Que os políticos de militância (ou simpatia) partidária conhecida possam ser convidados para comentadores na televisão não me choca por aí além. Estão ali justamente para comentar, e comentar é expressar a opinião, que é, por definição, a expressão de um pensamento pessoal, subjectivo.
Se ouço Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa ou António Vitorino, Manuel Maria Carrilho e por aí fora, eu já sei quais os seus fundamentals e, logo, eu própria farei a decantação que achar conveniente.
O que me parece questionável, senão eticamente algo repovável, é que jornalistas (por definição, isentos no exercício da sua função), volta e meia, passem para o lado de lá, num exercício que quase diria de alterne, tornando-se comentadores e, nessa qualidade, propalando marcadas preferências partidárias.
Isso acontece de forma muito vincada na TVI 24 com Constança Cunha e Sá. Umas vezes ela é jornalista, editora de política, outras vezes apetece-lhe tribuna e porta-se como se fosse ponta de lança partidária. Na sexta feira passada, comentando o debate Sócrates - Passos Coelho na RTP, foi ainda mais explícita do que em vezes anteriores.
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Constança Cunha e Sá, presença permanente na TVI 24, alternando entre o jornalismo e o comentário político |
Com o seu habitual ar blasé, depois de decretar que Sócrates está gasto e que Passos Coelho esteve muito bem, analisando o debate sob uma lente sectária, absolutamente tendenciosa, chegou ao destempero de desejar que Passos Coelho, fruto do debate, roubasse votos ao PS e não ao CDS.
O meu marido está a pensar escrever uma carta à TVI e eu, juntando-me ao protesto, daqui me insurjo contra aquilo a que no outro dia designei por jornalistas travestidos de comentadores partidários. Como acreditar, daqui para a frente, que Constança Cunha e Sá estará a fazer o seu trabalho de jornalista isenta quando estiver a noticiar a actualidade?
Em contrapartida, um outro jornalista da TVI 24 nos merece, cá em casa, agrado: Paulo Magalhães. É contido, sensato, moderado, oportuno, directo, educado. Debates ou entrevistas conduzidos por Paulo Magalhães são sempre um gosto. Não há muitos mais como ele, na televisão portuguesa.
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Paulo Magalhães, um excelente jornalista de uma notável sobriedade (a imagem não é famosa mas foi o que encontrei) |
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