terça-feira, novembro 01, 2011

A véspera do casamento da minha filha e as horas que o antecederam - risota e stress

  
No outro dia comecei a contar as minhas mémoires relacionadas com o casamento da minha filha, iniciando com o dia em que a vi, pela primeira vez, vestida de noiva. A seguir, contei-vos alguns dos preparativos e hoje vou continuar a partir de onde fiquei nesse dia.

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E então, depois de muitos preparativos (todos a cargo da minha filha, coitada, que tratou de tudo quase sozinha – fazendo-o de gosto, cumprindo um sonho, e também porque é uma organizadora inata), chegou a véspera do grande dia.

Apesar de, por essa altura, já viver com o namorado, naquela noite – noblesse oblige – veio ficar a nossa casa. O namorado foi também ficar a casa dos pais, de onde sairia para a igreja. De manhã sairíamos para dar início às operações, sendo que sairiamos para a igreja de casa dela por ser mais próxima da igreja e de tudo o resto.

Nessa noite, faziam-se as combinações: a que horas saímos, quem vai com quem, a sequência, cabeleireiro, ir buscar bouquet, quem leva o vestido, não esquecer de dar uma passagem no vestido com cuidados mil – ‘é melhor ser a avó!’ – as horas a que o fotógrafo chegava a casa dela, almoçamos o quê?, ‘a avó diz que leva uma quiche’, os convidados vão todos directos para a igreja, ‘estão todos avisados disso?’, 'claro!', etc. Mil pormenores.

Até que ela, depois de jantar, já todos na sala, ponderada, resolveu que era melhor ensaiar com o pai a entrada na igreja. O meu marido que não, não estava para isso, não tinha paciência para fazer figuras, ensaios para quê? Achei prudente, juntei-me a ela, ‘É melhor, não vão chegar lá e um ir depressa e outro devagar’ e ela, ‘Vá lá, pai, vamos ensaiar’.

Contrariado, não é nada destas coisas, lá se levantou, lá ela segurou o braço e lá deram início ao desfile.


Eu ia morrendo a rir, ele rápido demais, sem sentido dos timings, ela a querer que ele fosse a passo, ele logo a querer desistir que não tinha paciência para palhaçadas e ela a segurá-lo, ‘Vá lá, pai, devagar, vá, eu marco o ritmo, devagar’, e eu e ela já nos ríamos que nem umas perdidas de cada vez que iam retomar. Até que, ao fim de duas ou três vezes, ele se fartou de vez. ‘Já chega!’

Depois os holofotes viraram-se para mim, ‘Não é melhor ensaiares o teu texto?’. Eu, que já estava farta de me rir, peguei no papel, ela ‘De pé, mãe’, lá me levantei. Mas, ao vê-los sentados, a olharem expectantes para mim, desatei-me a rir. E eles, preocupados, ‘Mau. Quando desata a rir, não pára. Vai ser bonito...’ E, quanto mais eles se preocupavam, mais eu me ria. Já chorava a rir. E eles, ‘Concentra-te, não rias.’ E eu numa gargalhada pegada.


A minha filha também se ria, o riso é uma coisa contagiante, mas ao mesmo tempo estava a ficar aflita, ‘Oh mãe, lá não vais desatar também a rir dessa maneira, pois não…?’ e mais eu ria até mais não poder; só de imaginar a cena de eu a rir à gargalhada perante uma igreja cheia de gente, ainda mais me ria.

‘Mãe, vamos para o quarto, respira fundo, pára de rir’ e lá fomos as duas a rir, eu muito mais que ela. Chego ao quarto e, só de pensar no ridículo da situação, mais eu me ria, já me atirava para cima da cama, a rir à gargalhada, as lágrimas a escorrerem pela cara baixo. Já me batia na minha própria cabeça a ver se parava de rir, mas qual quê…?


Regressámos à sala e aí o meu marido resolveu, ‘Tem que haver um plano de contingência. Não vai ser capaz de ler o papel, vai desatar-se a rir.’. A minha filha já a ficar preocupada a sério, ‘Oh mãe, bolas, achas que amanhã também te vais desatar a rir?’ e eu a querer responder que não, claro que não, mas abria a boca para falar a sério e desatava a rir.

‘Já sei, pai, lês tu.’, resolveu ela.

‘Estás mas é maluca! Eu?! Nem penses numa coisa dessas. Então a tua mãe é que se mete nestas coisas e eu é que vou para lá fazer figuras? Nem penses’, declarou definitivo o meu marido.

‘Oh pai mas tem que ser, a mãe não vai ser capaz, vai ser uma vergonha, a rir sem parar lá no altar, vai ser uma gargalhada geral.’


Ao meu filho estas coisas preocupavam-no, ‘tudo menos a mãe ir armar barraquinha’.

O meu marido, contrariado, pegou no papel... para logo o voltar a pousar: ‘Não sou capaz de ler isto, é uma mariquice, não é coisa que eu leia. Ponto final.’


Vendo-a tão preocupada, lá consegui parar de rir, ‘Não se preocupem, amanhã devo estar nervosa, não devo ter vontade de rir.’. E desatei-me a rir.

‘Ai meu Deus…’, gemeu ela. E o meu marido, também preocupado, ‘Para que te metes tu nestas coisas…? Não podias estar sossegada…?’.

E assim, com estes dois momentos solenes (o da entrada na igreja, e a minha leitura) por ensaiar, lá nos fomos deitar. Eu ainda perdida de riso, especialmente ao imaginar o espectáculo que corria o risco de dar, rindo-me até às lágrimas perante uma igreja cheia de gente.


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No dia seguinte, logo de manhãzinha, começou a azáfama.

A meio da manhã, hora marcada no cabeleireiro. Ela já antes tinha ido ensaiar o penteado, coisa relativamente simples; no entanto, veio a revelar-se, na realidade, altamente consumidor de mão-de-obra, isto é, demoradíssimo, dada a fartíssima cabeleira que ela tem. Eu despachei-me do meu, que era básico, e estando o dela ainda a meio, meti-me no carro e fui buscar o bouquet porque, a seguir a florista tinha que ir para a igreja, que ainda era longe dali, para levar os arranjos para o altar e enfeitar mais não sei o quê.


Andar em Lisboa de carro é uma maçada, há sempre trânsito e, sobretudo, há sítios onde não se consegue para o carro. Depois de voltas e mais voltas, lá o consegui estacionar e a correr lá fui até á florista (e a pensar, ‘com um calor destes e a correr, fico a precisar de outro banho’). Chego lá, já ela estava a estranhar que não aparecesse ninguém a buscar o bouquet e as cestas com pétalas para atirar aos noivos... e, com um sorriso que me pareceu levemente hesitante, exibe o bouquet. Ia-me caindo o coração aos pés. Era ínfimo.

Tinham-nos recomendado esta florista por ser artista mas nós não tínhamos gostado especialmente de nenhum bouquet dos de catálogo dela e então tínhamos andado a ver revistas e tínhamos escolhido um, muito simples, só com flores brancas, comprido. Deixámos a fotografia com ela para que tentasse reproduzi-lo e acertámos as variedades de flores que o comporiam.

Afinal, o que ela agora tinha feito era metade do que eu estava à espera. A florista ficou tão petrificada quanto eu, mas assumiu que 'de facto, se calhar, poderia ter ficado um bocadinho maior' mas que só se apercebeu no fim, mas que se calhar 'assim estava bem', que 'para alterar teria que desmanchar tudo' e que 'não sabia se ainda tinha flores que chegassem porque tinha aproveitado praticamente tudo para os arranjos para a igreja e que também já não devia dar tempo, já era tarde' e mais não sei o quê. Eu estava passada, contrariada. Tanto cuidado a escolher o bouquet e, no fim, faz-me um bouquet que parece uma amostra do que se pretendia. (Isto, contado, parece que eu estava a empolar uma assunto de total irrelevância mas é preciso contextualizar - quando se está no meio da preparação de um casamento, tudo é da máxima importância para a noiva que tanto idealizou o momento, tanto trabalho teve e tanto cuidado pôs em todos os pormenores, que quer que tudo corresponda ao que idealizou; e eu, como mãe, queria que nada falhasse, claro). Olhei para o relógio e resolvi meter-me de novo no carro para ir mostrar à minha filha, que visse ela, que decidisse ela, podia ser que eu estivesse, de facto, a empolar ou que não estivesse a ver bem a coisa, que o bouquet assim pequenino até tivesse alguma gracinha.


Lá fui outra vez a correr para o carro, agora de bouquet na mão, lá cheguei ofegante ao cabeleireiro, onde a minha filha ainda estava, desesperada já, a ser penteada. Quando viu o bouquetzinho, deu um grito: ‘Mas o que é isso?!...Mas isso é micro-mini ramo, não era nada disto, que horror…! Que coisinha ridícula!’.

Peguei no micro-mini bouquet e lá fui de carro outra vez, a mesma cena, voltas para estacionar, depois a correr, calçada fora com o bouquet na mão. ‘Pois, é como eu dizia. Tem que se desmanchar. Vá lá buscar o que ainda aí tem'. E então estive eu a ajudá-la, a rapar ramos e flores lá pelos cestos e caixotes, a tentar esticar o ramo para ficar conforme o que tínhamos imaginado.

E ficou. Lá fui de volta, estafada, já, tardíssimo, com o bouquet agora enorme, com muito cuidado não fosse roçar no chão e estragar-se.

Pelo meio já o meu marido me tinha ligado várias vezes a perguntar onde é que andávamos, que ele e os meus pais já estavam em casa dela e que o fotógrafo também já lá estava.

Já estávamos, no mínimo, uma hora atrasadas.




(To be continued)


Nota: As fotografias foram retiradas da net com o objectivo de ilustrar o texto

  

2 comentários:

Maria disse...

Um jeito manso
Tenho esses ataques de riso incontrolável e, sei a aflição que sinto quando quero parar.
E afinal, conseguiu falar na Igreja?
Estou morta por saber o resto.
Não me faça sofrer.
Beijinho
Maria

Um Jeito Manso disse...

Sabe lá, Maria, eu já sou de me rir bastante mas agora quando me dá para rir sem parar, especialmnete quando sei que não o devo fazer, é uma coisa...

Tenho passado com cada uma... E então quando tenho alguém a fazer-me rir... Por exemplo se estou numa reunião e sucede alguma coisa caricata, fico em pulgas para não me dastar a rir... Mas se encaro com algum colega que me faz algum trejeito sobre o assunto ou em quem vejo também vontade de rir, está tudo estragado. Sofro para parar de rir.

Quanto ao casório a ver se escrevo hoje sobre o grande momento.

(Mas o texto só o mostro se ela me deixar e esqueci-me de lhe pedir autorização. Mas é um textozito pequeno, nada de transcendente).

Um beijinho, Maria.