sábado, julho 21, 2012

A passiva mansidão dos portugueses. A maledicente verborreia portuguesa. A inconsequência portuguesa. E, para me distrair disto, convido-vos a verem a minha casa. Sejam bem vindos aqui, in heaven.


Música, por favor

Beethoven - Hélène Grimaud interpreta Sonata ao luar

*

Pouco tenho visto televisão, nada de debates, afasto-me das notícias.

No entanto, de vez em quando não posso deixar de ouvir os choros e o desespero de quem vê a sua casa ameaçada pelas chamas ou outras tristezas assim; ou de sentir a perplexidade que sempre sinto quando sei que, uma vez mais, um homem irrompeu num local público, desta vez num cinema, e disparou sangrentamente contra quem ali estava descansado, em paz; ou de saber que José Hermano Saraiva morreu - e, depois, ao passear pela blogosfera, ver que uns louvam, mas outros desprezam e desprezam com um acinte que me causa até um certo enjoo.

Há pouco vi-o, num relance, numa entrevista em sua casa, já muito fraco, e gostei de o ouvir falando do país, referindo que o país estará sempre acima de tudo, como aliás sempre o referiu. A forma como divulgava as muitas pequenas terras de Portugal, elogiando as actividades culturais e económicas, a forma sempre enfática como contava as petites histoires dentro da história dos locais que visitava e das gentes que o povoaram, parece-me estar acima da mediania corrente e isso a mim basta-me. Como é que, tendo acabado de morrer uma figura tão marcante da comunicação e da cultura portuguesa (por questionáveis que fossem algumas das suas afirmações), uma pessoa que tanto amou o país e que tanto trabalhou para o enaltecer, há tanta gente que se compraz a escrever palavras desdenhosas sobre ele? Acho deplorável.


Conheço relativamente bem - de trabalhar desde há vários anos com empresas espanholas de vários tipos e de pontos diferentes de Espanha - o que diferencia a mentalidade portuguesa da mentalidade espanhola.

Os espanhóis, do ponto de vista profissional, não sabem mais, não são mais organizados, não são tecnologicamente mais evoluídos, ou mais cultos ou mais trabalhadores, nem nada disso, do que os portugueses - muito pelo contrário. De forma geral, trabalhar com grande parte das empresas espanholas é um castigo: não planificam, não cumprem, não assumem que não cumprem, dizem uma coisa e fazem o contrário, a seguir não assumem nem que não fizeram nem que disseram o contrário. É aquilo que se diz: de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento. Mas há aspectos em que, geralmente, levam vantagem em relação a nós. Têm brio, têm orgulho, vão em frente de uma forma ou de outra, não se perdem em tretas, estão-se nas tintas para a envolvência da coisa e, pragmaticamente, nem que seja às três pancadas, atiram-se ao que interessa. E conseguem-no. Os portugueses, pelo contrário, descrêem por princípio, invocam insucessos passados e sentem-se, por isso, com direito a estar desmotivados, injustiçados, e desculpam-se com as circunstâncias, ou perdem-se em perfeccionismos deslocados ou desnecessários, ou com discussões em volta da forma, menosprezando o conteúdo e, com isso, acabam por perder o ânimo, acham que não vale a pena, que o sucesso é improvável, desgastam-se nisso, deixam passar a oportunidade. Sabem muito. Lutam e acreditam é pouco.

Isso está bem patente no que se passa nas ruas de Espanha. Foram anunciadas medidas de austeridade em Espanha e, em três tempos, aí está meio mundo na rua, dando o peito às balas. 

Por cá é muita conversa, muita escrita, muita polémica. O Bispo das Forças Armadas fala alto e bom som o que toda a gente pensa e logo um coro de virgens ofendidas vem dizer que é de mais, que, sendo da Igreja não devia falar assim, que não devia ter dito que o governo é corrupto e mais não sei o quê, e, num ápice, aí está toda a gente enredada, numa conversa mole que não interessa nem acrescenta uma vírgula. Se houvesse mais gente como ele e isto não fosse essencialmente um bando de marias amélias que mais não fazem do que brandir argumentos de sacristia, outro galo cantaria. 

A propósito de qualquer coisa, aí está meio mundo armado em sacristão, a benzer-se ou a censurar quem disse, quem fez, quem protestou. O país a ser destruído, sem economia, sem cultura, sem valores, sem futuro, e meio mundo anda enredado em tretas, incapaz sequer de um murro na mesa.

Quem descreve muito bem o espírito acomodado, ancestral, do velho e timorato camponês que existe dentro de grande parte da população portuguesa, é o autor de um dos mais estimulantes lugares da blogosfera, o Kyrie Eleison. Talvez ele tenha razão, talvez parte da explicação para esta inquietante mansidão resida nisso. Mas talvez, a par dessa ruralidade atávica, haja também ainda vestígios,  pastosos, de uma nobreza decadente. É que não há só camponeses, há também quem se ache sempre superior, quem ache que dêem os outros o corpo ao manifesto, quem ache que a si próprio não se exige mais do que assistir da galeria, do que fazer soar uns dichotes indiferentes e pretensamente superiores.

Talvez que essa mescla de provincianismo atrofiante e de presunção improdutiva explique esta inércia doentia dos portugueses.

Não dançam nem saem da pista: um espectáculo deprimente de um país espoliado que não sabe protestar consequentemente.

Por delicadeza vamos deixar-nos morrer. (Mas é que, se fosse por delicadeza, ainda teria alguma graça; mas nem isso é).

*

Portanto, saturada de tanta passividade e desta mansidão que leva a que não se saia das tábuas,  desligo a televisão e, em parte, desligo-me da blogosfera e, estando de férias, longe da cidade,  entrego-me a actividades mais compensadoras.

Estive a ler um livro que me agradou muito, 'Tempo da Música, Música do Tempo' por Eduardo Lourenço, organizado por Barbara Aniello. 

A música que hoje escolhi para nos acompanhar foi-me sugerida durante a leitura. Sobre ela escreveu Eduardo Lourenço em 1955:

"Sonata ao luar. Beethoven escreve aqui a mais chopin[iana] das suas obras e dizemos isto sem fazer de Chopin o 'metron' de Beethoven. Mas por isso mesmo poucas obras servem melhor para descobrir (manifestar) a diferença entre um e outro.

Beethoven quer sempre dizer alguma coisa mesmo quando o que quer dizer diz respeito ao indizível, a esta conversa entre o real e o sonho e o sonho com a noite. Chopin conversa consigo sobre a tristeza, a melancolia da noite mas sem saber onde se dirige. Quem sabe é o seu coração que seus dedos seguem. Em Beethoven o sentimento nunca está só, mesmo aqui onde parece nada mais haver que um rendez-vous do sentimento consigo mesmo."

A música que escolhi para o Ginjal, Música para cordas, percussão e celesta de Béla Bartók, também me foi sugerida após ler as palavras de Eduardo Lourenço: "(...) A sugestão é mediata, de um espaço musical de uma homogeneidade pura e solitária, universo de um tom que se cria avançando toda a sua lei como um triângulo forma um cone. Assimilação com o universo dos grandes espaços da pintura de Giorgio de Chirico. Uma pureza estelar, um vermelho gelado dos confins da tristeza, universo galáctico. Nada existe aí senão uma correspondência extática de formas depuradas, pensamentos de Deus na aurora de um mundo onde o sentimento espera a sua hora de nascimento. (...)"

*

Tirando isso, cozinhei, limpei a casa de teias de aranha e de bichos de conta, varri dentro e um pouco fora; e, porque ainda não estou extraordinariamente ágil, ainda há muito trabalhinho por fazer. Amanhã será.

Para amenizar o esforço, fui-me distraindo, fui fotografando algumas partes da minha casa. É a minha forma de vos acolher aqui, mostrando-vos um pouco do meu espaço.




Galo à janela sobre um banco que era de uma das minhas avós


Gosto muito de galos. Já os pintei de muitas maneiras. Acho que as suas penas coloridas e o seu porte garboso lhes conferem um glamour especial. Por isso, também os tenho aqui, como objectos, em profusão. Uns adquiri-os eu, outros têm-me oferecido.




A chaminé da minha cozinha - Galos, galinhas, mel, um moinho para alfazema trazido de França pela minha filha


Aqui in heaven o meu fogão está sob esta chaminé e isso confere logo um prazer suplementar à actividade culinária. Não é a mesma coisa cozinhar um perfumado estufado debaixo de uma chaminé ou debaixo de um exaustor. Há galos em vários objectos da cozinha mas, para não vos maçar, passo para a sala. Mas, a caminho da sala, no pequeno corredor que a liga à cozinha, mostro-vos mais alguns apontamentos de cor.




Há pratos de barro. É pena porque o que não se vê bem é o mais bonito,
das louças Fortuna Ofícios de Azeitão perto de Palmela e foi a minha mãe que mo ofereceu.
De frente, uma flor em vidro, artesanato urbano, oferta do meu filho
Ao fundo, encostadas à parede, as minhas canadianas felizmente já praticamente inúteis

Entramos, então, na sala que já se antevia pela porta que a ligava à cozinha e sigamos a bicharada.




Aqui, na sala, no chão, temos uma família inteira.
Junto ao galo, à galinha e aos galitos, tenho um tronco de árvore que me parece um torso feminino e,
portanto, foi elevado à categoria de escultura natural


Quem aqui chegue pela primeira vez pode ficar surpreendido com 'cenas' como esta mas logo se habitua pois vai encontrar de tudo em toda a parte e, às tantas, já nada espanta.




Aqui não há galos mas apenas alguns dos meus chapéus.
Devia ter posto o de meio por cima para vos mostrar porque é o que prefiro, um belo chapéu basco.
No chão uma malinha antiga e umas socas todas em madeira
 (creio que vieram dos Picos da Europa mas não juro).


Já agora, antes de sairmos da sala, para ir varrer noutro lado, mostro-vos a parte de cima da lareira. A lareira, que fuma lindamente, foi adquirida, em peças, numa oficina da Serra de Sto António, no Parque Natural de Aires e Candeeiros, terra de gente dos mil ofícios e onde tudo se encontra com grande qualidade. A barra de madeira foi adquirida também pelas mesmas bandas. Acho-a linda, é uma madeira rija, macia, com uns belos veios e, por mestria do senhor que a montou, encaixa na perfeição na lareira e na parede.




Tenho aqui peças de artesanato tradicional e artesanato urbano. Por cima, na parede, uma peça especial,
de muita estimação, que me foi oferecida com muito carinho: um bordado muito antigo
das colchas de Castelo Branco, feito pela falecida mãe da pessoa que me ofereceu,
 ela própria pessoa já de avançada idade.
A moldura é artesanal, em madeira.


Saímos da sala para, com vossa licença, entrarmos numa das casas de banho e, se o faço, é para mostrar uma cadeira de que, num determinado contexto, hoje falei num mail que troquei com uma das leitoras do Um Jeito Manso.



Trata-se de uma cadeira muito antiga que foi restaurada, pintando-a casca de ovo
e dourado, pelos meus pais que, quando se reformaram, descobriram que tinham imenso jeito para
trabalhos deste tipo.
Foi também estofada com um tecido que escolhi para se adequar à barra de azulejo pintada à mão
 em azul (que aqui não se vê) e cujos motivos estão na louça dos toalheiros,
na louça da bancada e noutros apontamentos.
A toalha das mãos é também antiga, era de uma avó do meu marido.
Por cima, não dá bem para perceber, mas é um espelho com moldura em talha dourada


Quando há muitos anos adquirimos a casa, odiei a tijoleira que reveste o chão, odiei mesmo. Pensei que seria a primeira coisa a saltar. Mas, aos poucos, habituei-me. Não é tão amarela como parece nesta última fotografia, é mais como se vê nas da sala, um tom ocre. Agora já gosto, dá um tom luminoso e alegre à casa. Eu que gosto tanto de casas arejadas, cheias de luz, com este chão parece que o sol lhe está sempre a bater. Não apenas não me imagino a ter a trabalheira e a despesa de o substituir, como já não me imagino a ter um chão que escurecesse ou entristecesse a casa.

E é isto. É assim a minha casa aqui in heaven.

*

Hoje, lá no meu Ginjal e Lisboa as minhas palavras voam em volta de um veleiro chamado Ariane, um poema de Miguel Torga. Na música tenho ainda Béla Bartók, tal como acima vos referi. Se tiverem ainda paciência para me continuar a aturar, terei muito gosto em ter-vos por lá.

*

E é sábado, um dia que tem tudo para ser um dia feliz. Enjoy it!


10 comentários:

rosaamarela disse...

Espero que ai no heaven recupere mais depressa e seja feliz.

Sei do que fala sobre os espanhóis porque também trabalho com eles todos os dias, são pouco espertos, é uma opinião pessoal, vá...

Entretanto uma amiga catalã, diz-me que às 6.f vão trabalhar vestidos de preto (quem não tem cão caça com gato).

Amo tudo o que Portugal tem,mas nunca ouvi palavras tão verdadeiras como as suas, só eu sei o que sofri quando "voltei" e ainda sofro, é o reflexo do que diz.

bjs

Isabel disse...

Adorei a sua casa. É muito bonita. Tem coisas que também tenho igual. Eu também tenho muitos galos e galinhas de diferentes materias. Tinha-os num parapeito redondo, grande. Mas depois tive que os guardar, depois de ter feito um cortinado que as tapava. Só deixei duas ou três. Um galo é igual aquele alto da família que está ao pé do tronco. O tronco é muito bonito.
Também tenho aquele conjunto de três caldeiras de cobre em suporte de madeira, pendurado e acho que ainda poe aí vi mais qualquer coisa igual. É giro apercebermo-nos disso.
Hoje também vou para o campo, almoçar a casa dum irmão. Vai a família toda, os que aqui estão. Uma sardinhada.

Achei esse bordado de Castelo Branco muito bonito e diferente. Ampliei, mas não consegui ver em pormenor. Deve ser muito antigo. Tenho pouca coisa em bordado de Castelo Branco.

Essa passividade de que fala em relação aos portugueses, encaixa-me. Eu sou assim, mas às vezes pergunto-me _ Mas que posso eu fazer? Não posso ir aos berros para a rua... Voto sempre, é a única coisa que posso fazer. Eu bem me revolto com o que vejo, mas que posso eu fazer?
Na verdade não gosto de manifestações, nem vigílias, nem nada disso. Voto. Acho que é a minha única arma.

Era grande admiradora de José Hermano Saraiva. Gostava imenso de o ouvir.

Bem, cá escrevi eu demais.
Desejo-lhe uma boa estadia aí no seu Magnífico Heaven e continuação das melhoras.
Um beijinho

Anónimo disse...

Concordo consigo jeitinho, só espero que pelo menos o Sr. Bispo não se cale. Parece que está tudo adormecido, dormente, entorpecido.Que impressão...
Já os espanhois podem morrer como nós mas morrem a lutar.
Adorei a sua casa, tão bonita,parece de fantasia, parece uma casinha de bonecas.
Beijinho e obrigada pelo seu espírito critico.
Ana

Anónimo disse...

Olá UJM!
No doce remanso onde me encontro, igualmente numa espécie de férias prolongadas, neste Portugal de terras tão bonitas, acabo de ler, com o deleite de sempre, este seu último Post – e que grande Post!Subscrevo inteiramente aquilo que aqui escreveu – tudo. Também me causa náusea as palavras das tais virgens ofendidas (estou-me nas tintas para o que pensa o Ministro ofendido por elas, o Aguiar). Corrupção? Pois claro, alguém tem dúvidas? Tráfico de influências, alguém tem dúvidas? Mediocridade (Relvas, Gaspar, Passos, Álvaro, etc, etc) alguém tem dúvidas?Quanto a J.Hermano Saraiva, acho que tocou naquilo que realmente foi o mais relevante nele. Quando vivi no estrangeiro, recordo-me bem do quão bem sabia ouvir e ver as suas palavras e aquelas terras do nosso “cantinho”. Aquelas terras, as suas gentes, os seus costumes, a sua História, etc. E sentia saudades deste Portugal e afecto.Quanto às comparações entre a nossa submissa atitude perante esta cambada que nos desgoverna e a combatividade dos espanhóis perante situações idênticas, é realmente extraordinário! E quando vejo, apesar de espezinhados por este desapiedado governo, que esta nossa gentinha ainda daria 34% ao Passos e uns 10% ao Portas, pasmo! É que mesmo a Direita espanhola é capaz de bater o pé à tortura proposta pela seita FMI/BCE/Agências de Rating, etc; agora a nossa (PSD/CDS) vem-nos falar de “patriotismo”, como forma de disfarçar a sua miserável submissão aos ditames da dita seita.Também ando entretido a ler um livro interessantíssimo, que em tempos topei na Fnac, de Jacques Barzun, bem traduzido, “Da Alvorada à Decadência”, de 1500 até hoje, um livro que aborda uma multiplicidade de assuntos. De carácter cultural, político, religioso, económico, social, etc. Lê-se e aprende-se. Mas para ler com vagar.Adorei a rusticidade e bom gosto da sua casa! Encantadora. Uma bela visita guiada! Tenho também, na minha casa onde vivo, tijoleira, mas vermelho escura, já antiga (já comprámos a casa assim), que cobrimos com uns belos tapetes e “kilims”. Aqui há uma meia dúzia de anos comprámos um móvel de mercearia antigo, grande, num “antiquário” ali perto de Sintra, bem estimado e trouxemo-lo para casa e aqui está como estante para livros. Onde dantes estavam mercearias e em baixo, nas “caixas abertas”, batatas, feijão, arroz, etc. Também apreciamos uma certa rusticidade e ruralidade.Folgo em ver que as “candianas” já pouco uso vão tendo. Umas boas e merecidas férias aí no seu “heaven”. Por mim, farei o mesmo!
Cordial abraço,
P.Rufino

Teresa Santos disse...

Que saudades tinha deste espaço!

Desmotivada, triste por variadíssimas razões, numa hesitação entre abandonar a blogosfera, ou ficar, enfim, dilemas, ou melhor"dilemas". É que a importância dos ditos merece aspas.

Mas, eis-me de volta!
Eis-me a visitar, a percorrer os belos espaços do seu heaven. Obrigada pelo abrir de portas, pela partilha desses belos espaços.

Boas férias. Tudo de bom.

Beijinho.

Um Jeito Manso disse...

Olá Rosita,

Muito obrigada pelas suas palavras: aqui é um sítio onde o ar é limpo, oxigénio puro, e onde tudo me faz feliz. Ora, só isso já é meio caminho andado para a recuperação. Estou quase bem, agora é só treinar melhor o andar.

Isto dos espanhóis, trabalhar com eles é um castigo. Mas para a conversa e para a farra é 'sempre a abrir'...

E trapalhões ou mentirosos ou fiteiros, a verdade é que se é para fazer as coisas, fazem. E se é para protestar, protestam, E se é para ir à luta, vão.

Não são como os portugueses, uns derrotistas, perfeccionistas, que se deixam sempre levar.

Mas, enfim...

Bom domingo, Rosita e um beijinho!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Não escreveu nada demais, gosto imenso de ler o que escreve. Pela forma como escreve, percebe-se que é uma pessoa franca, directa, e eu gosto muito de pessoas assim.

Espero que o seu dia no campo e a sardinhada tivesse sido boa.

Eu hoje, ao almoço, comi um peixe que assei no forno temperado com um pouco de azeite, dentes de alho e ramos de alecrim: bodião. Fui, de manhã, ao supermercado e vi este peixe lindo, encarnado, brilhante e não resisti. É um peixe branco, muito saboroso. Acompanhei com batatas e feijão verde cozidos e salada de tomate. Estava bom. Andava com umas saudades de cozinhar...

Para o jantar fiz sopa de tomate com ovo.

Sobre o bordado: a senhora que mo deu deve ter perto de 80 anos e diz que foi a mãe que o fez quando era nova. Por isso, veja bem. É lindo. A senhora fez o bordado para ser um tabuleiro. Está emoldurado com vidro, tal e qual como se fosse para expor como um quadro mas, afinal a moldura tinha duas asas. A senhora que mo deu gostava tanto daquele objecto feito pela mãe que mandou tirar as asas e preparou-o para o pendurar.

E, para meu grande espanto e comoção, há uns anos ofereceu-me. Não queria aceitar mas ela fez tanta questão que aceitei. Ainda o olho com devoção e carinho.

Quanto a lutarmos: acha que ao menos devemos protestar através dos meios ao nosso alcance. Ou, pelo menos, não censurar quem tem a coragem de protestar. Só isso já é bom.

Mau mesmo é ver o país a andar para trás, todos mais pobres e sem futuro, os direitos a serem retirados (enquanto um grupelho de ignorantes se entretém a fazer toda a espécie de safadezas) e não apenas não protestar, como ainda por cima, censurar os que defendem um país mais digno e mais justo.

Pelo menos é o que penso. E, no meu dia a dia, vou falando e dando a minha opinião e defendendo os valores em que acredito. Pode não ser muito mas se todos fizermos isto já as coisas ficam menos fáceis para quem apenas quer usar o poder para defender os interesses de uns poucos.

E é isto. Agora também sou eu que já me estou a alongar.

Um beijinho, Isabel!

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

É isso: os espanhóis também estão metidos num belo molho de brócolos mas não deixam a vida fácil ao Rajoy e Companhia. Protestam e protestam bem. Veja os mineiros: vieram desde lá de cima, a apanhar tareia pelo caminho todo e não desistiram!

Quanto à minha casa, é a casa de quem se deixa guiar pela imaginação e pela intuição. Deve ser o meu lado infantil...

Os meus netos quando chegam à minha casa (seja esta no campo, seja a da cidade), vão disparados à procura de coisas em que possam mexer e descobrir: é uma festa. No outro dia, lá na outra casa, eu no sofá de pernas estendidas, e a minha bonequinha, doida de felicidade, de estante aberta (o móvel onde está a televisão é uma estante com portas de vidro), tirava de lá tudo o que encontrava, e descobria fascinada coisa atrás de coisa. E vinha com muito cuidado dar-me coisa a coisa. Andou nisto até que caíu perdida a dormir (ao meu lado, no sofá).

Tenho brinquedos para ver se se entretêm. Mas qual quê? Estas coisas coloridas, caixas, bonecos, peças, são mais motivantes.

E, aqui, os murinhos baixinhos? Adoram sentar-se neles, brincar.

Mas eu, mesmo muito antes deles existirem, pensava sempre que todos estes espaços um dia fariam o delírio de crianças pequenas. Os meus filhos como cresceram dentro deste ambiente, sempre o acharam normal mas agora reconhecem que os filhos deliram com tudo isto.

Um beijinho, Ana e um bom domingo!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Hoje, dia de leitura do Expresso, fiquei a saber mais pormenores das empresas de assessoria e consultoria e advogados e mais não sei o quê contratadas pelo Estado para colaborarem na privatização. Alguém me explique porque não usam os serviços financeiros e jurídicos das próprias empresas ou dos ministérios. Para quê gastar dinheiro com essas empresas todas? E o que é que lá está a fazer o Borges e mais a sua equipa (creio que são uns 20 ou 30)? Vão contratanto mais e mais empresas e tudo junto são milhões de euros. E para quê? Lê-se agora que há suspeitas que traficam influências, 'inside information', pagamento de subornos...

Se tudo isto não é corrupção, então é o quê?

E, para mim, corrupção não é o simples acto de pagar luvas ou usar informação privilegiada para conseguir benefícios: corrupção é a quebra de valores, é a falta de princípios, é o desprezo pelos outros.

Mas, enfim, à hora a que escrevo já é domingo, não é hora de falar de coisas escusas e desagradáveis.

Tijoleira vermelho escura, a cor genuína da tijoleira, é a que eu prefiro e, quando aqui cheguei, pensei logo em arrancar esta toda (cobre o chão de todas as divisões) e substituir por tijoleira rústica. Mas meteram-se outras prioridades e fui-me habituando a esta. E agora meter-me em trabalheiras, coisas que sujam imenso, e gastar um balúrdio...? Não... E este chão parece que reflecte a luz, fica tudo assim com um ar dourado de sol, já estou habituada e já gosto. Depois as portas do corredor também têm de origem vidrinhos de igreja, amarelos. Na altura também achei um disparate. Agora, entra a luz pelas janelas e os corredores ficam com uma luz dourada, íntima, gosto.

Mas, também, a gente acaba por se habituar a tudo, não é?

Agora esse seu chão coberto de tapetes e kilims e com esse fantástico móvel, deve ser uma maravilha. Imagino que deve ficar super acolhedor.

Quanto a esse livro, a ver se quando for a Lisboa vou à procura dele, deve ser bem interessante. Obrigada pela dica.

Tenha, P. Rufino, um belo domingo aí nesse seu doce remanso. Um abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Teresita!

Tenho acompanhado esses seus 'dilemas'. Um dia parecia que estava a despedir-se, desanimada, depois vi que voltou e que agora parece ter voltado a assentar arraiais.

Eu encaro isto, a blogosfera, como um espaço de partilha. Gosto de escrever, gosto de opinar, gosto de falar do que sei (mesmo não sendo muito), gosto de mostrar aquilo de que gosto e faço-o por gosto, sem esperar nada em troca. Por isso, quando recebo visitas e palavras de apreço fico sempre toda a contente. Mas mesmo que recebesse palavras de desacordo acho que ficava contente na mesma pois acharia que se alguém se dá ao trabalho de escrever mesmo para discordar é porque, ainda assim, acha que vali a pena fazê-lo.

Para mim é mesmo um gosto estar aqui (é 1 da manhã, como de costume... não sei escrever no computador de dia, o que é que eu hei-de fazer...?) a escrever como se estivesse a conversar consigo. Mesmo não conhecendo fisicamente as pessoas com quem 'converso', é como se, de facto, as conhecesse e gosto de o fazer.

Por isso, aqui é sempre muito bem vinda, é sempre um prazer conversar consigo e eu é que agradeço a visita e as suas palavras.

Um beijinho!