No Ginjal, uma gata olha outra gata - como se estivesse a ver-se ao espelho (foto minha, hoje de manhã) |
Vamos pela vida, apressados, distantes, eficientes, e, na voragem dos dias, percebemos que esgotamos o tempo, esgotamos a paciência, esgotamo-nos.
Vamos pela vida e desencontramo-nos de quase todos - daqueles que não conhecemos nem nunca conheceremos, daqueles que um dia conhecemos e que esquecemos, vamos pela vida e vamos quase sozinhos.
Vamos pela vida, escondendo-nos dos outros, de nós próprios, escondendo afectos, escondendo palavras.
Vamos pela vida, vamos indo pela vida, vamos indo.
E, de repente, umas palavras inesperadas, um pequeno gesto, um sorriso que apenas se imagina.
E, de repente, o calor de uma imagem, a cintilação de um olhar.
Reflexos num espelho, fugazes reflexos? Ou alguém do lado de lá, alguém que nos olha do outro lado do espelho?
[Texto inspirado pelos Espelhos Repentinos, inspirado texto da Leitora Contemplativa, autora do excelente A Matéria dos Livros]
6 comentários:
Um belo texto para um domingo de manhã.
Agora fui eu que fiquei sem palavras!
Que bem leu o que quis escrever!Fiquei verdadeiramente comovida.
...no espelho, um aceno, um vulto que não é o dela, só...
Agradeço-lhe muitíssimo
Quando era pequenita, punha-me à frente do espelho, depois queria ver quem estava lá atrás, a repetir tudo o que fazia.
Hoje, olho o espelho e, vejo o meu rosto mas, sei que por trás, está a tal menina que nunca apanhei.
Adorei o seu texto e, como sou cusca, fui ver Matéria dos Livros. Gostei e vou voltar.
Beijinhos para as duas
Maria
Muito obrigada, Packard, fico muito contente que tenha gostado.
Penso que quem escreve deseja por vezes, ainda que involuntariamente, que quem lê as nossas palavras as sinta como suas. Ou que, pelo menos, sinta a sinceridade de quem as escreve.
Deve sentir isso também, quando escreve no seu blogue, presumo.
Leitora,
Aida bem que gostou. Acabei de ler as suas palavras e identifiquei-me de tal maneira que vim a correr para aqui para escrever eu, quase como reflexo das suas palavras.
Não tem nada a agradecer. O seu blogue tem muita qualidade, as suas escolhas são 'preciosas' e as suas palavras sempre ajustadíssimas. É um sítio que visisto diariamente.
Um abraço, Leitora.
Maria,
Há palavras que escrevemos que são muito nossas e relativamente às quais gostamos especialmente que os outros a apreciem.
Por isso, fico contente que as tenha apreciado; e fico também contente que tenha gostado do 'A Matéria dos Livros'. Vai ver que vai gostar de lá voltar sempre pois é um sítio de refinado bom gosto.
Maria, quanto à menina que ainda se esconde atrás do seu espelho, imagino que sim, que aconteça mesmo assim - sinto-a a si tão jovem, tão curiosa, tão cheia de ânimo, que deve ter mesmo alma e espírito de rapariguinha.
Continue assim, Maria!
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