quarta-feira, agosto 02, 2023

Entrar numa igreja para que o casamento se dê... mas com os pés dentro de água

 

No outro dia, pouco depois de me deitar, por volta das duas e meia da manhã, ouvi movimentos que me pareciam perto da janela do quarto, nomeadamente no corredor que vai do portão até ao telheiro sob o qual costumamos deixar o carro. Passado um bocado, ouvi abrir as portas de um carro e, depois, um carro a avançar devagar, a curvar e a arrancar. Parecia mesmo que, sendo tão perto, só poderia ser o nosso. Mas parecia-me improvável.

O meu marido dormia a sono solto e não quis acordá-lo pois sabia que iria achar que era um receio infundado. Então, devagarinho, levantei a persiana para espreitar o portão. Foi então que constatei que a cameleira -- que está tão grande e tão linda --, tapava totalmente o portão. Não consegui ver aquilo que poderia aliviar a minha inquietação.

Passado um bocado, ouvi vozes de homem na rua. Pelo que ouvia, estavam encostados à vedação. Falavam, falavam. Já eram três e tal da manhã e era uma conversa que não acabava. Nestas ruas as únicas pessoas que passam a pé fazem-no de dia. Muito menos se põem paradas, encostadas à vedação da casa de outras pessoas. Esperei, esperei que se calassem. Eu com uma espertina dos diabos... 

Então lembrei-me de ir à vidraça do primeiro andar para espreitar e tentar perceber o que se passava. 

O urso felpudo, que dorme entre a vidraça e os cortinados, levantou-se, estremunhado, e, de pé, olhava-me intrigado. Não consegui ver nada. A árvore de que tanto gosto, que fica toda florida e que cresceu tanto, não deixava ver o portão.

Claro que a decisão está tomada: vamos mesmo desbastar as duas, deixar que a copa se forme só lá mais acima.

Há não sei quanto tempo que o meu marido anda a protestar com o tamanho das árvores e eu, nature lover, sou muito adepta de as deixar seguir o seu rumo. Além disso, passa-se o seguinte: quando chegamos da rua, por muito calor que esteja, mal se transpõe a entrada do jardim, sente-se um ar deliciosamente fresco. Há, de certeza, uma diferença de uns graus de temperatura. E deve-se, não tenho dúvida, à sombra das árvores.

A salvação do mundo não passa exclusivamente pela sua florestação. Os problemas são tão complexos, tão múltiplos e díspares que, mesmo que nos puséssemos todos a plantar árvores, não iria ser suficiente. 

Mas ajuda. 

Por muito que algumas pessoas queiram subvalorizar as alterações climáticas, a verdade é que elas estão aí para nos alertar para a imperiosa necessidade de fazermos qualquer coisa para retardar o desastre global que se avizinha.

É certo que grandes chuvadas, fortes ventanias e intensos calores sempre os houve. A questão é que não tão grandes, não tão fortes, não tão intensos -- e não tão frequentes.

Até que o mundo fique um lugar inabitável, certamente os humanos irão adaptar-se. Habituamo-nos a tudo. Até que um dia, se nada fizermos, tão não será mais possível.

Veja-se o casamento abaixo. Caminham, literalmente, sobre as águas. E, no entanto, o nó foi dado. Mas veja-se e ouça-se o que aqui se diz.

Bride wades through floodwaters after Philippines hit by typhoons

he Philippines was hit with torrential rain over seven days, brought by Typhoon Doksuri and intensified by Typhoon Khanun. 

Low-lying villages to the north of the country were the worst affected, houses were left submerged in water and residents were forced to travel by small wooden boats and roads were inundated. The Philippines are an archipelago of more than 7,600 islands, vulnerable to high winds and torrential downpours.


Uma boa quarta-feira
Saúde. Alegria. Paz.

4 comentários:

Pôr do Sol disse...

Bom dia Um Jeito Manso,

Talvez por defeito, continuo com esperança e fé na Grande Natureza. É convicção de que só Ela é perfeita.

Reforço esta ideia ao assistir aos documentários que a RTP vem transmitindo, ontem foi o segundo, com o titulo Terra Verde. Recomendo, pela beleza das imagens e pelas lições que reforçam. A luta das plantas e arvores pelo espaço leva à sua constante renovação.

Tudo isto no mundo dito selvagem.

É lamentavel que onde o bicho homem impera, destrua tudo à sua volta, pior que a selva.

Um beijinho e boa continuação, com saude e paz, junto da sua natureza.

Anónimo disse...

Não me parece que o corte de parte das árvores seja a solução, na medida em que pode tornar-se o problema.
A falta de visibilidade tanto afecta um eventual ladrão como quem está dentro de casa. Há um claro empate, empate esse que pode frustrar o roubo.
Visibilidade suficiente beneficia claramente quem prepara com antecedência um roubo, um assalto. Tem todo o tempo para o fazer, para recolher indícios de luzes, de persianas, de movimentações. Do outro lado, na casa, a observação acontecerá apenas quando alguém se lembrar. À partida, demasiado tarde ..

Um Jeito Manso disse...

Olá querida Pôr do Sol,

Tenho andado com afazeres múltiplos (por exemplo, entre Julho e Agosto somos 6 a fazer anos) e chego à noite sem vontade de ver televisão. Mas, graças à sua dica, é o que estou a ver neste momento.

Eu também venero a natureza, a sua beleza, a sua harmonia. E também me custa que haja quem não compreenda o tesouro infinito que é a nossa Mãe-Natureza e, sem pensar, a destrua.

As imagens que agora estou a ver, neste momento a formação de cristais de gelo em câmara lenta, são incrivelmente belas.

Muito obrigada pela referência.

Um abraço e votos de dias felizes para si e para os seus, Sol Nascente.

Um Jeito Manso disse...

Olá Leitor/Leitora da Segurança

Tem razão. Nem pensei nisso... E o meu marido, que anda sempre a querer desbastar árvores e arbustos, contente que ficou por eu querer podá-las, também não. Tem razão. Espero que, a haver ladrões por aqui, sejam menos inteligentes e menos planeadores...

Nós, por acaso, até temos estores e, geralmente, de noite, temo-los corridos. Mas por aqui é muito habitual as pessoas estarem em casa, de luz acesa e estores abertos, vendo-se tudo lá dentro. A isso ainda não me habituei e acho que nunca me habituarei. Nessas casas, quem queira consegue ver a disposição dos móveis e os hábitos dos seus moradores.

Mas eu, agora, das janelas consigo ver bem os portões e isso, apesar do que diz, parece que me sinto mais confiante. Fez-me impressão, na outra noite, ter a visibilidade tapada pelas ramagens...

Mas obrigada. Doravante, vou ter em consideração.

Dias felizes.