sexta-feira, dezembro 17, 2010

Focus on winning: João Garcia, António Victorino d'Almeida, Al Gore ... e Irina Shayk

Para quem tem curiosidade em acompanhar assuntos de gestão é divertido ver como indústrias secundárias como a consultoria, a organização de seminários e conferências, a formação académica complementar (Pós-Graduações, por exemplo), a edição de livros e revistas de gestão e respectivas actividades satélites sobrevivem aos tempos.

Tal como em tudo na economia real, é preciso ter-se um produto para vender e, depois, ir à procura de mercado para esse produto.

Falemos então no produto: tal como acontece com qualquer outro, há que garantir o lançamento regular de novos ‘produtos’, tratar da embalagem, tratar do branding, do marketing, etc.

Ora de que produto se trata, quando falamos destas actividades? De muitos.

Governance, Leadership, Innovation, Outsoursing, por exemplo. Passado algum tempo, há um refreshment da gama e aparecem novos nomes (ou novos produtos - mas, muitas vezes, é mais do mesmo) e encontramos Regulation, SOX, Inspiration, Talent Retention, Nearsoursing; depois, o tempo passa e já encontramos Sustentabilidade, Felicidade, Redes Sociais, Redes Neurais, Insourcing, etc.

Cada uma destas designações é um produto. Para cada um há numerosas empresas que o comercializam sob muitas formas: cursos, consultoria, livros, revistas, seminários, etc.


E os ‘agentes’ ou ‘trabalhadores’ deste sector de actividade são muitos, desde os tipógrafos, o pessoal das agências de comunicação, de publicidade, as meninas e meninos das agências de escorting, os consultores, os professores, os oradores (entre os quais encontramos pessoas tão diversas como o alpinista João Garcia, o Maestro António Victorino d' Almeida, o Al Gore, Tony Blair, e por aí fora - pessoas que as agências consideram que são bons opinion makers e que venderão o produto de forma credível).

E, como em qualquer mercado, o que é vendido hoje, amanhã sai de moda e é substituído por outra coisa qualquer. No que acima referi atente-se no produto ‘outsourcing’ (ou seja, ‘o que é bom é o que se compra fora’, o que pode ser dito também como: ‘devemos externalizar competências’, ‘devemos eliminar gorduras internas’, etc) conceito que, para além de outras derivações que, por fastidioso, não refiro aqui, passou, tempos depois para nearsoursing (isto é: ‘comprar fora da empresa ou organização… mas não muito longe; por exemplo, nem sempre é bom adquirir serviços de backoffice em sítios remotos e baratos como a Índia porque há um fosso cultural muito grande e acentuadas diferenças linguísticas’, por exemplo) para chegarmos à moda recente do insourcing (ou seja, demos a volta e, de novo, ‘é bom ter-se competências internas’….).

E, para cada uma destas correntes, isto é, para cada uma das modas, ouviremos sempre reputados oradores e ilustres consultores e professores, a dissertarem com ar convicto, irrefutável, definitivo. E que usarão jargões que são sound bites ditos como doutrina filosófica: "Focus on Winning", "There is too much talking, not enough do", "Go beyond what you think is possible", "Empower yourself!",etc. E haverá sempre quem beba sequioso essas verdades como se, com elas, fosse descobrir a pólvora (claro que isso acontece com pessoas que desconhecem que a pólvora já foi inventada há tanto tempo....)

Ou seja, claro que empresas ou organizações de qualquer tipo em que exista uma cultura sedimentada de sólida gestão, em que se saiba bem o que se quer e como o atingir, se está relativamente imune a isto. Agora quando a gestão está a cargo de equipas newcomers, influenciáveis, fracas, ou quando é uma gestão que está de passagem, ou quando, saloiamente, pretende estar na moda, então, é um maná para esta indústria.

Por exemplo, as grandes empresas públicas ou de capitais públicos, organismos de estado, etc, são mercados apetecíveis para estas empresas de consultoria, de organização de seminários, etc.

É certo que, em termos macro-económicos, é dinheiro que circula, dá-se trabalho a toda essa gente ligada a estas actividades. A questão é que é o tipo de ocupação ‘improdutiva’, digamos assim, pois, de modo geral, não cria valor nem substitui mercadorias importadas. É certo que seria pior se toda essa gente estivesse desempregada mas é também um facto que é gente que não produz nada que substitua a comida que importamos, o vestuário que importamos, as máquinas que importamos nem, e isso seria o suposto, acrescenta conhecimento reprodutível.

Ou seja, de forma geral, é cash out (das organizações que contratam essas serviços) que poderia ser evitado e é uma parte da população a ocupar-se de algo, regra geral, dispensável que em nada contribui para a riqueza do País.

Quando, nas estatísticas internacionais, Portugal aparece como um País altamente improdutivo é devido a coisas como estas. Não é que as pessoas não trabalhem – trabalham é em actividades inúteis.

E, já agora, para fazer a ponte para o post abaixo, refiro que a gestão é assolada por ondas de modas tal como o vestuário (e calçado e joalharia e maquilhagem e por aí fora) mas que a moda associada a estas últimas actividades me parece mais interessante pois ocupa-se de bens transaccionáveis e úteis, apesar de tudo. E em que, por efeito da moda, se gera a procura através da oferta e a procura gera produção (...pena é que tão pouca seja em Portugal...)

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