quinta-feira, outubro 28, 2021

Marcelo e o chumbo do OE
-- ou
o Presidente no seu labirinto

 

Começo por dizer que, por alguma ordem divina superior -- seja lá o que isso significar --, estou sem internet em casa e sem televisão. Já cá esteve um técnico que não conseguiu resolver o problema. Diz que pensa que é na rua e que, assim sendo, é com outra equipa. Só que, dado o adiantado da hora, hoje já não virá. Quando virá, ele não sabe.

Portanto, aqui, a salvo do regabofe que por aí deve andar pelas concelhias, distritais e sedes nacionais tudo com as televisões atrais (nb: não é gaffe, é mesmo assim, para rimar), resolvi que, por quem sois, falo e comento eu. 

É que, parecendo que não, até sinto uma certa falta de acompanhar o frisson nacional. Sem conseguir testemunhar a azáfama e o entusiasmo que hoje deve grassar nas redacções e sem conseguir assistir aos orgasmos síncronos e assíncronos dos comentadores que, a esta hora, certamente ululam pelos balcões em que se serve comentário a copo, tenho que me contentar com o que euzinha tenha para dizer. 

Mas, claro, não se compara com o porno espectáculo de jornalistas e comentadores, com a pica toda, em sucessivas erupções mediáticas, congeminando sobre o que aí pode estar para vir. 

Crise para eles é melhor que viagra. Upa la-la. Umas atrás de outras. 

Enfim.

Para colmatar a pecha, poderia ver televisão no computador? Poderia. Mas não seria a mesma coisa. Portanto, não quero.

Ou seja, perdoem-me mas o meu conhecimento hoje é francamente limitado, mais limitado ainda que nos outros dias. Vejam se pode. O que sei é apenas o que os onlines disponibilizam. E, como a maior parte dos conteúdos requerem que se seja filiado e subscritor, fico de fora. Ou seja, o que sei é pelas gordas. Imagine-se. Pelas gordas. 

Poderia, claro, tentar os internacionais mas nem vou por aí: as nossas pequenas misérias não são, por enquanto, tema que tenha por onde se lhes pegue. Traições e baixas políticas levadas a cabo pelo pouco que ainda remanesce do PCP e pelas desnorteadas do BE não é coisa que interesse a quem quer que seja, muito mais fora de portas. 

Tivesse havido pancadaria no Parlamento, quiçá entre o Jerónimo e a Mortágua ou entre a Joacine e a Catarina, aí, sim, aí talvez já houvesse alguma breve. Agora assim, tudo no maior pacifismo, querem lá eles saber disto...? E, para mais, a esquerda a auto-devorar-se...? Bahhhh, que seca, ... déjà vu. Filme visto mil vezes, acaba sempre da mesma maneira. Tudo ao tiro e, no fim, morrem todos. Dá é sono.

Quem se importa somos nós, os portugueses, que não perdoaremos por, de novo, os traidores do PCP e do Bloco se terem juntado à direita (Chega incluido!) para, uma vez mais, colocarem areia na engrenagem, provocando uma inútil baderna, gastos desnecessários, prejudicando a estabilidade governativa e a trajectória de crescimento e recuperação que estava em curso. 

Tudo está agora nas mãos de Marcelo. E eu sempre estou para ver o que vai ele fazer. Tenho ideia que gosta de fazer habilidades quando está na confortável situação de espectador e comentador mas que não se sente a jogar em casa quando a bola e a estratégia de jogo está nas suas mãos. 

Mas as coisas são o que são. Penso que, se em vez de ter andado a dar ideias aos fracos de espírito, se tivesse deixado estar caladinho, apenas apelando ao bom senso e ao sentido de responsabilidade de todos os partidos, teria sido preferível. 

Mas não senhor, tem a língua mais rápida do que o pensamento. E pôs-se logo a dizer que, se o Orçamento chumbasse, convocava eleições antecipadas. Fuel para a programação da comunicação social. Crise à vista é o que eles gostam: fazem debates, chamam os comentadores e as putéfias de serviço (pardon my french) e aí estão eles todos a debater cenários, a desculpabilizarem uns, a culpabilizarem outros, um circo infantil e caricato. Este era também o mundo do bom do Marcelo. Bagunçada e baderna à vista e aí estava o Professor, salivando de entusiasmo nos ecrãs domingueiros da TVI. 

E, portanto, desde que o Presidente deu fogo à peça foi um ver se te avias de ultimatos, de bocas, de conversa fiada: a crise estava lançada para a arena. Quem se portasse como adulto, estaria crucificado na comunicação social. Portanto, a partir daí, para os sobreviventes do PCP que esbracejam para ver se conseguem manter a cabeça fora de água e para as desnorteadas do BE que já não sabem a quantas andam, a única preocupação foi não ficarem mal vistos perante os poucos que ainda votam neles. 

Portanto, se Marcelo gosta de andar a semear ventos, mesmo que diga que não, que gosta mesmo é de sol na eira e chuva no nabal, agora está a ver que está uma tempestade a querer entrar-lhe pela porta dentro. Nos idos da TVI ele deitar-se-ia a construir cenários, destilando vantagens e desvantagens e temperando com pontos de vista. Só que agora a pauta é outra. Não é hora para cataventices ou confidências a simularem beijinhos e selfies. É hora, sim, para se pensar com a cabeça no sítio -- e boca calada até se ter a certeza do que se vai fazer.

Chamou o pessoal dos partidos a Belém para conversinhas de pé de orelha que, pelos vistos, entraram por uma e sairam por outra de quem lá foi sentar o rabo. E, não sei a que propósito, chamou também a galinha cacarejante que deve ter saído de lá sem que nem um feijãozinho lhe coubesse no rabiosque (não digo pardon my french porque rabiosque não é nome feio; ora essa!), tanta a alegria pela inesperada distinção. A esta hora a alinha depenada já deve estar até a sentir-se comendadora. Não sei que outras reses tresmalhadas terá também Marcelo chamado mas, na volta, também chamou o eterno Assis, o pintas Melo, ou qualquer outro cão ou gato que por aí ande a ver se é adoptado. 

Li que esta quarta-feira janta com o Costa e com o Ferro. O Costa, para além de chateado, deve andar esfalfado por aturar tanta cretinice e cheio, cheio, cheio de sono. Se fosse comigo sei bem o que diria mal me visse lá chegada: Pardon my french mas bardamerda para esta cagada em três actos; se o PCP e Bloco querem brincar aos politicozinhos da treta que brinquem sozinhos; Senhor Presidente e camarada Ferro não me levem a mal mas vou é para casa dormir que para este peditório já dei foi demais. Ciaozinho e bon apétit.

Mas, felizmente para todos nós, o Costa não é como eu, não se cansa, não se enfurece, mantem a compostura e a boa disposição mesmo quando lhe saltam em cima ou o massacram com conversas da treta. 

Tem ainda outra ande vantagem: é um estadista. Pensa no País antes de pensar em si próprio.

Não sei qual a ementa nem o que vai ser falado durante o jantar mas imagino que agora seja o Marcelo que está no mesmo papel em que a choramingona da Catarina se pôs antes de votar, quando até parecia estar a implorar que a ajudassem a sair desta. Acredito que o Costa e o Ferro o ajudem a pensar e a ver com alguma clareza. Mas, perdido no labirinto dos cenários que constrói, não sei se o Marcelo tem comedimento para pensar sensatamente nem consigo antever o que vai fazer sair daqui sem ficar associado a esta chachada.

O que espero é que, para bem de todos nós, ainda venhamos a dizer que há males que vêm por bem. Por isso, daqui lhe desejo: boa sorte, Sr. Presidente. 

E não é apenas ao Presidente que o desejo, é a todos nós: boa sorte! 

.... e bola para a frente! 

----------------------------------------------------------------------------------

Bem. 

E agora vou mas é ver se pesco por aí algumas notícias ou, talvez melhor, se me atiro à netflix para ver se me divirto

E dá-lhe. 

Música, maestro.


Até já!

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigue disse...

UJM no seu melhor.

Vamos lá ver o que vai dar.

Um belo dia.

aamgvieira disse...

A geringonça desfez-se porque tal "caranguejola" nunca teve programa para o país.

Só existiu porque ali todos se uniam no ódio a Passos Coelho.

A.Vieira