Ando bissexta - já para não dizer alentejana, que os prezo muito e não acho nada que sejam lentos. Mas vi na televisão uma cena já há uns dias, talvez na sexta-feira, e só hoje a vou comentar. Na sexta não escrevi aqui nada, acho eu, e ontem deu-me para a arte. Vai hoje, que ainda vai a tempo.
Mas então, dizia eu, que vi na televisão o Senhor Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa de seu nome, destratar grosseiramente, usando um desagradável tom de superioridade intelectual, um deputado do PS, João Galamba.
Passou-se isto numa sessão parlamentar e Carlos Costa, perdendo a sua habitual lentidão na articulação verbal, dirigiu-se com irritação a João Galamba, usando expressões como ' Deixe-me acabar porque isso é de uma ignorância total', 'Se não sabe, vá aprender', etc. Não gostei.
Nem sei de que estavam a falar porque apenas apanhei um curto excerto (crowding out e mais não sei o quê) o mas isso também não interessa porque o que me parece ser relevante é que as pessoas devem saber comportar-se como um mínimo de civilidade. Sendo os deputados os representantes do povo, pelo menos em teoria, e sendo a Assembleia da República a Casa da Democracia, exige-se que quem ali vá prestar explicações saiba comportar-se, respeitando a Casa em que está e as pessoas a quem se dirige.
No entanto - e agora num aparte - ao ver o grande plano do deputado João Galamba, não pude deixar de ficar desiludida. Tão bonitinho que ele é, do melhorzinho que por aquela Casa tem passado, e com um vulgar e inestético piercing na orelha?! Ainda se fosse um brinquinho pequenino, discreto, quase invisível... agora uma coisa daquelas tão feia, tão vulgar....? Muito mal. Visto num relance quase parece que tem um inestético sinal ou que um bug ali se alojou, que coisa feia. Claro que é um pequeno pormenor que quase não desmerece o resto mas distrai-nos, desfoca-nos, introduz ruído. Faça o favor de o tirar Senhor Deputado.
Ele ofendido com a deselegante investida de Carlos Costa, todo enervado, ar atarantado, quase ruborizado, e a trocar-se todo ('Gostava que me pedisse um pedido de desculpas'...), e eu a reparar no piercing...
Mas pronto, não falo mais do João Galamba.
Gostava mesmo é que o Governador do Banco de Portugal mostrasse a boa fé intelectual que diz apreciar mas, a par disso, mostrasse respeito pelas instituições, mostrasse boas maneiras, e, se achasse que era o caso, fosse capaz de ser didáctico sem ser ofensivo.
Tenho dito.
12 comentários:
Primeiro, Galamba é membro eleito de um orgão de soberania (com ou sem piercing); segundo, Costa é um funcionário do Estado, nada mais. Quando Costa vai ao parlamento não é para avaliar ou comentar da ciência dos deputados, é para fornecer os esclarecimentos solicitados, nada mais. Em resumo, saiem todos muito mal no retrato.
Sem retirar a razão dos seus argumentos, quero-lhe dizer que os considero incompletos.
O João Galamba até pode ter uma coleção de piercings na orelha, e mais um no nariz, que isso não me diz respeito.
Mas já me diz respeito ele ser ignorante, e andar a ser pago, com o dinheiro dos meus impostos, para não o ser!
Agradeço - e o País também - que o Sr Deputado faça os TPCs, e que passe a falar só do que sabe; embora suspeite que se cumprir à risca esta recomendação nunca mais abra a boca...
Atentamente
José
O Galamba é giríssimo, ponto. Com ou sem piercing na orelha, tanto faz.
Packard,
Nestes tempos conturbados, de falta de tudo (recursos, conhecimentos, lideranças, etc), começa a ser frequente que se perca um bocado a noção de onde está o poder. No Parlamento? Nos Bancos? No Governo? Na UE? Na casa da Angela Merkel?
Esteve muito mal o Carlos Costa, claro. Isso está fora de questão. Mas e a falta de qualidade (em geral) dos actuais deputados...? A gente olha as bancadas e só pelo aspecto vê logo que a coisa não será famosa. O que vale é que poucos abrem a boca.
Uma tristeza o estado a que tudo isto chegou, Packard. É isso que lhe digo.
José,
O meu amigo a falar assim até me faz pensar se o Governador Carlos Costa não se chamará Carlos J. (de José) Costa...
Eu, ao Galambra, tenho que defender, claro que tenho. Olhe se ele se aborrece e se vai embora... já viu a perda que é. O meu Caro pode não ser sensível às minhas razões mas olhe que o Deputado Galamba é mesmo um giraço e isso tem que ser dito (e, até por isso, temos que o defender). Também não o vejo como tão ignorante assim mas, verdade seja dita, que mal o conheço (e refiro-me ao conhecimento televisivo). Quase nunca o ouvi falar embora, das poucas vezes em que isso aconteceu, me tenha parecido uma pessoa de bom senso, o que já não é pouca coisa.
Mas olhe lá, ó meu Caro José - não poderia o Senhor Governador explicar os conceitos e dizer de sua justiça sem lhe chamar ignorante, sem ser tão agressivo e indelicado? Não lhe parece que ir ao Parlamento e chamar ignorante a um deputado é uma coisa ligeiramente excessiva? Não lhe parece que deve ser prezado o respeito pelas instituições e pelas pessoas que as representam?
Que diria o meu Caro se - em público - a Lagarde, por exemplo, se virasse para o Governador Carlos Costa e o mandasse estudar e, com todas as letras, o chamasse ignorante? Não lhe pareceria demasiado humilhante?
Olhe, José, volte. O contraditório é coisa que me agrada.
(Já agora despeço-me também com o mesmo formalismo...) Atentamente.
(PS: E seja mais tolerante com os jovens. Ninguém nasce ensinado, José.)
Luísa,
É mesmo, o João Galamba, é uma graça. Mas eu apostaria em tirar-lhe aquele peircing. Distrai-nos.
Cara anfitriã,
Está claramente a pôr uma dúvida à pessoa errada.
:-)
Relembro-a que a responsabilidade da nomeação do actual Governador do Banco de Portugal e da inclusão do João Galamba na lista de deputados do PS é do Doutorando José Sócrates. Por isso se não compreende a forma como os cargos foram repartidos, e o mais importante foi atribuído ao Carlos Costa (e não foi seguramente por ter maiores conhecimentos em neurocirurgia que o João Galamba), terá de o perguntar ao ex-PM. Estou certo que, lá de Paris, ele terá o maior agrado em lhe responder.
;-)
Chamo-lhe também a atenção para o facto de todos os deputados daquela Comissão (que inclui essa figura notável e camaleonicamente saltitona da nossa democracia chamada Basílio Horta) terem ficado calados perante a afirmação do Carlos Costa!... Situação absolutamente extraordinária quando são conhecidos os comprovadíssimos dotes teatrais de todos eles!!!...
Ora isso pode significar várias coisas:
1. ficaram perturbados, e como são educados nem conseguiram ter uma reacção;
2. perceberam qual dos dois, o João Galamba ou o Carlos Costa, estava a ser imbecil;
3. não perceberam nada do diálogo entre os dois, porque não percebem nada de nada sobre economia, ou de qualquer outra coisa, embora sejam todos capazes de dissertar sobre a teoria das cordas se lhes puserem um microfone à frente da boca.
Dado o estado das finanças deste país, e eu ser um dos que está ser esfolado vivo para pagar as contas, é claro qual das 3 alternativas que lhe coloquei tem a minha preferência...
Também lhe dou outra interpretação ao que sugere entre o Lagarde e o Carlos Costa. Se alguém chamar ignorante a um dos nossos políticos estará seguramente apenas a constatar um facto. Pelo meu lado, e uma vez que não lhes posso nacionalizar o património, ou implementar uma solução semelhante à proposta pelo Otelo, até o considerarei uma forma de justiça poética; e garanto-lhe que não o sentirei como um atentado ao meu patriotismo, antes pelo contrário.
:-)))
Atentamente
José
Pois é, José, acha que a grande maioria dos nossos políticos está mal preparado para a função que desempenha e eu dou-lhe razão.
Acho o mesmo de grande parte dos membros do Governo.
Acho também que o estado a que chegou o País e a capitalução generalizada a que se assista se deve à impreparação técnica, cultural, política, etc,das classes dirigentes do País. Aos poucos a má moeda foi explusando a boa moeda. A mediocridade teme a qualidade.
Até posso admitir que, do tema que se versava na dita sessão parlamentar, o Governador Carlos Costa seria a pessoa tecnicamente mais apetrechada.
Mas isso, Caro José, não lhe daria o direito de tratar ofensivamente qualquer deputado. Acho que se podem dizer as coisas com bons modos, acho que poderia ter aproveitado para dar uma lição sobre o tema, sem ser arrogante ou indelicado. Só isso. Foi sobre a falta de civilidade do Governador que falei. Não concorda que ainda não chegou o tempo da barbárie em que todos podem insultar todos?
Atentamente, José.
O penúltimo parágrafo do seu texto sintetiza um bom conselho dirigido a todos os intervenientes nesta história, incluindo desde logo o João, certo?
Caro Anónimo,
Tenho escrito muitas vezes e até agora em relação a este caso, nos comentários, que acho que existe uma tremenda impreparação nos vários agentes da classe política.
São novos, inexperientes, muitos têm a manha das Jotas que os faz muito faladores e presunçosos e desprovidos de conteúdo, etc e tal.
Ao João Galamba até acho que tem algum conteúdo, alguma preparação, algum bom senso. Faz-se. Será um político importante no futuro, se o quiser.
Presumo até que a praxe do Governador o faça mais homem (e se estou a ironizar nos termos, estou a falar a sério na ideia de base).
Ninguém deveria ser representante do povo ou governante sem traquejo, saber assimilado, vida vivida, mundo. Mas o que temos são jovens tecnocratas ou ambiciosos ou gente abúlica, que não fala, que ali está só a fazer número.
Isto é o que eu acho.
Mas também acho que tudo se pode fazer com bons modos, com utilidade. Acho que o facto de se reconhecer a fraca qualidade dos interlocutores (e neste caso, nem acho que o João Galamba deve ser incluido no grupo dos fraquésimos) não deve fazer com que quem fala se sinta arrogante, impaciente, mal educado até.
É isto.
Jeitinho
Tomara o país ter mitos governantes como o actual Governador do Banco de Portugal.
É só compara-lo com Vítor Constâncio, para se ter a noção da diferença.
Eu tenho muito orgulho em que esteja à frente da instituição onde trabalhei 18 anos, alguém como Carlos Costa.
E quem não é competente que não se estabeleça, como diz o ditado...
Helena,
O actual Governador tem carisma, lá isso é verdade e penso que também deve ter competência. Pelo menos é mais directo, mais interveniente do que o anterior. A gente, ao vê-lo, acredita que as coisas não lhe vão passar ao lado.
Mas teria que chamar ignorante a um Deputado? E ainda por cima na casa 'dele'?
A competência não deve, acho eu, fazer perder as maneiras e o respeito pelos representantes eleitos pelo povo (independentemente dos conhecimentos técnicos destes). Foi sobre isso que falei.
Um beijinho, Helena.
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