Quando tirei as coisas de casa dos meus pais trouxe vários livros de saúde oferecidos por mim. Como envelhecer melhor, como não morrer, como ter um cérebro jovem, como ter um intestino saudável, qual a dieta para chegar saudável aos 100, a importância do exercício físico para uma vida de qualidade. Não garanto que sejam exactamente estes os títulos mas não devem diferir muito.
Eu queria que eles envelhecessem lentamente e bem. Para além de presentes 'normais', nomeadamente livros de ficção ou de crónicas ou outros que eu pensasse de que eles gostariam, em especial a minha mãe que lia muito mais que o meu pai (o meu pai preferia livros de cariz técnico, mesmo que a nível de saúde), eu oferecia-lhes sempre livros com 'receitas' para que vivessem muitos e longos anos.
Esses livros agora estão na estante da cave e ainda não me apeteceu ir lê-los. Talvez um dia.
Os meus pais eram muito cuidadosos com o que comiam, com o seu estilo de vida. E de facto a minha mãe viveu bem, ágil, até jovial, e aparentemente saudável praticamente até aos 90 anos. E o meu pai também viveu até mais ou menos à mesma idade, embora, no caso dele, tenha tido uns tristes últimos cerca de doze anos.
Só depois de ele ter tido o AVC quase fatal é que eu soube que ele não tomava regularmente os comprimidos que devia. Julgava ele, segundo a minha mãe depois contou, que por ter uma vida saudável estaria imune a danos maiores. Aliás, nem ele nem a minha mãe alguma vez nos transmitiram que o meu pai corria sérios riscos e que era fundamental seguir a medicação à risca. Sendo responsáveis e conscientes da importância de um conjunto de cuidados, não fazia ideia que ignoravam a necessidade de seguirem a medicação que os médicos prescreviam.
Isto porque, como tenho contado, com a minha mãe veio a suceder a mesma coisa. A minha mãe era assinante de uma revista médica, lia inúmeros livros sobre saúde e prevenção, ultimamente pesquisava imenso via google, lia todos os livros que tinha. A sua alimentação era cuidada, fazia ginástica, fazia caminhadas. Mas, também no caso dela, não quis saber de medicamentos que, para ela, eram fundamentais, nomeadamente para controlar a hipertensão. Apesar da vida saudável e de comer comida sem sal, tinha sempre tensão alta, devia ser coisa congénita. Não sei se era, se não. O que vim a saber, tarde demais, é que o facto de ter o coração sempre em esforço, provocou-lhe insuficiência cardíaca que depois também acreditou que não precisava de controlar com medicação rigorosa. Claro que, em paralelo, ter-lhe aparecido um cancro que teve um desfecho fulminante só agravou mais a grave situação dos dois últimos dois meses. Mas, no caso do cancro, provavelmente foi uma degeneração celular resultante da idade avançada.
Contudo, embora ainda não me tenha dado para andar a consultar literatura sobre doenças e como preveni-las, sou sensível à necessidade de não comer fritos ou comida puxada, à de não ingerir pouco açúcar, à de dormir bem (conquista recente pois enquanto trabalhei andei permanentemente em défice de sono), e à não ter uma vida muito sedentária.
Mas por vezes sinto curiosidade em ver vídeos ou ler alguns artigos sobre o que se sabe sobre os hábitos que talvez justifiquem a longevidade de algumas pessoas ou algumas comunidades. De tudo o que tenho lido ou visto penso que há um denominador comum: felizes são as pessoas que se mantêm activas, sentindo-se úteis, autónomas, que têm um propósito (mesmo que o propósito seja cuidar do jardim ou cozinhar), que sentem a vida não como um fardo que carregam mas como uma bênção, que se riem de gosto com elas próprias e com as suas circunstâncias.
O vídeo abaixo é mais um desses vídeos. Não que nos traga grandes novidades mas é interessante. Temos sempre qualquer coisa a aprender com pessoas assim.
Los tsimane, la comunidad de Bolivia donde las personas envejecen más lento | BBC Mundo
BBC Mundo viajó hasta el corazón de la selva amazónica de Bolivia para conocer a los tsimane, uno de los pueblos originarios más remotos del continente que destaca por una particularidad. Las personas acá envejecen más lento que otras poblaciones y sus ancianos gozan de una vitalidad excepcional, según han demostrado varios estudios científicos. ¿Cuál es el secreto de los tsimane?
Sem comentários:
Enviar um comentário