No Actual do Expresso desta semana Pedro Mexia fala de hotéis, da estranheza, da inquietação que, por vezes, transmitem com os seus corredores vazios, quartos fechados em que se escondem solidões, aventuras, fatalidades, fantasmas. Dada a sua habitual perspectiva, é natural essa análise.
A mim não me ocorre pensar isso. Penso em casais, famílias, encontros às vezes, conveniência a maior parte das vezes. Tal como ele, também eu gosto de hotéis - mas só gosto de hotéis especiais.
Claro que, muitas vezes, fico em hotéis completamente indiferenciados ou porque vou a trabalho e não sou eu que os escolho ou, então, são-me indiferentes pois não os usufruirei para além da dormida; ou então, se a passeio, porque, no percurso, não calha haver nada de especial, e a opção é a comodidade, os bons pequenos-almoços. Geralmente – e que me perdoem os que acharem isto de algum elitismo - a escolha recai sobre hotéis com não menos de 4 estrelas porque, de facto, há um diferença significativa para pior nos hotéis com 3 ou menos estrelas (em Paris, por exemplo, até os de 4 estrelas têm que ser escolhidos com algum cuidado).
Há hotéis que recordo com muita vontade de lá voltar, pelo hotel em si e pelo local – por exemplo, um belíssimo hotel em San Sebastián ou Donostia (adoro San Sebastián, adoro mesmo) ou um outro em Génova (estive em Génova apenas durante 2 dias e gostava de lá voltar: fiquei fascinada).
No entanto, o hotel de que até hoje mais gostei é um pequeno hotel de 3 estrelas. Fui agora à procura na internet e vejo que mudou de nome. Chamava-se LeChat e agora chama-se Les Maisons de Léa. Fica no Place de Sainte Catherine na pequena cidade de Honfleur.
No entanto, o hotel de que até hoje mais gostei é um pequeno hotel de 3 estrelas. Fui agora à procura na internet e vejo que mudou de nome. Chamava-se LeChat e agora chama-se Les Maisons de Léa. Fica no Place de Sainte Catherine na pequena cidade de Honfleur.
Hotel Les Maisons de Léa, ex Hotel LeChat |
Para quem não tenha o privilégio de conhecer, informo que Honfleur é uma cidadedezinha encantadora na Normandia. Tem uma doca em que – para além dos barcos, claro - há restaurantes muito bons e esplanadas, tem ruazinhas muito cuidadas, muito bonitas, e tem este largo, onde se situa uma capela muito original, com interior de madeira, e restaurantes onde se come muito bem, moules como é bom de ver, huitres fresquíssimas, travessas de mariscos, e dobrada de Caen, e outros pratos apetitosos.
Église de Sainte Catherine, Honfleur, Calvados |
Abro um parêntesis para referir que toda a Normandia é uma maravilha. Pernoitámos também noutros locais muito bonitos como Saint-Malo, Dinard e noutros locais e visitámos as praias do desembarque em que me senti emocionada, e o imenso relvado com cruzes brancas sobre a praia que é o impressionante cemitério dos americanos, aldeias ainda com marcas do tempo da resistência – é todo um passeio que muito vivamente recomendo, uma das viagens que, até hoje, mais gostei de fazer.
Mas volto ao hotelzinho. A parede exterior está coberta de hera. No rés-do-chão há uma sala acolhedora com estantes cheias de livros, sofás usados, confortáveis, lareira, uma escrivaninha junto à janela que dá para a rua. Custa sair de lá.
Recanto da sala do Les Maisons de Léa |
As escadas interiores do hotel, que é composto por casas, são de madeira e, ao contrário dos hotéis normais, aqui cada quarto tem uma decoração completamente diferente. As camas são confortáveis, antigas, edredons de penas, grandes almofadas, objectos decorativos adequados ao motivo do quarto, espelhos com molduras antigas, mesas largas onde apetece ficar a escrever, um agradável cheirinho a roupa lavada, a alfazema, talvez.
A sala do pequeno almoço é rente à rua, das janelas que têm cortininhas vêem-se as pessoas que passam, e tem jarros de louça com leite, com sumos, tem cestos de pão, bolos caseiros, tacinhas de mel e de compota. Não há ninguém para nos servir, vamos ao louceiro antigo buscar os pratos, as chávenas. Em cima das mesas há (ou, pelo menos, havia) jarras com flores frescas e há jornais, revistas e parece que estamos na casa de província de alguém da família.
Não sei se agora, que mudou de nome, se calhar também de gerência, ainda é assim. Mas pela alta pontuação que vejo nos comentários do site, presumo que se mantenha ainda assim como o descrevo.
Caso queiram ter uma ideia de como é, espreitem aqui.
Em Honfleur há ourivesarias com jóias de prata muito bonitas e muitas lojinhas de artesanato de qualidade. Tenho em casa várias peças que adquiri lá, desde almofadas, peças esculpidas em madeira e um jarro de louça que aqui vos mostro, muito do género da louça de Rafael Bordalo Pinheiro.
Nota pedagógica: De qualquer forma, numa altura em que deveremos ter em atenção a necessidade de poupar e, sobretudo, de não gastarmos dinheiro fora do País, permito-me sugerir que se deixem os passeios ao estrangeiro para melhores tempos... Hélas...
O meu jarro de cerâmica, artesanato de Honfleur |
Nota pedagógica: De qualquer forma, numa altura em que deveremos ter em atenção a necessidade de poupar e, sobretudo, de não gastarmos dinheiro fora do País, permito-me sugerir que se deixem os passeios ao estrangeiro para melhores tempos... Hélas...
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