terça-feira, abril 26, 2011

A Praia de Cesare Pavese, o Quarto livro de Crónicas com CD de António Lobo Antunes, Economia, Moral e Política de Vítor Bento, La Coca de Rentes de Carvalho ... e, no recato do silêncio e da penumbra, Sítios de José Bento

Antes de me atirar com o meu habitual jeito manso às coisas da nossa baixa, baixinha politica, deixem que vos conte de uns livros que me fazem companhia por estes dias.

Dearest friends

Já por três vezes, se a memória me não falha, coloquei poemas do maravilhoso último livro de José Bento, Sítios, no meu outro blogue o Ginjal e Lisboa, a love affair. Ainda hoje lá coloquei um, líndissimo. É um livro raro. Não se percebe bem de onde pode surgir um sopro tão sagrado, tão puro, tão intenso. É um livro para por ele vaguear devagarinho, com respeito, como se andássemos dentro de uma igreja em plena missa.

Temos também o La Coca do fantástico Rentes de Carvalho, um homem de mais de 80 anos, que tem vivido na Holanda, com um humor pleno de ironia e frontalidade. Só o conheço das entrevistas a Paula Moura Pinheiro na Câmara Clara e ao Pessoal e Transmissível do Carlos Vaz Marques e estou curiosa por ver como escreve.

Depois, porque admiro a honestidade (embora por vezes um pouco facciosa) do Vítor Bento e porque o livro é barato, comprei o Economia, Moral e Política, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Saíu, em cuidada edição, papel agradável ao toque (especialmente o da capa), o Quarto Livro de Crónicas com o plus de trazer um CD com algumas delas lidas pelo autor, António Lobo Antunes. Ainda não ouvi todo mas posso confessar que hoje à hora de almoço e à vinda para casa vim a ouvi-lo, de gosto. Cheguei a rir a bom rir com o Sr. Biscaia, ou Artur (Artur, o c------!).

Sou uma leitora mediana de António Lobo Antunes: gostei dos primeiros livros e gosto imenso de todos os de Crónicas. Dos romances (que disciplinadamente compro todos, vá lá saber-se porquê) há muito que não consigo ler nenhum. É uma escrita caótica, mal estruturada, uma melopeia maçadora, não ata nem desata, vai e vem, sem história que interesse, sem lógica. George Steiner diz que o acha melhor que Saramago e considera que deveria ganhar o Nobel. Mas eu acho que ele deve é ter uns tradutores muito criativos, que devem dar uma reviravolta ao texto e dar alguma sequência legível aos textos. Ou isso ou sou eu que sou muito básica, muito tonta, muito loura burra. Não consigo, nem tenho paciência para me enovelar naqueles enredos. Mas tento, juro que tento. (Ele, se lesse isto que estou a escrever, deveria ficar fulo da vida porque não percebe que alguém possa não amar de paixão aquilo que ele escreve e que tanta trabalheira lhe dá). Azarinho.

Agora das Crónicas gosto muito, gosto mesmo muito. E lidas por ele têm muita graça, e têm emoção, têm muito dele (digo isto porque já devo ter lido todos os livros de entrevistas que lhe fizeram, pelo que já tenho uma noção de como ele é - e como ele se repete nas entrevistas... mas tem graça, eu gosto de o ouvir, de ler o que ele diz, há ali um rasgo, lá isso há).

Finalmente um livro muito bonito - quero dizer, com uma capa, uma encadernação muito bonitas, muito cuidadas, da Ulisseia: "A praia" de Cesare Pavese. Estou com muita curiosidade. Apetece olhar, apetece passar com a mão. E, claro, apetece ler.

Gosto muito de Cesare Pavese embora, até agora, tenha lido um único livro dele. Coloquei-o ali naquele montinho que juntei para a fotografia: "Ofício de Viver". É uma edição antiga, da Portugália, ainda tem o preço (15$00, leia-se: 15 escudos, nem 10 cêntimos).

É um livro especial o 'Ofício de Viver', uma visão crítica do mundo, da vida, um relato às vezes agudo, outras pungente, frequentemente melancólico, das decepções, das ilusões, um diário que gostamos de ir acompanhar. Uma escrita inteligente. Infelizmente não acaba bem (" Um imenso fastio de tudo. Basta de palavras. Um gesto. Não escreverei mais." - e não escreveu)

Se fosse hoje Cesare Pavese escreveria certamente um blogue, muito 'a la Pedro Mexia'. 

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