A imprensa económica vem dando conta de (mais) uma situação que (para mim, pelo menos) é angustiante.
No tecido económico nacional temos, por um lado, as empresas de capitais públicos ou com uma participação pública qualificada; do outro, temos as empresas ou grupos privados. Não vou aqui referir-me, dentro deste segundo grupo, à sua maior componente, as pequenas e médias empresas: vou cingir-me às grandes, as maiores empregadoras.
O primeiro grupo, como é sabido, foi colocado em regime de outlet e vai ser despachado a grande velocidade, seja a que preço for, nem saldo é, é mais na base de despachar o stock, que vamos para mudança de ramo, vai a peso e faz-se desconto, vai pelo que quiserem dar. Qual interesse estratégico, qual quê? Marcha tudo e rápido, que temos pressa.
Aquelas que, durante anos, foram consideradas o reduto do imprescindível controlo nacional vão passar para as mãos de quem quer que seja, que as vão gerir como quiserem. O mais aborrecido disto? É que tirando uns dois ou três 'ricos' cujos recursos não são elásticos, em Portugal não há capitalistas, não há dinheiro e, portanto, todas as nossas estimadas jóias da coroa vão parar a mãos angolanas ou brasileiras ou russas ou chinesas ou ao que for.
Quando as direcções dessas empresas começarem a ser exercidas não por portugueses mas por pessoas dessas nacionalidades, as coisas começarão a ficar claras. A seguir assistir-se-á, em muitos casos, a que os serviços passarão a ser assegurados a partir desses países numa lógica de eficiência, de sinergias, shared services pois então.
Mas atentemos agora ao segundo grupo, o dos grupos privados. Tudo no maior sufoco. Se virmos a situação das que estão na bolsa, perceberemos a situação aflitiva em que se encontram. Como muitas vezes já aqui o referi, estas nossas grandes empresas não resultaram (na sua grande maioria) de uma aplicação de capital líquido por parte dos accionistas de referência: não, resultam de fortes alavancagens financeiras. Business cases e project finance e não era difícil: com capitais alheios, muitas vezes dando como garantia as próprias acções, as empresas lá foram investindo e crescendo.
Agora, em plena crise, com os encargos financeiros a dispararem e, por outro lado, com as acções a desvalorizarem, temos o mix que atira com estas empresas para o buraco. Por um lado os custos aumentam dramaticamente, por outro lado as acções que garantiam os empréstimos deixaram de valer grande coisa.
Ou seja, a dívida fica a descoberto. Ficando a descoberto, os bancos, em pânico, querem reaver o dinheiro que lá meteram e as empresas, com o negócio já de si péssimo e estranguladas financeiramente, não têm como.
Isto é: estão as empresas penduradas, incapazes de crescer e, muitas, de se aguentar, e os bancos a ficarem atafulhados com uma dívida incobrável, lixo, e com os seus rácios a degradarem-se.
Como se a situação não fosse já assustadora, eis que o Governo se prepara para deitar abaixo a última protecção nacional: vai legislar no sentido de impedir a oposição, até agora permitida, a OPAs hostis.
Ou seja: com as empresas de tanga, aflitas, a valerem tuta e meia (e note-se que a desvalorização bolsista a que se tem assistido não é apenas fruto da apreciação racional dos mercados: não; há fortes indícios de que práticas especulativas como o short selling ou o naked selling têm estado a assolar as bolsas europeias e, entre elas, a portuguesa), está na cara que, não vai faltar muito para que todas elas caiam às mãos de quem lhes quiser pegar.
Poderia agora falar de um caso muito mediático: fala-se que não tarda a Impresa está nas mãos da Ongoing. A brutal desvalorização a que a Impresa tem sido submetida torna-a um alvo fácil, nomeadamente para a Ongoing que já valerá, por estes dias, 5 ou 6 vezes mais que a Impresa.
Nuno Vasconcellos e Francisco Pinto Balsemão Uma guerra sem tréguas |
Mas não é apenas a Impresa. Grupos maiores e de referência nacional atravessam, por estes dias, iguais momentos de total incerteza.
Assim, temo bem que daqui por algum tempo, não muito, Portugal tenha a sua economia (leia-se: as suas maiores empresas) nas mãos de capital estrangeiro.
Isso aliado a uma política liberal inculta, nas mãos de uma rapaziada maioritariamente impreparada, sem uma visão humanista da história, e integrados no caldo pantanoso que é hoje a UE, faz-me prever tempos de retrocesso histórico, tempos de capitulação.
Portugal, que durante tanto tempo teve uma história de que se podia orgulhar, corre sérios riscos de perder a sua verdadeira autonomia, a sua identidade.
Na Europa que patina em todas as frentes (a ecomia alemã a estagnar, deixando de impulsionar a zona euro, a economia francesa refém dos mercados que temem a exposição à dívida italiana, a italiana, a espanhola, a belga, já a sofrerem as bicadas dos abutres que cheiram as fragilidades à distância, as economias grega e portuguesa a serem sugadas pelos impostos, etc, etc), Merkel e Sarkozy juntaram-se hoje e apresentaram uma nova cartada: propuseram um governo económico para a zona euro, avançando com Rompuy, apagada criatura, para chefiar este goveno que se reunirá cerca de 2 vezes por ano; medidas fiscais uniformizadas sobre as transações financeiras e a inscrição nas constituções de todos os países de limite ao défice.
Medidas para show off mas de resultados práticos dúbios e demorados quando agora se precisa de decisões rápidas, inovadoras. E mantêm-se contra as eurobonds. Ou seja, a Europa e a Zona Euro a marcarem passo, em frágeis equilíbrios, enquanto a situação geral se degrada. O pântano a alastrar.
Medidas para show off mas de resultados práticos dúbios e demorados quando agora se precisa de decisões rápidas, inovadoras. E mantêm-se contra as eurobonds. Ou seja, a Europa e a Zona Euro a marcarem passo, em frágeis equilíbrios, enquanto a situação geral se degrada. O pântano a alastrar.
A cada dia que passa mais pessimista fico com esta situação. Daqui por algum tempo, temo bem que, neste mar parado, a fazer valer a sua portucalidade, restem apenas os escritores, os artistas em geral e nós, os bloggers, os que nada riscam.
Mas não todos os bloggers. Como sabemos, o que não falta são os que, tentando um lugar à boleia seja de quem for, escrevem consoante a feição de que sopram os ventos.
Nem os jornalistas, que esses são assalariados de empresas em que terão que se reger por deveres de lealdade em relação à entidade patronal que será a Ongoing, a Sonae, a Cofina, a Media Capital, etc.
O casal que hoje manda nos países da União Europeia E tão longe que eles estão de nós |
Sem comentários:
Enviar um comentário