sexta-feira, maio 05, 2023

Marcelo descurtiu o Costa e ficou com um grande pó ao Galamba mas, resumindo e concluindo, a montanha pariu um very little ratinho.
E ainda bem.

 



Tenho uma dúvida prévia: já não há jornalistas em Portugal? 

Sempre tive para mim que um jornalista é alguém que informa e noticia com isenção. O jornalista deve retratar o que observa sem tomar partido. Um jornalista deve merecer a confiança daqueles a quem se dirige por nunca se desviar da sua rota de isenção e objectividade.

Ora aqui, no nosso rectângulo, quase todos jornalistas caguaram (com u para não me acusarem de falta de educação) para a isenção e saltaram todos para o palco a opinar, a sentenciar, a julgar. Tomam partido, ajustam contas, pedem cabeças, juram vingança. De jornalistas já não têm nada.

Em quem é que podemos confiar para recebermos notícias credíveis, que não venham deturpadas ou conspurcadas pelas suas opiniões? 

Depois de ver as televisões pejadas de jornalistas travestidos de comentadores, fico cansada. Quem é esta gente para sentenciar sobre assuntos complexos? Em vez de noticiarem, é vê-los a rasgar as vestes, a opinarem sobre temas que requerem experiência profissional e conhecimentos na matéria e sobre os quais revelam uma total ignorância -- mas com aquela ignorância dos ignorantes que ignoram a sua própria ignorância -- e se um diz mata o outro diz esfola. E, com receio de perderem a avença, vá de elevar o nível da maledicência. E com receio de ficarem atrás dos outros é vê-los a papaguearem e a macaquearem o que os outros dizem. Uma praga.

O que os jornalistas em Portugal andam a fazer ao jornalismo é contribuir, e de que maneira, não apenas para o fim do Jornalismo como, também, para o clima de pântano que tende a instalar-se. 

À noite (que é quando se liga a televisão cá em casa), de canal em canal, o que se vê é a tropa fandanga dos jornalistas-comentadores e de comentadores-avençados a lançar lama sobre tudo o que mexe.

Sobre a comunicação ao país de Marcelo

Já no outro dia achei desagradável aquela Nota da Presidência, saída durante a intervenção de António Costa. Achei deselegante, uma coisa quase, até, mal educada. Mas a gente depois tenta perceber, em concreto, o que é aquilo e, bem vistas as coisas, não é nada. Ou melhor, tal como referi, pareceu-me uma reacção idêntica à do outro que, furibundo, alegadamente terá atirado a bicicleta contra os vidros

Hoje voltei a achar que a intervenção de Marcelo foi no mesmo sentido. Pôs-se a dizer mal do Galamba e de António Costa de uma forma pouco institucional, pouco elegante, fez insólitos e escusados ataques ad hominem, fez a sua leitura das coisas, uma leitura extremada,  direi mesmo enviesada, pintou a manta... e, depois, nada.

E acho bem que não tenha feito nada. Tudo o que fizesse seria mau para o País (e mau para ele).

E também acho bem porque o País não é o bairro da Mariquinhas habitado por youtubers ordinários, políticos de meia tigela, gente de partidos especializados em banha da cobra e foguetório, pseudo-jornalistas, comentadeiros a metro, avençados a copo e bugalhos à discrição. O País é um país real que tem que ser governado com cabeça, com os pés na terra e com pulso e que se está a caguar para estas tricas laricas ou, para ser mais exacta, para estas merdas paridas pelos media e por alguma gentinha que por aí anda à babugem

Sobre o País real

Por muito que a comunicação social faça e diga, a verdade é que há um país real em que as pessoas trabalham, em que os jovens estudem (quando os profs resolvem dar aulas), em que há segurança nas ruas, em que os restaurantes e as esplanadas estão à pinha, em que todos os concertos, por mais caros que sejam, esgotam, um país em que as praias estão cheias e as pessoas descontraídas, em que as pessoas gostam de viver. 

E o que se vê é que Portugal foi o país da UE com maior crescimento económico, um dos países em que  a dívida pública mais decresceu, um dos países em que a qualidade da democracia é das melhores, um país em que os pensionistas são respeitados, em que tem havido apoios aos mais desfavorecidos, em que o desemprego não tem significado (pelo contrário, há escassez de recursos em muitas profissões), em que, em suma, quase tudo funciona razoavelmente.

Portanto, quem é que, em seu são juízo, iria ferir de morte a estabilidade actual e os bons resultados da governação?

Alguém acredita que o Montenegro, com o artista da Iniciativa Liberal que não dá uma para a caixa (e que levaram aquele youtuber ordinário para dentro do Parlamento) e, quiçá, com o Ventura a tiracolo, governaria melhor o País?

Mais. Tenho para mim que a maioria das pessoas está cansada dos filmes negros inventados por uma comunicação social alimentada por jornalistas travestidos de justiceiros que fazem de tudo para pintar o país de cores tenebrosas ou por uns deputados com alma de pides e outros que devem padecer do défice de concentração, indo atrás de qualquer mosca que atravesse as salas, que fazem de tudo para atormentar a vida a quem lhes caia no goto e para poluir a democracia.

Não quero com isto dizer que toda a gente no país viva à larga. Não. Nem aqui nem em lado nenhum, o mundo é um mar de rosas para todos. Há um caminho a percorrer para esbater desigualdades, para fazer crescer a riqueza geral. Claro que com a inflação (internacional) e com a subida das taxas de juro (idem) há muita gente a suar as estopinhas e o período não é o melhor para quem vive com menores rendimentos. Mas mesmo nisso o Governo tem posto no terreno programas de apoio.

O Governo tem muito trabalho ainda pela frente? Claro que tem. Por exemplo, na Justiça, há muuuiiito a fazer. Não é possível os processos arrastarem-se durante anos.

E têm que fazer um esforço para se articularem melhor entre si. E o Costa tem que dar ordem aos Ministros para se livrarem de todos os assessores, adjuntos e demais canalhada miúda que por lá ande a receber pipas de massa sem que tenham um mínimo de estofo para aquelas funções. 


Voltando ao Marcelo 

Para não sair deste episódio com o rabo ainda mais entre as pernas, Marcelo ameaçou que agora vai fazer a vida negra ao governo. Faz mal. Até porque isso é o que tem andado a fazer nos últimos tempos. Já ninguém tem paciência para isso. Ninguém... excepto a tropa fandanga dos media. 

Os jornalistas, as vizinhas intriguistas e comentadeiras podem gostar muito disso pois é o pasto de que precisam de se alimentar. Mas o País gosta de estabilidade, gosta de pessoas que saibam honrar aquilo para que foram eleitas, que olhem para os objectivos a atingir e não para o seu próprio ego.

Em vez de andar com as televisões atrás, numa de dar permanentes ferroadas ao Governo, a mostrar o preço das batatas, a entrar em bairros de lata a mostrar que ainda há quem viva assim ou a visitar centros de saúde para ouvir as queixas de quem para lá vai às oito da manhã, melhor seria se andasse pelas universidades (por exemplo pelas engenharias, pelas biomédicas, pelas farmacêuticas, pelos politécnicos, etc, a ver em que projectos inovadores estão envolvidos), andasse pelas empresas, nomeadamente, pelas áreas de desenvolvimento e de transformação digital, pelos hospitais a ver as unidades integradas e polivalentes (da dor, da insuficiência cardíaca, do avc, de oncologia, etc) ou a evolução para os domínios dos internamentos domiciliários e do acompanhamento remoto a doentes, ou que andasse pelos municípios a ver a oferta a nível de equipamentos desportivos que cobrem todos os níveis etários, os jardins e parques municipais, que andasse a ver o que há de ofertas dignas e em condições acessíveis a nível de creches e ATL, residências assistidas para idosos, que fosse visitar o que se está a fazer a nível de energias alternativas e de prevenção ou mitigação das alterações climáticas. Etc.

O País tem que ser puxado para cima, tem que se dar a conhecer os bons casos, têm que ser emulados os bons exemplos, temos que saber enaltecer os nossos pontos fortes (que são muitos) em vez de andarmos a dizer mal de tudo, os pés atolados na lama que uns quantos teimam em atirar para o espaço público.

Se Marcelo conseguir a proeza de se reinventar e passar a ser realmente útil ao País, agradecer-lhe-emos.

Se se limitar a andar com as televisões atrás, a lançar atoardas e ameaças veladas, ou a fazer o papel do Chega que faz da maledicência e da acusação o seu móbil de vida, então, dispensamos.


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Pinturas de Joan Miró a ver se dão alguma cor e leveza ao cinzentismo do tema

A música, lá em cima, vem no mesmo comprimento de onda:  El cant dels ocells de Pablo Casals num arranjo para guitarra de LV Johnson
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Um dia bom
Saúde. Serenidade. Objectividade. Paz.

6 comentários:

ccastanho disse...

Caríssima UJM.

Há muito tempo que não lia um artigo tão sagaz.

A um artigo destes, tudo o que se acrescente, é estragar uma pérola que sagazmente denuncia a manhosice da imprensa portuguesa e uma direita revanchista, reaccionária e ressabiada, com o seu maioral na linha da frente.

Parabéns UJM.

Anónimo disse...

Ufa, não sou sou eu a pensar o mesmo.
Grande análise, UJM, grande post. Um abraço,
Lurdes

António Ferreira disse...

NÃO POSSO ESTAR MAIS DE ACORDO COM O QUE ESCREVEU. PARABÉNS!

Anónimo disse...

Não posso estar mais de acordo com o que escreveu. Parabéns!

DD disse...

UMJ,

Parabéns pelo que escreveu, não posso acrescentar mais ao que expressa pois esta é a verdadeira realidade que eu também entendo.
" Rememos sempre, nem que por vezes tenha de ser contra a maré".
maio 05,2023

aamgvieira disse...


Um homem que é obrigado a assinar uma carta de demissão pelo seu patrão, o qual depois recusa a demissão enquanto guarda a carta numa gaveta é o quê, uma força ou um pau-mandado, um ministro ou um instrumento, ninguém ou outra coisa pior ???....

A.Vieira