terça-feira, fevereiro 07, 2012

As fotografias de Sebastião Salgado, a Universidade dos Pés Descalços de Bunker Roy e o som de Natalie Merchant - e um programa de vida: não baixar os braços, lutar, inovar, crer, querer melhorar, querer viver uma vida digna, decente e feliz


Música, por favor.


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Defender que a vida deve ser um calvário, uma prova de obstáculos, uma sucessão de derrotas é do pior que há. É uma estupidez, é uma coisa mórbida.


A vida deve ser fácil, suave, cheia de sucessos, com as pessoas a gostarem uma das outras, a ajudarem-se mutuamente, leais, generosas, cada pessoa deve ter direito ao seu grande amor (ou a mais do que um), aos seus momentos de arrebatada paixão (se necessário for, intercalados por momentos de drama para acentuar ainda mais o calor da paixão), a vida deve poder ser vivida sem rupturas insuportáveis, sem tragédias, sem sofrimentos prolongados. A vida deve ser uma sucessão de realizações, deve proporcionar motivação, entusiasmo, alegria. A vida deve ser uma feliz procura de conhecimento, de experimentação, de descobertas surpreendentes e boas.

Sebastião Salgado com Lélia (que dizem que 'costura as suas imagens')

As pessoas com mais de sessenta (eu, se tudo me correr como desejo, hei-de lá chegar, e depois serei  septuagenária e, depois, por aí fora, até ser uma centenária bem disposta e atilada da cabeça – e façam o favor de perceber que isto sou eu a falar na brincadeira, não sou maluca ao ponto de pensar que a vontade tudo pode) devem concordar comigo pois, como já aqui o referi, as pessoas, à medida que têm mas experiência de vida, vão percebendo melhor o que é a tolerância e a felicidade. Mas os que são jovens devem achar que inalei qualquer coisa estranha (por exemplo o gás do riso – que levou a Demi Moore ao hospital, imagine-se uma coisa destas), que devo estar a flutuar algures num qualquer limbo bem acima da realidade.

Nada disso. Tenho os pés bem assentes na terra, movo-me em terrenos em que a racionalidade e o pragmatismo são indispensáveis.

Contudo, o que penso é o que escrevi e isso é todo um programa de vida.

Acredito que nos foi dada (pelos nossos pais – por quem mais havia de ser?) a possibilidade de vivermos e que é agora e só agora que deveremos usar os meios que temos ao nosso alcance para desfrutarmos essa experiência da melhor maneira possível. 

Índios Zo'e do Pará

Sendo supostamente dos poucos seres racionais à superfície da terra, porque nos haveremos de portar mais irracionalmente do que os animais das demais espécies?

Que não se pense que isso significa usar à labúrdia todos os recursos, espatifar com tudo à nossa volta numa insana luta hedonista - o prazer pelo prazer do prazer, como se não houvesse amanhã. Há amanhã para nós, para os nossos descendentes, para as gerações futuras e o que deveremos querer, de forma consistente e sustentada, é um mundo cada vez melhor em que as pessoas vivam em paz e harmonia entre si e entre si e a natureza.

Oração de agradecimento em Oaxaca, Máxico

O que isto significa é que pensar assim é sinónimo de:
  • não fazer da expiação, do sofrimento, do empobrecimento, do desemprego, uma prática política;
  • é não fazer da amargura e azedume uma forma de estar;
  • é não querer que a comunicação social se alimente de tudo o que é mesquinho, negativo, deprimente;
  • é querer que se divulgue o que é bom, belo, feliz e não, sistematicamente, o que é mau, horrível, angustiante;
  • é querer que a arte em todas as suas formas seja de divulgação obrigatória desde a mais tenra idade;
  • é querer que, nas escolas, se ensine os jovens a serem melhores cidadãos, a saberem lidar com o inesperado, a saberem conhecer-se, a serem lutadores, exigentes, a terem auto-estima
  • é ensinar, mas ensinar mesmo, filosofia, psicologia (a par da língua portuguesa, das matemáticas, de outras ciências, das demais humanidades, etc, etc .) pois o País precisa de gente com saber, com técnica – mas gente culta, informada, bem formada, que saiba pensar, que saiba lidar com os outros, que saiba vencer as suas próprias limitações, que perceba que há sempre mais para além do que já se sabe;
  • é ensinar a dar, é ensinar a receber, é ensinar a partilhar
  • …. e mais coisas neste comprimento de onda.

Sei que quem me esteja a ler e tenda para o pessimismo vai achar que isto é xarope e do mau, que isto poderia ser convertido num livro de capa azul e muitas florzinhas e borboletas, com a minha cara retocada, rosada e sorridente e, lá dentro, muitas fotografias do género, passarinhos, carinhas larocas, frases a bold e muita auto-ajuda.

Paciência. Podem fazer os sorrisinhos complacentes e superiores que tanto se me dá.

Sei por prática que isto é saudável e que é possível.

Se na mesma organização houver um sector que segue esta linha de conduta e um outro em que de cima vêm exemplos de derrotismo, de inércia, de rivalidade, as diferenças dentro de cada departamento são notórias. De um lado teremos pessoas motivadas, lutadoras, generosas, bem dispostas e, do outro, teremos pessoas abúlicas, desinteressadas, ressabiadas, improdutivas.

O País tem que sair da fossa em que se encontra e na qual parece que há quem queira que fiquemos enterrados, vivos.

Serra Pelada


Não podemos globalmente, como nação, expiar culpas que não são de toda a população, não podemos deixar-nos para aqui ficar sendo geridos por quem não sabe nada de coisa nenhuma, um governo que a única coisa que sabe fazer é obedecer cegamente a ordens, mesmo quando as ordens conduzem ao caos, à penúria e à desestruturação social como se vê que está a acontecer na Grécia.

Para clarificar o que penso: acho que, na situação em que estávamos, endividados por décadas de desequilíbrios estruturais, com os 'mercados' a atacarem-nos como cães esfaimados, com as taxas de juro a dispararem dia após dia e com as agências a não nos largarem as pernas, não podíamos ter deixado de recorrer a ajuda financeira nem podemos deixar de pôr em prática medidas de reestruturação e de contenção de gastos despropositados. Na altura em que li o memorando da troika concordei com grande parte do que li. Era um programa de racionalização bem feito. O drama é o prazo tão curto pois não se fazem ajustamentos destes em 3 anos, o drama é querer ser mais papista que o papa e desatar a fazer tudo e mais do que isso, com medidas avulsas e a correr, sem olhar aos danos colaterais ('custe o que custar' diz Passos Coelho numa bravata que lhe há-de, um dia, sair cara e depois se verá quem é o piegas) e, pior, muito pior que isso, o drama é não equilibrar esse plano com um outro de relançamento da economia.

O facto de olhar apenas para um dos lados da equação e à bruta, tem provocado todo este desequilíbrio suicidário.



O que há a fazer é ter um pensamento estruturado para o país, um pensamento baseado na confiança, na auto-estima, na motivação, no conhecimento, e pô-lo em prática de forma balanceada: racionalização de gastos por um lado e relançamento económico, por outro - e tudo acompanhado por políticas humanistas e de incentivo ao conhecimento.



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Peço agora a vossa melhor atenção para Bunker Roy e a sua notável Universidade dos Pés Descalços.


(Está legendado e dividido em duas partes - mas, por favor, tentem ver tudo)





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Tenham, meus Caros, um belo dia!

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(PS: Já o disse no título e penso que não oferecem dúvidas pois têm inegavelmente a sua marca, mas não é demais repetir: as fotografias, de uma sensibilidade tocante, são de Sebastião Salgado.)
  

4 comentários:

Traçados sobre nós disse...

Cara UJM:

Gostei do “post”. Obrigado por ele.

Termina com duas lições de mestres:

* não procures soluções fora, mas dentro (eu quase acrescentaria: “de ti”);

** primeiro, ignoram-te; depois, riem-se de ti; depois, combatem-te; por fim, tu vences! (Gandhi).

J. Rodrigues Dias

Teresa Santos disse...

Passo só para deixar um forte abraço.

O factor tempo, esse ditador, não me permite ler, calmamente, deliciada, descontraída, este post.
Espero, poder amanhã ter esse enorme prazer.

Uma noite tranquila.

Abraço.

Um Jeito Manso disse...

Caro J. Rodrigues Dias,

Temo sempre ser um bocado repetitiva. Mas acho que a situação do País é tão grave e a apatia e passividade dos portugueses tão angustiante que não me canso de bater na mesma tecla. Os portugueses têm que gostar de si próprios, têm que ser inovadores, exigentes, criativos, têm que descobrir e reinventar uma maneira de isto voltar a ser uma nação valorosa. Até pareço uma nacionalista conservadora e bafienta a falar. Mas, de facto, sou nacionalista e sou orgulhosa de o ser (embora não seja bafienta nem conservadora)

Adorei a frase do Gandhi. Não conhecia. Obrigada.

Um Jeito Manso disse...

Olá, Teresa!

Tão querida!

Muito obrigada. Cá terei um cházinho à sua espera, venha quando tiver tempo, a porta está sempre aberta para as companhias agradáveis.

Um beijinho.