quinta-feira, agosto 10, 2023

Alice Neel por ela mesma e Fran Lebowitz, a propósito de Alice Neel (e não só)

 

De vez em quando, ao ver algumas das telas que pintei, fico admirada. Não estou a dizer que as acho excepcionais, note-se. Estou a dizer que me espanto por aquilo ter saído de mim. É como quando, às vezes, leio coisas que escrevi há muito tempo e fico admirada por aquilo me ter ocorrido.

Nunca tive vontade de aprender a pintar tal como não me ocorre frequentar um curso de escrita criativa. Tenho a ideia, porventura errada, de que estas coisas ou saem genuinamente do nosso íntimo ou não vale a pena. Tenho também a ideia de que a aprendizagem tem que ser às nossas custas: experimentar, falhar, tentar de novo.

Na pintura, sempre me senti tentada pela abtracção ou, quando é figurativo, que o objecto da pintura seja inexistente. Pessoas inventadas, flores irreais, casas imaginárias, caminhos impossíveis. Talvez me aproxime do surrealismo. 

Poderia pensar que é uma defesa contra a falta de perícia. Sei que se quisesse retratar fielmente uma pessoa iria falhar. Por isso, pintando coisas inexistentes, não há o risco de virem dizer-me que a boca na pintura é mais carnuda do que a real ou que o joelho saiu bicudo demais. Mas não é (só) isso pois, ao apreciar arte alheia (em galerias ou museus) nunca é a pintura figurativa, realista, naturalista, etc, que me seduz. Prefiro aquilo que apenas existe porque o pintor o criou a partir da sua imaginação ou capacidade de abstração.

E uma coisa de que gosto é de ver/ouvir pintores, não os conceptualizam muito mas os mais prosaicos, menos dados à auto-promoção ou a armarem-se em intelectuais da coisa.

Confesso que não conhecia Alice Neel.

Mas esta porta aberta para o mundo, presente, passado e futuro, que é a internet leva-me a descobrir o que de outra maneira talvez nunca descobrisse.

Cativante esta Alice Neel na forma simples e directa como fala que parece ser o espelho da forma como pintou. O auto-retrato (acima) ou o retrato de Andy Warhol (abaixo) são disso exemplo.

Os vídeos estão traduzidos mas, aviso já, a tradução não é das melhores, deve ser tradução automática. Em tudo em que, em inglês, o género é neutro a tradução sai no masculino mesmo que se esteja a falar de mulheres. Mas, enfim, para quem não domina bem a língua inglesa, sempre será melhor que nada.

Alice Neel, 1978

Alice Neel entrevistada por Barbaralee Diamonstein-Spielvogel, para o programa de televisão Inside New York's Art World, 1978.


Engraçada também a entrevista com Fran Lebowitz sobre, justamente, Alice Neels (e não só). Fran Lebowitz é uma daquelas carismáticas figuras nova-iorquinas, diz o que lhe apetece, conhece meio mundo dos meios artísticos e boémios, tem sentido de humor e é inteligente.

Fran Lebowitz on Alice Neel | PROGRAM

Fran Lebowitz discute a vida e a obra da pintora Alice Neel, vivendo em Nova Iorque nos anos  70 e o que significa ser artista -- entrevista com Helen Molesworth. 


Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boas vibes. Paz.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cumprimentos A_GOSTO.

https://www.metmuseum.org/exhibitions/listings/2021/alice-neel

Um Jeito Manso disse...

Muito obrigada, A_ Gosto

Estivesse eu de passagem por lá e não perderia. Gostei de ver.

Um bom sábado!