ajudar a tirar as crianças do carro e a dar-lhes banho (já que o reforço familiar só chegava mais tarde). Dali fui para o supermercado e depois para casa do meu filho para jantar com ele e para ajudar a adormecer a minha menina linda.
E amanhã continua a festa com o apoio a eles e a ida ao hospital ver o bebé e etc e tal.
Mas, com esta alegria, nem me lembro que estou em recuperação. O pior é quando quero andar e as pernas ainda me ficam presas... Mas isto há-de ir ao sítio.
E quantos aos seus bolos e doces, que maravilha deve ser fazê-los com a sua ajudantezinha e depois comê-los, com ela toda contente. E é deixá-la inovar... Gelatina de morango com chocolate? Eu agora até comia, fresquinha... vinha mesmo a calhar, deve até ser bom, porque não...?
Obrigada pelas suas palavras e carinho e um belo Verão com a sua menina!
E um beijinho e um belo sábado para vocês, Sol Nascente!
Ontem quando andei por aqui já era tarde e não vi tudo (como falhei estes dias...)
Cá estou a acabar de ver os post que não tinha ainda espreitado.
Também não gosto nada de ver os homens com mariquices. Detesto vê-los com jóias. Gosto do estilo descontraído e desportivo. Não muito "arrumadinhos". Mas há, como diz, gostos para tudo, e qualquer pessoa veste às vezes coisas que depois pensa " Credo, como é que eu andei com isto todo o dia!" Não é?
Enfim...
Achei uma ternura este post com os meninos. Também tenho uma sobrinha com dois anos, que está um amor. Começou há pouco a falar...nestas idades, tudo é adorável. E passa o tempo tão depressa.
Parabéns pelos lindos netos.
Que tenha muitos dias bons, assim com eles.
Continuação das melhoras. Abusa...nunca mais se vê livre disso...
Um beijinho e dias felizes
Olá Isabel,
Pode crer: abuso, é mesmo isso. E quando chego a meio do dia ou à noite estou feita num oito.
Estou a tentar agora ter um ou dois dias mais sossegada, a fazer o repouso que me prescrevem mil vezes mas que tenho tanta dificuldade em cumprir.
Quando estou assim rodeada pelos meus meninos há sempre algum a preparar-se para fazer alguma e que tem que ser interceptado, e há a casa, a comida, as mil coisas que uma casa com crianças precisa.
Mas eu adoro estar com eles, brincar com eles, ver como evoluem tão depressa, perceber os seus raciocínios ainda tão límpidos. Adoro mesmo. Fico da idade deles.
Quanto a homens: que sejam simples, desempoeirados, descontraídos, despretensiosos, bem dispostos. Homens cheios de manias, de vaidades, muito arranjadinhos, devem ser (imagino eu) uma seca!
Beijinhos Isabel!
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