De novo um dia muito preenchido. Entre o programa de festas da manhã e o da tarde, tempo para fazer peixe cozido para o almoço (maruca com batata, feijão verde e ovo, temperado com azeite e sumo de limão). Acabámos de almoçar à três e tal e, como a companhia da tarde não chegaria antes das quatro e meia e eu estava que não podia, deitei-me no sofá e liguei a netflix. Para dizer a verdade nem sei se cheguei a começar a ver alguma coisa. Tenho a vaga ideia que sim mas não faço a mínima sobre o que foi. Acordei estremunhada quando eles chegaram. Devo ter dormido uma hora ou quase. Estava mesmo cansada.
O que me vale é que durmo um niquinho e acordo fresca. Mas estes niquinhos não chegam. Sinto que estou a precisar de descansar e o aborrecido é que não estou a ver maneira de consegui-lo nos próximos tempos. Precisava de poder dormir de manhã até o corpo querer, sem despertadores, sem ter que me preocupar com o que tenho que fazer a seguir. E precisava que isto pudesse acontecer durante vários dias seguidos. Precisava também de dormir a sesta todos os dias durante vários dias. Claro que também era bom que conseguisse passar a deitar-me mais cedo. Só que este bocado, à noite, é o meu tempo, o bocado em que estou sozinha, sem ter mais nada que fazer senão o que me apetece.
Outro que está como eu é o dog. Com este calor só lhe apetece descansar à fresca e ou somos nós que saímos e o levamos ou é a animação que vem até nós. Acresce que o cão da casa ao lado o tira totalmente do sério. Aliás, o cão não faz quase nada. Mas existe e é carismático e isso perturba a existência do nosso cabeludo. Corre, salta e ladra freneticamente durante tempos e tempos. Não consegue descansar de dia e, chega a esta hora, e deixa-se cair, completamente desfeito.
Mas a tarde foi boa, a companhia animada. E deu até à noite. Estivemos na rua até talvez às dez. Depois de um caloraço durante o dia, pôs-se muito bom para a noite, uma temperatura agradável, uma levíssima aragem a refrescar o ambiente. As luzinhas solares são o máximo, criam uma onda acolhedora. Para além disso, são fotogénicas. Hei-de fotografá-las para vos mostrar.
Uma noite de verão assim é uma maravilha. Infelizmente sabemos que se há casos em que as aparências iludem este é um deles.
As temperaturas anormais e persistentemente altas como corolário de um ano demasiado seco mostram o que serão os calores cada vez maiores e mais frequentes, os riscos cada vez mais intensos de incêndios difíceis de controlar e o devastador problema da falta de água. Ou acordamos seriamente para a necessidade de puxar pela cabeça, da ciência dar as mãos à tecnologia e de arregaçar as mangas ou o país tornar-se-á um lugar não apenas perigoso como francamente inóspito para algumas espécies, nomeadamente para a humana.
Mas, enfim, adiante.
Pasmo com a incrível multidão que ali esteve, unida, em comunhão, vibrando com o potente som e a muito boa vibe daqueles matulões da margem sul. E estão melhores, muito melhores. Ganharam uma outra dimensão.
Agora, enquanto escrevo, actuam os Two Door Cinema Club. Nunca tinha ouvido. Estou a gostar. Estou a escrever e a dançarinhar ao mesmo tempo. No recinto mantém-se uma multidão.
Dá ideia que a malta se marimbou de vez para a covid, se marimbou para distanciamentos e para a vida em suspenso. A malta quer é curtir, quer é viver em liberdade. A vida é uma coisa extraordinária.
Há pouco, enquanto a Filomena Cautela enchia chouriços com uns bacanos, dei uma volta pelo youtube. E vi este que aqui partilho e que, lamentavelmente, não tem legendas em português.
Explica o que é a doença de Alzeihmer e, de certa forma, como tentar preveni-la. Nada de novo: fazer exercício, ter uma boa alimentação, em especial na base da dieta mediterrânica, conviver, evitar o stress prolongado, aprender coisas novas e... dormir o suficiente. Pode não trazer novidades espampanantes mas é claro e bem sistematizado. Recomendo-o.
Lembro-me da minha avó paterna. Para o fim, de vez em quando tinha alguma perturbação que a fazia ter comportamentos algo estranhos, deixando-nos desconfortáveis, sem sabermos como deveríamos agir. O meu avô fazia por ignorar. Eu tentava relativizar. O meu pai não. Reagia como se ela estivesse normal, zangava-se. Lembro-me de uma vez estarmos em casa dos meus pais e de ela e o meu avô lá estarem também a almoçar. Ela queria ir, a seguir, a casa do seu outro filho, o meu tio, e estava preocupada que se fizesse tarde. E, então, por mais do que uma vez, levantou-se da mesa com a intenção de se ir embora. O meu pai irritava-se, que estivesse a almoçar sossegada, onde é que ia?, todos à mesa e ela naquele disparate, o irmão sabia que ela lá ia, não ia sair, ela que tivesse calma. Ela não respondia mas estava ansiosa. Sentava-se, comia mais alguma coisa e, de seguida, voltava a levantar-se e a dirigir-se para a porta. Aquilo fez-me muita impressão. Fez-me também muita impressão ver como o meu avô assistia com aparente indiferença mas não era indiferença, era impotência. Em vão, tentava que aquilo nos parecesse normal ou irrelevante. Muito triste.
Outra vez perdeu completamente o conhecimento. Partiu uma perna, foi operada. A seguir apanhou uma pneumonia. Esteve muito mal. O hospital fez-lhe também mal. De alguma confusão inicial passou para a total ausência de tino. Não dizia coisa com coisa nem conhecia ninguém. Os médicos diziam que era normal as pessoas ficarem confundidas em situações assim. Não era aconselhável que tivesse muitas visitas pois ainda mais baralhada ficava mas os meus pais disseram que não sabiam como é que a situação ia evoluir pelo que era melhor eu ir lá. Não conhecia ninguém. Mas mal me viu, reconheceu-me: 'Olha a minha menina, a minha querida', disse o meu nome e abraçou-me e beijou-me muito. Estava quente, febril. Foi uma sensação estranha pois comigo falava normalmente e com as outras pessoas era o vazio. Não sei se teve Alzeihmer ou um outro tipo de demência ou se era fruto de AITs que na altura não sabíamos que tinha, só o soubemos quando teve um AVC que viria a ser fatal.
Com o meu pai foi diferente. Foi o AVC que lhe varreu o cérebro e o deixou com sérias limitações. Estava lúcido e com excelente memória mas foi perdendo a audição, depois a visão. Depois ficou acamado. E muito medicado. De vez em quando passava por períodos muito complicados. Até que se acertasse com a dosagem era, por vezes, um calvário. Chegou a perguntar se já tinha morrido. Nem sabia se estava vivo. Muito complicados esses períodos. Quando ficava lúcido, pedia para o deixarmos morrer. Muito difícil. Por isso, para o fim quase só dormia e a comunicação era quase nula. Também quase não falava, estava com sonda gástrica e com oxigénio em permanência. Se calhar, para ele foi melhor não assistir lúcido ao inevitável desenlace.
Talvez por estes dois casos próximos, a falta de lucidez, a dependência e o declínio que acompanham as limitações mentais assustam-me bastante. E gosto de me informar.
Espero que também achem útil.
5 ways to build an Alzheimer’s-resistant brain | Lisa Genova
Only 2% of Alzheimer’s is 100% genetic. The rest is up to your daily habits.
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