Falta cumprir-se Portugal.
(Pescador à linha num cais do Ginjal, contra uma Lisboa magnífica, o Padrão das Descobertas a destacar-se e o Tejo de todas as viagens num dia azul e luminoso)
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendendo a espuma,
e a orla branca foi de ilha em continente,
clareou, correndo, até ao fim do mundo,
e viu-se a terra inteira, de repente,
surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
(O Infante in Mensagem de Fernando Pessoa, uma vez mais na excelente edição Centro Atlântico)
Tal como referido nas anotações de Auxília Ramos e Zaida Braga, há neste extraordinário poema 'um tom desencantado mas no qual se pressente a certeza de que é possível recuperar a grandeza perdida e construir um Portugal novo'.
Em época celebratícia (diz-se? pelo menos rima com natalícia...) de Fernando Pessoa, apetece recordar as suas 'profecias', apetece fazer com que se cumpram.
(Recorte do Expresso: Caetano Reis e Sousa, vacina contra o cancro mais próxima)
É que, se houver liderança, ambição, consciência cívica, sentido de estado, e tudo o que é indispensável para que se construa uma sociedade sustentável (ah, isto da sustentabilidade agora dá para tudo e geralmente, vai ver-se o que é e não passa de uma mão cheia de nada), abriremos espaço para que os nossos cientistas, que se destacam pelos quatro cantos do mundo, redesenhem um novo mapa de competências.
Caetano Reis e Sousa, 42 anos, Cancer Research UK London Research Institute, Immunobiology Laboratory Group Leader, recentemente distinguido com um valioso prémio de 2,5 milhões de euros é um dos casos exemplares.
Onde andam os media que não nos mostram à saciedade estas mentes brilhantes?
Não seria altura de afastar as câmaras e os microfones das reportagens idiotas feitas na rua,
- ('então o que é que acha? os preços estão melhores ou piores que o ano passado?' ou então 'então e o que acha deste frio? lembra-se de um frio assim?')
não deveríamos, antes, louvar e agradecer a todos estes portugueses que, espalhados pelo mais prestigiados centros de investigação do mundomundo, com a sua criatividade, esforço, dedicação, vão abrindo novos mundos ao mundo?
Não influenciariam os nossos jovens iletrados e desmotivados?
Não se ajudaria a cumprir Portugal?
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