quarta-feira, outubro 26, 2011

O primeiro dia em que vi a minha filha vestida de noiva, a sessão de fotos da Carrie Bradshaw vestida de noiva para a Vogue, Kate Moss, a noiva, vista por Mario Testino e por Annie Leibovitz e outros - e tudo ao som da Ave Maria de Schubert


No post de baixo já fiz a minha resenha diária dos avanços e recuos da nossa politicazinha. Mas fartei-me e interrompi (podem ir ali abaixo conferir) para vir falar de outra coisa mais agradável.

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Desde pequenina que a minha filha gostava de se imaginar vestida de noiva.

Adorava brincar com uma Barbie noiva. A minha mãe, que sempre teve muito gosto e jeito para a costura, tinha-lhe feito para a boneca um vestido cheio de tules, rendas.


O vestido estava numa caixa comprida, branca, de cartão macio e a minha filha, com cuidados mil, tirava-o da caixa, vestia-o à Barbie e, uma vez a Barbie vestida de noiva radiosa, o vestidinho armado, o véu colocado, era a si própria que a minha filha se via.

(Tem que haver música, tem mesmo. Carregue, se faz favor, no Play)



(Prossigamos, então)



Kate Moss com 17 anos, posando para a revista Brides

Quando eu era pequena também me imaginava a casar vestida de noiva, a deslizar igreja fora, com um grande véu. Contudo, eu não me casei por igreja. E casei-me (civilmente) porque era normal as pessoas casarem-se, não me ocorreu não casar. Mas, se não o tivesse feito quando o fiz, talvez o tivesse feito mais tarde, por razões fiscais ou práticas. Não sei. Não dou grande importância a isso.

Quando me casei ‘pelo civil’, novíssima, estudante (mas já a trabalhar como professora), ainda fui experimentar uns vestidos nas casas de noivas da Baixa mas, habituada que estava a andar de jeans ou de vestidinhos curtos, olhava-me ao espelho e parecia que estava fantasiada, via-me ridícula, uma carnavalada sem sentido. Aquela cena de um vestido que nada tinha a ver com o que eu era na altura, uma coisa cara, para um único dia, parecia-me um desperdício, um despropósito.

Mas, como queria ir vestida de branco para, ao menos, manter alguma tradição e não desiludir muito a minha família, escolhi umas calças brancas e uma blusinha muito bonita, justa, branca, quase transparente, bordada, uma toilette do Augustus.

Vejo-me nas fotografias com ar de menina, inocente e embevecida, apaixonada, sempre abraçada ou aos beijos a um marido igualmente novinho, lindo, vestido da forma menos convencional possível mas elegante na sua forma descontraída de se vestir. Foi um dia muito feliz, assim o recordo, assim o vejo nas fotografias.

A minha filha olhava essas nossas fotografias de casamento e ficava admiradíssima ‘Mas porque é que se casaram assim...? Nem pareciam noivos, nem nada… E eram ainda tão novinhos, não se pareciam com os outros noivos, não gosto nada, eu não vou assim, nem pensar…’ . E sempre assegurava que ela iria vestida de noiva, uma noiva a sério.

Kate Moss fotografada por Mario Testino

E assim foi. Quando chegou a sua altura, novita também, embora não tanto como a mãe que era praticamente ainda adolescente, a alegria de escolher o seu vestido era mais que muita. Viu revistas, pensou, idealizou, andou pelas lojas até que descobriu um que, adaptado à sua imaginação, corresponderia às expectativas.

Então, num dia previamente agendado, lá fizemos uma excursão para validar a escolha. Ela, eu, a tia, a avó materna. Uma senhora muito bem atendeu-nos, mostrou catálogos luxuosos, analisámos, hesitámos, eram tantos e tão bonitos; mas acabámos por concordar que a sua pré-escolha parecia bastante acertada.

Recolhemo-nos a uma sala no interior em que as paredes estavam quase todas revestidas de espelhos com alguns bancos. Essa salinha tinha uma janela mas as cortinas traziam uma penumbra íntima, coada. Num grande cabide lá estava o vestido escolhido para o número dela, e ainda na versão standard. Uma seda natural com um toque macio, um cair de sonho, uma sobreposição de uma mousseline a trazer transparências ao conjunto.

Chegou então uma modista que a ajudou a entrar no vestido. Um saiote farto por baixo para armar o rodado, um soutien cai-cai porque teria apenas um ombro, um folho macio a ondular junto ao franco decote, uns franzidos no corpete. Ficava linda. Fez as adaptações, o vestido estava sexy mas mantendo o look princesa, elegantíssimo, deslizaria num roçagar de folhos, sedas e rendas.

Kate Moss by Annie Leibovitz

Mas achámos que para ficar perfeito teria que ter um véu comprido e então estivemos a ver o catálogo, véus de todo o género, feitios, tamanhos. Escolhemos o mais bonito, o de macia renda de seda belga, longo, lindíssimo. Deslizaria pela igreja, concretizaria o sonho. A dona foi buscá-lo. Vinha numa caixa branca que me fez lembrar a pequena caixa do vestidinho de noiva da Barbie. A senhora tirou-o da embalagem, estava entre papel de seda, e ele desdobrou-se, imenso, bordado, pelo chão.

Kate Moss no seu próprio casamento

A seguir, com a ajuda da modista, puseram uma travessa no alto da cabeça da minha filha e sustiveram, por aí, o longo véu, uma parte cobrindo-lhe o rosto, o resto deslizando macio pelos ombros, pelas costas, cobrindo a parte de trás do vestido, arrastando-se longo pelo chão. E a minha filha estava linda, feliz. Ela olhava-se ao espelho e sorria, era a noiva com que tanto tinha sonhado. E eu fiquei comovida, lágrimas nos olhos, mãe de uma noiva linda e feliz. E todas nos comovemos, por vermos a nossa menina tão linda.

Foi a primeira das minhas emoções relacionadas com o casamento dela. As maiores, contudo, ainda estavam para vir. Amanhã ou outro dia eu conto.

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E agora, para encerrar com glamour, a sessão fotográfica de Carrie Bradshaw em vestido de noiva (Sex and the City) para a Vogue.



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Tenham, meus Amigos, um belo dia!

    

8 comentários:

Luisa disse...

Dizia-me outro dia uma amiga que casou pelo civil, sem qualquer luxo e dinheiro, e que ao fim de 20 anos de casamento se separou: Luisa, ainda tenho esperança de um dia me vestir de princesa, casar de vestido branco de noiva!
Esta coisa das princesas deve estar gravada no nosso ADN. Que raio!

Helena Sacadura Cabral disse...

Minha querida
Que belo texto e que sonho tão comum - hoje, mais ainda, nas que casam - esse de ir vestida de princesa.
Eu casei assim. Mas, um dia, dei-lhe uso. E o vestido, transformou-se!
Deu uma linda blusa de chiffon bordado e do resto dei-lhe um mergulho de chá preto e fiz uma saia muito justa lindíssima. Costumo usá-las juntas. O tom bege rosa com que ficou a saia casa muito bem com o branco da blusa!

Maria disse...

Amiga
Também sonhei vestir um vestido de noiva. Depois, considerando o casamento um mero contracto, desisti.
Casei só pelo civil e... grávida. Não tinha cabimento.
No dia que vi a minha nora vestida de noiva, saltaram-me as lágrimas. Ela estava linda.
Senti uma espécie de nostalgia, por nunca ter casado de vestido de noiva.
Que importa? Fui feliz na mesma!
Beijinho
Maria

Um Jeito Manso disse...

Olá Luísa,

Tem graça o seu comentário. Eu acho que sim, que é uma coisa bonita, um sonho, uma ilusão. Não me quis ver vestida de noiva, pelas razões que enunciei, mas adorei ver a minha menina, linda, a cumprie o seu sonho. E adorei também algum tempo depois ver a minha nora, muito bonita, feliz, e o meu filho emocionado a vê-la entrar pelo braço do pai.

São momentos que valem uma vida. Com o seu quê de encenação, de imaturidade, de cena de princesas e fadas, é certo, mas momentos inesquecíveis, na mesma.

Um abraço, Luísa.

Um Jeito Manso disse...

Querida Helena,

As suas palavras comtêm sempre um tom de confidência encantadora, dá vontade ficar à escuta para ouvir com atenção.

Deve ter ido bem bonita, vestida de noiva. Vi uma vez no Expresso uma fotografia sua com os seus meninos e era uma giraça!

E ainda é, que a beleza não se esvai quando se lhe sabe dar uso, como é o seu caso.

Alterar o vestido é inteligente mas deve ter dado um bocadinho de pena, não?

Fiquei a olhar para essa do chá e fiquei estupefacta. Não sabia que produzia esse efeito mas deve ter ficado giro, mesmo. Mas o efeito é duradouro?

Olhe que o conjunto deve ficar giríssimo. Como escreve a Ines de Fressange o estilo e o 'chic' está no saber combinar, no saber reaproveitar, no ousar. E imagino o gozo que lhe deve dar experimentar, imaginar, ousar... E depois escolher um belo pregador a condizer, não é? Do pouco que a tenho visto na tv, reparo sempre nesse adereço que faz toda a diferença.

A Helena é verdadeiramente bcbg.

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria,

Percebo muito bem o que diz. Eu embora tenha deliberadamente optado por casar vestida como descrevi, penso que foi uma oportunidade única que perdi (porque uma pessoa ser noiva a sério por um dia é uma coisa mágica).

Lembro-me de um tio meu um dia ter dito de uma rapariga que era muito feiinha e que ele tinha visto vestida de noiva, 'até estava bonita mas todas as noivas ficam bonitas'. Nunca me esqueci disso. Estar vestida de noiva é estar mais bonita e quem é que não quer estar mais bonita?

Eu também me desfaço em lágrimas ao ver as minhas meninas vestidas de noiva. A ver se falo nisso, ou hoje ou amanhã.

A ver se não me 'perco' a falar de política, para conseguir contar isso...

Um beijinho, Maria.

Anónimo disse...

Claro que eu, sendo a filha referida, fico até emocionada ao ler este post.
Senti-me uma verdadeira princesa nesse dia e quem não gosta de se sentir assim?
Várias vezes vou ainda ali às grandes caixas que tenho no roupeiro, ver e tocar o vestido e o véu (o véu é maravilhoso, indeed) e tento imaginar alguma ocasião em que os possa usar novamente... Any ideas?
Correcção preciosista: a caixa do vestido de noiva da Barbie (o melhor presente de todos os tempos!), tinha a tampa verde escuro com bolinhas douradas. E um pormenor que me encantou desde esse dia até hoje: o véu da Barbie tinha 3 pérolas mínimas que o tornavam ainda mais mágico...
Obrigada mãe e obrigada avó :)

Um Jeito Manso disse...

Oh baby...! filha mais linda!

Não estava nada à espera que comentasses. Fiquei mesmo contente, linda.

Pois é, tens razão, a caixinha não era toda branca, não. Como era tudo tão imaculado, na minha memória ficou tudo branquinho mas a tampa não era. E o véu tinha aquelas perolazinhas, sim, tudo tão mimoso, a avó fez-te aquilo com um tal desvelo, tudo muito perfeito; e tu gostavas tanto, com que cuidado mexias naquele vestido. Manteve-se sempre branquinho, armado como novo.

Beijinhos, linda. Conserva sempre estas memórias tão felizes.