Continuo nas minhas aventuras burocráticas. Uma amiga, quando teve que tratar de assuntos resultantes do falecimento primeiro dos pais e depois da sogra, chegou a um ponto em que, de cada vez que tinha que ir a repartições, conservatórias ou afins, dava-lhe vontade de chorar. Sentia-se impotente, à mercê, derrotada.
Assim estou quase eu.
Pela terceira vez de ir ao mesmo sítio, primeiro porque a pessoa, a única habilitada a tratar daquilo, não estava, segundo porque, tendo eu levado todos os documentos que li nas instruções, segundo a dita pessoa entendida, ainda faltava mais um. Hoje lá me apresentei de novo carregada de todos os documentos possíveis e imaginários. De facto estava tudo mas, azar, a minha situação não estava actualizada no sistema pois estou reformada e ainda não o tinha actualizado lá (pois não fazia a mínima ideia que tinha que fazê-lo). E, para a dita pessoa proceder a essa actualização, tinha que ter um comprovativo. Podia ser a declaração de rendimentos para efeito de IRS. Ora como é que eu ia ali ter isso comigo...? Não tinha, não é?
Comecei por me sentir rasteirada, agredida. Mas não me deu para chorar, deu-me para ficar furiosa.
Depois de grande e assertiva negociação, lá consegui que avançasse com o processo, garantindo-lhe eu que lhe enviaria o documento por mail. Não queria, não podia fazer uma coisa sem ter ali o comprovativo, e isso bloqueava todo o processo.
Horas, horas, horas.
Segundo ela são regras novas para garantir isto e aquilo e aqueloutro e que também há cada vez menos pessoas, anda toda a gente pressionada, com muito trabalho, não conseguem ter cabeça para ajudar as pessoas como deve ser.
Uma desgraça. Para tudo o que não é banal e que não se consegue fazer online (porque há coisas que têm que ser presenciais), estamos no mato.
Por fim, lá acreditou que lhe enviaria o documento mal chegasse a casa e lá avançou com o assunto.
Um desgaste...
Depois, à tarde, em casa, ao querer fazer uma operação bancária banal e que requeria códigos e tretas e que me enviariam mais um código por mensagem no telemóvel, não recebi a mensagem. Depois de várias tentativas (com a sessão a ir abaixo de cada vez que passavam mais uns minutos, por razões de segurança), liguei para o número que lá indicavam. Fui atendida por uma voz que se anunciou pelo nome, uma assistente virtual. Pediu que eu dissesse o que queria. Disse devagar mas a gaja (vou chamá-la assim pois a burra deu-me conta do juízo) percebeu outra coisa. Várias tentativas, em que fui dizendo de maneiras diferentes ('Não recebo mensagem no telemóvel', 'não recebo código por mensagem', etc) e a estúpida a perceber tudo ao lado. Por fim, em novo telefonema, resolvi outra abordagem: 'Quero falar com um funcionário'. E ela 'Não percebi o seu pedido, diga outra vez'. Repeti. Desta vez a gaja teve outra abordagem 'Digite o NIF'. Lá digitei e ela 'agora diga devagar o que pretende'. E eu: 'Falar com pessoa'. E de cada vez que me pedia que repetisse eu dizia: 'Falar com pessoa'. Por fim, lá disse que ia transferir para um assistente. Quando me apareceu um ser humano do outro lado senti uma alegria que não imaginam. O problema é que as mensagens estavam a ir para o spam das mensagens de telemóvel e o rapaz lá me disse como confirmá-lo e como des-spamizar aquele número. Simples... mas o que desesperei para que me aparecesse uma pessoa de verdade para me ajudar...
Eu não sei para onde é que estamos a caminhar mas pode acontecer que um dia tudo ou quase tudo esteja entregue a bots e a tretas que nos façam a vida negra. Queremos que alguém nos ajude a fazer uma coisa simples e não conseguimos chegar a esse alguém porque, pelo meio, temos uma máquina que nos barra o caminho e nos leva ao desespero.
Tirando isso, só posso dizer que, ao pé disto, andar a fazer de ajudante de jardineiro é uma felicidade. O meu marido anda com a máquina corta-relvas e eu vou recolhendo a relva cortada que se junta no depósito e levo-a para a horta. Até lhe disse que poderíamos começar a oferecer os nossos serviços de jardinagem à vizinhança. Ele ocupava-se dos trabalhos mais pesados que requerem maquinaria mais pesada (cortar a relva, serrar ramos de árvores, desbastar sebes) e eu do trabalho menos nobre e mais miúdo, varrer, despejar lixo, amparar as trepadeiras. Não achou graça.
E ainda houve outro aspecto positivo. Pensava que de manhã, levando a papelada todíssima, me despacharia cedo. Como surgiu toda aquela confusão, acabei por me despachar tarde. No caminho para casa pensei que o melhor era irmos comprar qualquer coisa para o almoço. Ele ficou no carro e eu fui numa corrida. Vi umas sardinhas vivinhas da costa e não lhes resisti. Mas depois pensei que ir assá-las talvez não. Então lembrei-me de fazer caldeirada de sardinhas. Bolas... que bem cheirava... Ficou mesmo boa.
Fiz assim:
Comecei por escamar bem as sardinhas. Não pode haver escamas numa caldeirada. Não tirei as tripas pois acho que ajudam a dar um sabor mais encorpado.
Descasquei batatas daquelas de casca roxa. Lavei tomates. Descasquei cebolas e cenouras.
Num tacho largo coloquei no fundo as duas cebolas grandes às rodelas grossas. Por cima, coloquei tomate maduro, talvez uns cinco. Por cima, duas cenouras grandes às ripas (Usei cenouras pois as cenouras cortam a eventual acidez dos tomates). Por cima, as batatas às rodelas grossas. Coloquei um pouco de sal. Por cima as sardinhas. Por cima destas, uns bons bocados de pimentos. Depois, mais dois tomates maduros às rodelas. E, para finalizar, salsa em quantidade generosa. E mais um bocadinho de sal. No fim, tudo bem regadinho por azeite.
Tacho tapado e lume ao máximo. Quando começou a ferver, baixei o lume. Passado um bocado (não sei bem quanto, no mínimo uma meia hora) espetei as batatas. Já estavam macias. Desliguei e deixei o tacho tapado, a apurar.
Pois digo-vos que estava mesmo saborosa. Colocámos umas fatias de pão de Rio Maior no prato e servi a caldeirada por cima, com o caldo. Não pus água nenhuma, o caldo era só os sucos dos próprios ingredientes.
Mas, com tudo isto, não tenho conseguido pegar num livro nem escrever nem sequer tirar um cochilinho. Mas, pronto, todos os males fossem estes. Haja saúde. E boa disposição.
Bola para a frente.
1 comentário:
Deitei fora mais um comentário daqueles que só poderia ter saído de uma mente perturbada.
Há por aí gente que parece que não tem mais nada que fazer na vida do que andar a espalhar veneno por onde passa.
Se quiser continuar a escrever comentários que vão direitinhos par ao lixo, esteja à vontade. Caso contrário, faça um favor a si própri@: desampare a loja.
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