Hoje não há cá notícias sobre televisões, cabos coaxiais ou outras aventuras que tais. A esse nível parece que está tudo estabilizado. Continuo a achar que ficou um pouco mais acima do que devia mas também já percebi que, no curto prazo, não vou ter sorte nenhuma. Mas percebo. Se tivesse que ser eu a desmontar tudo e a ter que repetir todo o processo provavelmente também me recusaria. Portanto, ou me habituo a ter o pescoço levemente inclinado ou dou um tempo para que haja maior receptividade à mudança.
Hoje a novidade é que foi dia de ir dar banho ao cão.
Cães assim que gostam de se rebolar no chão, em que o spot preferido para dormir ao ar livre é um buraco que fez na terra, de preferência na terra húmida, que gosta de se enfiar no meio dos arbustos, que não é muito adepto de ser escovado e lavado por nós, de vez em quando precisa mesmo de um tratamento radical. Mas isto é como aquela coisa que se vai à lã ou lá o que é e se sai tosquiado.
Não está tão rapado como na outra vez mas, coitado, depois de lá ter deixado um brutal volume de lã, até parece que fica outro. Uns olhões todos à vista (atenção que me refiro mesmo aos olhos, não foi nenhuma letra que me ficou esquecida), até parece um infeliz, coitado, um corpinho que afinal, estando à vista, se vê que é alto e esguio. Pobrezito do meu fofo.
Claro está que já lhe fiz mil mimos e já o iludi dizendo-lhe que está muito lindo, muito lindo. Coisa mais fofa da dona.
Enquanto ele estava a ser cuidado, fomos até a um centro comercial para irmos ao supermercado. Por via das dúvidas, antes fui dar uma espreitadela às lojas. Vi uns calções bem giros. E vi umas blusas maneiras. Quando estava a equacionar a situação, inclinada para sucumbir, o meu marido disse: 'Vá, despacha-te, não nos podemos demorar. Se precisas disso, despacha-te.'. Aquelas palavras assassinas calaram-me fundo. 'Se precisas disso'. Caraças. De facto, não preciso. Dei meia volta e fomos para o supermercado. Com a roupa é quase como com os livros: mesmo se não comprar mais nada, tenho até aos últimos dias da minha vida (mesmo que dure até aos 200). E é que nem se põe a questão da moda pois desde que a moda se tornou uma questão em aberto, deixando espaço a que o estilo se sobreponha, visto o que me apetece sem querer saber de tendências. Portanto, não me choca nada pensar que quando tiver 107 anos vou estar a vestir os calções brancos que vesti hoje (se resistirem até lá; mas, se não resistirem, no problem, tenho outros equivalentes) e a blusinha também branca com grandes flores em tons diversos de rosa que há de estar tão na moda como está hoje.
Posso ainda acrescentar que, de caminho, comprámos caracóis e que, mais coisa menos coisa, foi o meu jantar. E a rapariga que me atendeu foi uma querida. Quando ia servir-me, perguntei-lhe se também havia caracoletas. Ela disse que sim, se eu dissesse que queria. Disse logo que sim, que queria. E tanta alegria devo ter mostrado que ela caprichou na dose: caracoletas em grande número. Gosto imenso de caracóis mas ainda gosto mais de caracoletas.
E ao escrever isto ocorre-me que a ver se, daqui por algum tempo, não penso neste petisco com o incómodo com que hoje penso no belo petisco de passarinhos fritos da minha infância. Comia-os com enorme prazer e tenho ideia de que, por vezes, até lhes comia os ossinhos. Hoje, que me deleito a ouvi-los cantar e me maravilho a vê-los a saltitar por aqui, só de pensar na desumanidade de se matar passarinhos para os comer me dá ânsias. Mesmo polvos, agora que os sei super inteligentes e comunicativos, já me faz impressão comer. Por isso, a ver se daqui por algum tempo não me sinto incomodada, quiçá uma bárbara criatura, por estar a devorar caracóis e caracoletas.
Mas, enquanto isso não acontece, desforrei-me. Tão bom...
2 comentários:
O cão é muito dócil,mas está com um olhar desconfiado.
Tão querido! Ninguém merece sentir-se nu em público. Está zangado 😡
Enviar um comentário