sábado, abril 28, 2012

As palavras de Sophia para um admirável Coração Independente


Música, por favor

Ravel - Pavane pour une infante défunte
                                  
                                 

                                                           Assim os claros filhos do mar largo
                                                           atingidos no sonho mais secreto
                                                           caíram de um só golpe sobre a terra
                                                           e foram possuídos pela morte.

Num dia que quase anoitece, avião atravessa os céus. Alguém que vai chegar. Alguém que partiu. 


                                    O sol e o dia brilham mas sem ti
                                    Talvez não sejam mais o sol e o dia.
                                    O sol e o dia agora
                                    estão lá onde o teu sorriso mora
                                    e não aqui.

                                    Como quem colhe flores tu sereno
                                    vais colhendo sem chorar a nossa pena
                                    Olhas por nós sem mágoa nem saudade
                                    e o céu azul, a luz, as Primaveras
                                    habitam na perfeita claridade
                                    em que nos esperas.


Hoje mais uma flor: uma rosa in heaven para a valorosa dona de um grande Coração Independente, uma corajosa mãe a quem todos muito admiramos e estimamos



                                             O que eu queria dizer-te nesta tarde
                                              nada tem de comum com as gaivotas.


Pequena gaivota ensaia um primeiro voo, estuda o desconhecido mar.  Porque, apesar de tudo, a vida continua. Vai-se uma parte, uma parte boa, e o meu coração de mãe acha que é natural porque os filhos não devem ir sozinhos para o grande desconhecido, mas outras partes, igualmente boas, ficarão porque há, por cá, quem também precise de amparo de mãe e avó  - e há todos os outros, os que estamos aqui, pequenos pontos de luz acarinhando de longe, em silêncio, retribuindo o imenso abraço


6 comentários:

Maria disse...

Amiga,
Hoje o "Coração Interdependente", deve estar vertendo sangue. Deve sentir-se dependente, das horas que faltam, para poder chorar sozinha, o filho querido.
Não sou capaz de imaginar a dor dela.
Não quero imaginar.
Sabe o que me aconteceu, há tempos. Acabou bem, mas... fiquei fragilizada, incapaz de pensar na morte de um filho.
Minha querida Helena, que dias de calvário a esperam!
O seu post, amiga, está de uma ternura, de uma sensibilidade, que me fez chorar.
Daqui, só quero deixar o meu Adeus ao Miguel do sorriso cativante, e mais um abraço enorme, para a Mãe Coragem, que é a nossa Helena.
Beijinho, amiga
Maria

José Rodrigues Dias disse...

Sorriso

Parte-se na morte
No espaço,
Fica-se no sorriso
No tempo …

Tempo de dor,
De amor,
De sorriso
Sempre
De um cravo!

Évora, 2012-04-28

J. Rodrigues Dias

Um Jeito Manso disse...

Querida Mary,

Uma vez morreu um colega meu que era muito alegre, uma força da natureza, brincalhão. Quando fui ao velório, a igreja estava cheia pois toda a gente gostava imenso dele e estavamos todos muito tristes. Mas o pior foi o pai dele (a mãe já tinha morrido). O senhor estava inconsolável e chorava baixinho. Mas quando o padre acabou ele chorou muito alto, 'Meu querido filho! Eu é que devia ter morrido, não eras tu...'. Nunca mais me esqueci daquele grito de dor.

É que, de facto, quando morre um filho, subvertem-se as leis da natureza.

Mas olhe, Mary, há pouco pareceu-me ver a Helena na televisão e, se era ela, estava forte, corajosa, bem, bonita.

Fica com a memória do seu menino sorridente, que fechava os olhos com o sorriso contagiante.

Anime-se, Mary, não pense em coisas tristes.

Eu ontem, depois de ler o post dela fiquei tão comovida que não consegui deixar de escrever isto mas vamos sorrir porque é a melhor maneira de superarmos as dificuldades.

Um beijinho,Mary.

Um Jeito Manso disse...

Caro José Rodrigues Dias,

Que poema tão bonito, tão bonito, tão sentido - e tão apropriado. Que belas palavras as suas.

Fico muito sensibilizada que tenha trazido até aqui as suas sentidas palavras. Muito obrigada.

Maria disse...

Amiga:
Já ouvi essa mesma frase, de um pai que perdeu o filho. Realmente, é uma coisa antinatural.
Tenho visto muitas fotos do Miguel.
Quando olho para o sorriso dele, contagia-me, tenho vontade de sorrir também.
Também me fez muita impressão, o que a Helena escreveu ontem. Hoje, publicou no "Fio de Prumo", Epístola aos Coríntios, de São Paulo, que fala de amor. Tão bonito! Tão Helena!
Está a dar-nos mais uma lição de força e coragem.
É tempo de reagir e seguir em frente.
Beijinhos, minha amiga.
Mary

Um Jeito Manso disse...

Pois é, Mary, é tempo de seguir em frente.

Hoje estou sem inspiração, não me apetece escrever coisas animadas mas também não quero escrever coisas tristes.

Se calhar vou colocar uma musica e mais nada ou nem isso.

Um beijinho, Mary.