Quando o meu filho começou a trabalhar (a minha filha já trabalhava há mais tempo pois é mais velha), deixando de poder levá-la à rua a meio do dia (morávamos num apartamento), passei a ir levá-la a casa dos meus pais à segunda de manhã, indo buscá-la à sexta à tarde. Custou-nos. Mas era melhor para ela.
Nessa altura foram os meus pais que se afeiçoaram fortemente a ela. O meu pai levava-a a passear à praia ou ao campo e a minha mãe dançava sob o seu olhar atento. Contavam-me as suas proezas e meiguices quase como se falassem de um neta mais nova.
Daqui |
Foi uma época complicada para toda a família.
E para a nossa cãzinha mais fofa também: passou a ficar todo o dia sozinha em casa. Não me lembro se o meu marido de vez em quando dava um salto a casa à hora de almoço. Só que, nessa altura, já ela estava com os problemas de saúde que advinham da sua idade avançada.
Sofri com os seus desmaios, sofri com a sua falta de força resultante de uma anemia, sofri quando tinha que ser internada ficando a olhar-me com tristeza, sofri, sofri muito, mesmo muito, quando aceitámos o que a veterinária nos vinha dizendo, que já não fazia sentido continuar a prolongar-lhe o sofrimento. Chorei como se chorasse a morte de um ente muito querido.
Durante anos não consegui falar dela, tantas as saudades que tinha e tanto que a nossa decisão me tinha pesado.
Por isso, nem queria pensar em voltar a passar por tal situação, achava que não suportaria outro idêntico sofrimento.
A nossa fera derretida com o mimo de um dos meninos |
Depois de algumas tentativas falhadas, fomos ver um peludinho cuja mãe era pastora num monte alentejano. Quando ligámos ao dono, um pastor, mal o ouvíamos, só se ouviam badalos. Apareceu-nos depois, vindo directamente do monte, e tinha um tufo de pelo no banco do carro. Peguei-o imediatamente ao colo e ele logo se aninhou em mim. Amor à primeira vista.
Um Serra de Aires, um puro cão pastor, não tem nada a ver com uma Boxer. É teimoso, irrequieto, tem uma vontade muito própria, é refilão, de vez em quando mostra os dentes (embora cada vez menos), de vez em quando rosna (embora cada vez menos, cada vez mais baixinho, ficando depois a olhar de lado a ver se ficámos zangados) e tem um energia infindável. Mas é uma companhia alegre, é inteligentíssimo e de uma doçura que talvez supere a da nossa querida cãzinha. É-nos de uma total dedicação e tem manifestações de uma tocante ternura. E adora toda a família.
Sei que um afecto assim dificilmente se compreende por quem não tem ou nunca teve um cão. Mas quem já conheceu o amor verdadeiro e incondicional de um cão certamente compreende.
O nosso urso mais fofo agora com o pêlo em vias de ficar igual ao que era antes da tosquia |
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Este vídeo aqui abaixo mostra como são afectuosos estes queridos amigos.
2 comentários:
Ora aqui está um assunto de que gosto mais, realidade, inteligência natural, calor, amor sem limites.
Tem razão, só quem já teve um amor destes poderá compreendê-la.
Toda a vida lidei com cães, mas só quando os tive em minha casa, fazendo parte do agregado familiar, lhes reconheci a sua importância. São seres inteligentes ,meigos, divertidos, capazes de nos compreender na tristeza e na doença, tornando-as mais suaves.
Sofri com a ausencia deles como nem sempre aconteceu com familiares. Ainda hoje sinto saudades do pousar da sua pata na minha mão.
Votos de boa saúde e tempo para viver o seu ursinho poseur, fofo e cheio de personalidade.
Olá Pôr de Sol
É mesmo um poseur, tem razão. Eu chamo-o e digo: 'olha para a dona, deixa tirar uma fotografia' e ele ali fica à espera que eu foque, enquadre, etc. Claro que se, entretanto, passar outro cão ou ouvir ladrar ou ouvir vozes na rua (se estivermos em casa), marimba-se para a pose e lá vai ver se tem que intervir...
Mas, de resto, é uma fofura. E o que ele gosta dos miúdos... Ou quando eles chegam, miúdos e graúdos, a festa que faz... Vai a um, salta, vai a outro, salta, um por um, saúda todos.
E com a minha mãe, por exemplo, mal ela se senta no banco de trás, onde ele também vai, deita-se e põe a cabeça nas pernas dela, para ela lhe fazer festas.
Há um afecto incondicional e inocente. Faz muita companhia, é um amigo presente e activo, legre, meigo. E teimoso... (mas também ainda é pouco mais que um cachorrito...)
Percebo muito bem quando diz que quando nos falta um amigo assim faz-nos sofrer mais do que alguns familiares. Isso é muito verdade.
Saúde e tudo de bom para si e para os seus, querida Sol Nascente.
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