quarta-feira, abril 06, 2011

O que acontece quando o ciclo vicioso acelera e entra num processo destrutivo.

Não gostaria esta semana, enquanto o décor do blogue for de berçário, falar de dramas, crises graves, riscos indesmentíveis. No entanto, face à gravidade do momento que atravessamos, é quase impossível alienar-me o suficiente para poder falar de temas ligeiros.

Vou tentar evitar falar de culpados, de incompetentes, de estúpidos. Vou antes falar de dois conceitos ou melhor, de um, no seu verso e reverso: ciclo vicioso e ciclo virtuoso (por vezes também se designam por 'círculos' e não ciclos porque, graficamente, se representam em círculo).

Transcrevo da wikipedia: O chamado círculo vicioso é uma sucessão, geralmente ininterrupta e infinita, de acontecimentos e consequências que sempre resulta numa situação que parece sem saída e sempre desfavorável, principalmente para quem se vê capturado por esse tipo de relação.



É o contrário do Ciclo virtuoso em que, num clima de confiança, há investimento, há um clima favorável que traz retorno aos investimentos, há reinvestimento, há riqueza, e havendo riqueza há consumo, e assim sucessivamente: um ciclo de bem-estar.

Temos que ser realistas: entrámos há algum tempo atrás - talvez quando Sócrates formou um governo sem maioria, talvez quando aceitámos destruir o nosso tecido produtivo a troco de subsídios - num ciclo vicioso.

José Sócrates tem tentado, à exaustão, quebrar o ciclo, retomar a confiança mas, até aqui, não o conseguiu,  não lhe foi possível - e o tempo extinguiu-se.

Por um conjunto de erros sucessivos, com todos os agentes a soprarem para que o ciclo se acelere (Sócrates a cometer um erro crasso na recta final, levando a Bruxelas um PEC 4 que Portugal desconhecia, as oposições unidas para derrubar o governo, não havendo alternativas, as agências de rating a agir como bruxas malévolas, a crise económica e financeira a agudizar-se em vários países da europa, etc), o ciclo vicioso entrou na sua pior configuração: o da espiral que, em sofreguidão, nos puxa para o nada, para o vazio.

Os ciclos virtuosos de anos atrás (que hoje percebemos que eram, afinal, miragens) são hoje pálidas recordações e temos que perceber que não nos podemos agarrar, neste momento, a esperanças falsas, a saudosismos inúteis. Não se passa de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso sem intervenção de agentes externos.

Ou seja, no ponto de aceleração que a espiral atingiu, parece-me indispensável que uma intervenção muito séria aconteça para retirar a vorticidade no sentido da destruição absoluta.


Se é um governo de salvação nacional (e esta é a designação que me parece adequada), se é um governo de gestão com uma ampla base de apoio gerida pelo Presidente da República (se tiver visão e competência para isso, o que duvido), se é um delegado de Angela Merkel, isso não sei mas alguém tem que, urgentemente, arranjar forma de injectar dinheiro na economia antes que fiquemos, de repente, a nadar numa praia sem água, como peixes na areia, sem capacidade para respirar.


 É que já não é apenas a questão do brio, tão pouco da vergonha nacional: não, é pior que isso, é uma questão de sobrevivência.

E depois, logo a seguir, há que, urgentemente também, descobrir a forma de, com honradez, nos reinventarmos, voltando a produzir produtos (alimentação, maquinaria, etc) para que não estejamos como estamos: improdutivos, consumistas, dependentes de ajuda alheia.

Há algum tempo atrás eu achava que seria possível, por nós próprios, invertermos o rumo descendente em que nos encontravamos. Contudo, face à aceleração em que a espiral entrou nas últimas semanas (as taxas de juro já na casa dos 10%, os bancos sem capacidade para financiar o estado, alguns bancos declarados lixo), não nos restam hoje alternativas.

Alguém tem que tomar conta de nós: perdemos o pé.

E tem que ser já antes que fiquemos em oxigénio.

Se é o Fundo de Estabilidade Financeira, se é o próprio FMI, não sei, quanto é, também não sei. Mas este deveria ser o tempo em que os rapazolas e as mulherzinhas deveriam sair de cena para que os homens e mulheres sérios e competentes tivessem espaço para se poderem entregar à séria missão de refundar Portugal.

É pena. E pior: é muito preocupante.

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