Em 2015, o Bloco e o PCP valiam 18,4% do eleitorado. Isso correspondeu a 36 deputados. Apesar de tudo, tinham uma expressão não negligenciável.
Agora valem apenas 7,7%. Menos de metade do que era naquela altura. Dizendo de outra maneira: mais de metade das pessoas que se reviam nas políticas do PCP e do Bloco mudaram de ideias, fartaram-se.
Ou seja, a esquerda que eles representavam é hoje marginal.
Hoje são 9 deputados (num total de 230). Ou seja, na verdade são apenas 4% dos deputados da Assembleia. Sejamos objectivos: quase nada.
Isto significa que a sociedade tem vindo a cansar-se e a desiludir-se do que o PCP e o Bloco têm para oferecer.
O eleitorado privilegia agora outras coisas.
O eleitorado deslocou-se para o centro.
O PS perdeu também eleitorado para a direita.
Por isso, o PS deverá perceber que o eleitorado tem hoje outras aspirações, diferentes das de há uns anos. Hoje o eleitorado já não quer ver-se livre da austeridade, do láparo, dos vestígios do cavaco, naquela gente que vendia o país ao desbarato.
A página foi virada e os problemas, reais ou percepcionados são outros. Hoje as pessoas querem estabilidade, qualidade nos serviços (educação, saúde, segurança), quer retorno do resultado do seu trabalho (melhores rendimentos e uma carga fiscal menos pesada), quer qualidade de vida.
Por isso, sempre que a conversa for dirigida para o que era o eleitorado de esquerda em 2015 falhará o objectivo de cativar mais eleitorado.
Quanto ao Livre, penso que é diferente. Rui Tavares mostra-se europeísta, civilizado, uma esquerda 'moderna', não caciquista, não anquilosada, não justicialista. A população urbana, que dá valor á democracia, à liberdade, a causas humanitárias e ambientalistas, tende a rever-se no programa do Livre. Os eleitores do Livre, em meu entender, não vêm do Bloco ou do PCP mas sim do PS.
Por isso, aqui referi que teria sido inteligente se o PS e o Livre tivessem feito uma aliança pré eleitoral. Haveria menos votos perdidos por via do método Hondt.
Não o fizeram antes das eleições mas estão ainda a tempo de se aproximar e pensarem em conjunto o futuro.
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No rescaldo destas eleições antecipadas, o PSD/AD está a herdar uma situação fértil. O PS fez um trabalho fantástico (que o PS e Pedro Nuno Santos não souberam louvar e divulgar de forma eficiente). Hoje há dinheiro em caixa (o défice é mínimo ou inexistente), há dinheiro nos cofres (há uma almofada, ie, reservas), há dinheiro a cair (do PRR). Portanto, a AD tem margem para fazer as flores que quiser. Tem margem para pôr em prática medidas que vão impressionar muito favoravelmente parte do eleitorado tradicional do PS bem como muito do eleitorado do Chega.
E pode, se assim o entender, pôr em prática as suas medidas eleitorais sem ter que submeter um Rectificativo a votos.
E, portanto, pode seguir até ao OE 25 sem grandes sobressaltos.
Mas, se a AD for antes a votos, à luz da leitura que hoje faço dos factos, eu, se fosse ao PS, apostaria na abstenção, deixando o Rectificativo passar. E isto porque se um Rectificativo chumbasse e se se entrasse numa crise com novas eleições ainda este ano, não vejo como é que o PS poderia melhorar os seus resultados pois parte do eleitorado, que sentia que iria ser beneficiado com as medidas da AD, penalizaria quem chumbasse esse Orçamento.
O que o PS deve fazer agora é perceber como deve reorientar a sua estratégia. Para começar, deve ver-se livre do que ainda subsiste de aparelhismo, de assessores e da lógica ainda instalada dos jobs for the boys. E depois deve orientar-se para o que os eleitores realmente querem: estabilidade, qualidade de vida. Os mais jovens querem condições para ter filhos e para poder proporcionar-lhes uma boa vida. A população em geral quer segurança nas ruas e isso significa integração das populações mais marginais (imigrantes, nomeadamente), quer segurança a nível de saúde com Centros de Saúde e Hospitais funcionais, quer boas escolas e professores a cumprirem os horários, quer paz social. Claro que os ordenados devem subir mas, para isso, o mundo laboral tem que deslocar-se para profissões mais especializadas, em que a produtividade seja significativa. E todos querem receber uma parte maior do que ganham já que hoje, em especial os que passam a ser um pouco mais que remediados, a carga fiscal é um peso que custa a aceitar. Se queremos que os que emigraram regressem e que os que estão a pensar sair não vão, temos que assegurar-lhes maior liquidez, seja por via de salários mais altos seja por um expressivo alívio na carga fiscal.
Depois há os pensionistas, uma fatia enorme de qualquer eleitorado. Aqui o que há a assegurar é que as pensões acompanham o crescimento da economia e que haverá igualmente um alívio fiscal. E, também aqui, que o SNS seja uma resposta efectiva às necessidades. Hoje é muito difícil. Em especial nos grandes meios urbanos, que são os que melhor conheço, é muito complicado. Dou o meu exemplo. Mudei de casa vai para quatro anos e não consegui mudar de médico de família pois, onde agora vivo, não há médicos de família disponíveis. Mas com o meu também não é fácil pois, se marcar hoje uma consulta, só tenho vaga para Junho. E não é um exemplo inventado, é a realidade. E um dia destes vou fazer exames. Se alguma coisa não estiver bem, tenho que esperar por Junho ou, em alternativa, ir às oito da manhã, ou antes, para arranjar vaga para o dia, podendo ser atendida por um qualquer médico. Se estiver com alguma coisa que requeira análises ou RX tenho que ir para as Urgências do Hospital sujeitar-me a longas horas. Sei pelo que passei diversas vezes com os meus pais. Como tinham seguro, por vezes fomos para o Privado e aí, claro, as condições são outras. Ora é indispensável reorganizar todo o SNS por forma a que a resposta do SNS seja equivalente à dos Privados. Se enfrentar horas de espera, estar estendido horas a fio em macas em corredores pejados de gente, em que a privacidade e a dignidade das pessoas é posta em causa, é muito mau para toda a gente, ainda é mais ingrato para pessoas frágeis, de idade.
E é também indispensável que se perceba que essa larga faixa eleitoral é composta por uma população felizmente a viver até cada vez mais tarde em que o pão nosso de cada dia são os problemas complicados. E, por isso, deve haver mais Unidades de Cuidados Continuados ou Paliativos e deve haver muito mais Residências assistidas, dignas, com qualidade, e a preço acessíveis. Hoje a oferta com alguma qualidade é caríssima (acima de 3.000€/mês, o que não está ao alcance da maioria da população).
Para além disso, há as grandes questões de fundo: a demografia e as alterações climáticas.
Por isso, o PS tem muito em que pensar. Tem que se reorientar e tem que ter tempo para isso.
Não sou de clubites nem tenho testosterona a correr-me nas veias em vez de sangue. Penso com a cabeça e não com as hormonas. Quero paz e desenvolvimento e não guerra e ajustes de contas.
Assim, acho que é de deixar a AD fazer o que se propôs e para o qual recebeu os votos dos eleitores (e que se entendam ou deixem de se entender com o Chega). Ou seja, que não possam alegar que não podem satisfazer as aspirações dos eleitores por culpa do PS.
A política, em meu entender, requer políticos que, no dia a dia, pensem no melhor para os cidadãos, e no médio e longo prazo, no melhor para o País. Requer políticos que pensem sob diferentes perspectivas, que estudem as matérias, que planeiem as suas medidas e avaliem os seus impactos.
Com uma abertura ao futuro, com generosidade, com abnegação pessoal, com os pés na terra e com uma proximidade atenta aos cidadãos, será possível ao PS preparar-se para as próximas eleições.
Se souberem ser uma oposição ponderada, bem informada, bem intencionada, próxima das pessoas, serão reconhecidos.
É o que eu penso.
6 comentários:
Partilho em absoluto com a sua análise / reflexão, de facto os políticos deviam estar mais abertos á sociedade civil e ouvir as suas dificuldades do concreto quotidiano. Quem me dera que o Pedro Nunes dos Santos leia este blog. Muito obrigado pela partilha. Desejo um Bom dia.
Completamente de acordo!
Então o eleitorado do Be e do Pcp desloca-se para o PS e a UJM acha que a estratégia é o PS apoiar a AD e a IL. Hahaha. Esse antigo eleitorado do be e pcp vai adorar!
PNS é dos maiores grunhos que já vi passar pelo PS, um falso esquerdista, com voz de ladainha e sermão. É claro que não se revê em nada disto. Ele queria era ligar-se à Mortágua, apesar de isso ser tudo aquilo de que o país não precisa.
Essa sua análise, se fosse levada à prática (o que não creio que alguma vez venha a suceder), constituiria o princípio do fim do regresso do PS a voltar a governar. No fundo, é a ladainha dos apoiantes do “Carneirismo” (José Luís Carneiro, uma remake fraquinho de António José Seguro) no PS. Ora, os militantes do PS que elegeram PNS foram claros, deram-lhe uma indiscutível maioria para levar avante o combate político pós-Costa. Nesse sentido, em circunstância alguma o PS deve viabilizar um governo da AD. Convém, para quem é distraído, sublinhar que Montenegro foi líder parlamentar de uma PaF que quase destruiu o país e como se não bastasse teve o apoio nesta campanha eleitoral do pior do PSD, figuras sinistras como Cavaco Silva, Durão Barroso, Passos Coelho e do irrevogável Paulo Portas. E ainda, como se não bastasse, foi buscar o actual líder desse, hoje, Partido museu, o PPM (que nada tem a ver com o seu fundador, um tipo decente, Ribeiro Teles) para ornamentar e justificar a designação de “novel” AD. Ou seja, à dupla, do piorio, AD+IL, em sua opinião, deveria ser dada a oportunidade de governar, são rapaziada cheia de boas intenções (como aqueles trastes que serviram de apoio e que relevo atrás). Pois, felizmente que PNS não estará para aí virado. PNS tem uma vantagem, que não é despiciente, sobre LM, é que não tem ninguém à sua esquerda que lhe faça frente e lhe roube votos, muito pelo contrário, o que não sucede com Montenegro, que tem Ventura a cavalgar-lhe nos seus eleitores. E se olharmos para as declarações de aqui há uns 4 anos atrás de Miranda Sarmento, o líder parlamentar do PSD, um fundamentalista Neoliberal, e o muito provável futuro Ministro das Finanças do “governo mini” da AD, sobretudo no que respeita aos pensionistas, saúde, educação pública e apoios sociais, percebe-se bem de que matéria é feita esta AD de pacotilha. E quer você que o PS e PNS ajudem essa malandragem a aguentar-se no poder! Era mesmo o que faltava, para quem votou contra a AD. O Câmara Pereira dizia que não via problema nenhum em que a AD se coligasse com o Chega. Ora aí está. Montenegro que esclareça as palavras do “vaqueiro” fadista.
Por conseguinte, aguardemos pelo OE para 25 e depois, o mais provável e mais saudável, é baralhar e dar de novo.
a) P.Rufino
Cara UJM
Vou ouvindo muitas teses de diferentes sectores do PS e fora dele, e, nenhuma, absolutamente nenhuma, começa no ponto de partida que é exatamente, a chegada á situação em que nos encontramos. E a situação em que estamos pendurados, todos, repito todos, devesse em primeiro lugar, ao descarado comportamento politico do Presidente da Republica que usou a esquerda para melhor a decepar e levar a direita revanchista deste país ao poder.
Ainda não vi ninguém que votou Marcelo, fazer uma autocritica desse monumental erro histórico!, nesta democracia, que foi eleger um dos políticos mais perigosos para a esquerda deste país. E foram muitos votos de pessoas do PS, que alinharam acriticamente nessa eleição. Hoje têm uma posição de rejeição, mas antes, votaram nele, sabendo perfeitamente o politico que era e foi ao longo dos cinquenta anos pós Abril sempre posicionado contra a esquerda.
Se o PS não fizer oposição serrada sobre a AD, o PS é engolido. PNS que não caia no cante de sereia a pretexto de ajudar o país. Mas ajudar a fazer o quê, e para quem?
a) a dar cheque ensino?
b) a empurrar para o privado, desnatando o SNS?
c) a criar seguros de vida que depois vão á falência e as pessoas ficam sem reformas, descapitalizando a segurança social?
d)voltar a proibir o aborto?
e) permitir mais alojamento local em desfavor dos casais jovens?
f)pedir aos privados para fazer construção para as classes baixas que ganham 1000.00€?
Então, estamos a falar de quê, quando se apela ao opositor bem comportado!, para o talhante cortar o Filé mignon, para direita concretizar a festança da sua clientela?
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