quinta-feira, setembro 30, 2010

Meu Deus, quando é que eu embarco? Que encanto é o teu?

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.

e a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

(de Fernando Pessoa)



(fotografia que coloquei na minha Galeria do Olhares)


Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
(...)
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da graça.


(de Jorge de Sena)
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