Ter um sonho e ir atrás dele – é isso que move uma pessoa ou um grupo de pessoas. Nas organizações, a isso dá-se o nome de Visão e é o que resume a orientação estratégica.
Geralmente, quando se trata de um grupo, de uma organização, cabe a alguém das ditas elites (dos órgãos directivos), ter essa visão, esse sonho. E então, em torno disso, mobilizam-se os recursos e as acções para lá chegar.
Nada de novo. Os grandes feitos, as grandes inovações, as grandes vitórias ou nascem de um acaso ou de um sonho tornado realidade.
Mas há o reverso. Quantos caíram por um sonho, quantos arrastaram o grupo para o abismo (seja o grupo um clube, uma empresa ou um país). Basta que quem tem esse o sonho ou quem tem o poder de conduzir a organização na direcção desse sonho seja um fanático, um tonto, um oportunista.
Quando acontecem desaires assim, aparecem depois os comentadores, os historiadores, e traçam o perfil do desastre: prognósticos no fim do jogo é coisa fácil mas, de facto, regra geral, todos os sinais estavam lá, ab initio. Então porque é que ninguém os evitou?
Eu, que tenho estado por dentro de situações fadadas ab initio ao desaire, posso adiantar algumas explicações:
1. De início não se leva muito a sério e, por isso, deixa-se andar; de resto, também não nos pediram opinião
2. Depois, a coisa vai ganhando alguma proporção, começa a ser conhecida fora da organização
3. Mais tarde, sentimos que já não temos autoridade moral para denunciar o logro; a coisa cresceu, já teve custos, toda uma estratégia está em marcha, já foi divulgada – a que propósito é que, só agora, iríamos falar...? Ou seja, já nos sentimos comprometidos com o que se está a passar
4. E depois junto de quem iríamos denunciar o bluff, o saco de vento, a mão cheia de nada que é o famigerado sonho? Àquele que foi o seu mentor – indo com isso chamar-lhe burlão ou oportunista? Àquele que foi o seu principal sponsor – indo com isso chamar-lhe naïf ou otário?
E então todos nos calamos, porque é tarde demais, porque não queremos que pensem que somos os velhos do Restelo, os avessos à mudança, os que queremos pôr areia na engrenagem. Por tantas razões nos calamos, geralmente até por cobardia. ‘Por delicadeza dos deixamos matar’, é o que é.
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